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Narrativa de um servidor em luta: “Entre Xicó e João Grilo: a saga dos servidores do PJU contra o Veto 26/15”

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Entre Xicó e João Grilo: a saga dos servidores do PJU contra o Veto 26/15

Meus colegas, nunca antes na história desse país tivemos tantas dificuldades, tantas reviravoltas para aprovar um projeto de lei que trata apenas de reposição salarial, de uma carreira inerente ao estado, como é o caso do Judiciário Federal.

Essa narrativa visa contar a minha peleja entre as 8:00 da manha do dia 22\09\2015 até as 3:00 da manhã do dia seguinte. Trata-se de uma história de quase vinte horas de risos, de choros, de tensões, emoções, paixões e cujo final feliz ainda está porvir.

Cheguei eu ao Congresso Nacional, precisamente ao Anexo II da Câmara para assistir, como ouvinte, a um simpósio sobre energias renováveis, nem entrei no salão onde o evento se realizava, em que pese estar regularmente escrito no mesmo.

A primeira coisa que fiz foi procurar o Gabinete do meu conterrâneo, o deputado federal Mendonça Filho, líder do DEM. Fui ao seu gabinete no terceiro andar do anexo I, lá fui informado pela alegre e atenciosa secretária que o mesmo iria direto para o Gabinete da liderança do partido, por detrás do salão verde.

Para lá me dirigi onde, uma vez informado que o dep. só chegaria às 14:00, fiquei esperando os colegas da Justiça Federal Felipe Castro, Eraldo Pedrosa, José Mendonça, Eduardo Hollanda e Kelma. Uma vez formada a “Entour”, encontramo-nos com colegas de outros estados.

Deliberamos em conjunto com colegas de SP, PR, DF, RS e PE irmos ao gab. do dep. Rogério Rosso, lider do PSD, que havia gravado vídeo, andando de bicicleta, ao nosso favor. Lá fomos informados pela sua secretaria que o dep. não se encontrava, o que verificamos depois se tratar de uma mentira, pois os representantes das loterias acabavam de sair de seu gabinete.

Decidimos, então, fazer um corredor polonês no corredor que dá acesso ao gabinete do dep. Eduardo Cunha, todos os servidores com placas escritas palavras de ordem contra o veto.

Nesse ínterim, fomos ao Senado, procurar o sen. Eunício. Demo-nos com sua ausência. Encontramos o Sen. Tasso Jereissati, que afirmou não saber se haveria sessão.

Voltamos ao corredor de acesso à Presidência da Câmara, finalmente encontramos o dep. Rosso, o qual nos afirmou que era integrante de um partido da base aliada e que o veto deveria ser enfrentado hoje e, “fosse qual fosse o resultado, deveríamos acatá-lo”.

Foi nesse momento que percebi que as coisas não estavam tão fáceis, que não eram favas contadas, pois, lideranças que antes nos apoiavam, de modo irrestrito, estavam nos deixando de mão.

Finalmente, chega o líder do DEM, dep. Mendonça Filho, o qual afirma: “o nosso partido está fechado com vocês”. Encontro, também, o dep. Pauderney Avelino que reforça o compromisso e nos adverte: “o governo está fechando um acórdão com o PMDB, estão oferecendo cargos e ministérios, tomem cuidado porque o fisiologismo está tomando conta desta casa”.

Diante dessas declarações, vocês hão de imaginar o que se passava no meu pobre coração – dor, angústia e aflição.

Nesse quadro desolador, fiquei batendo atrás de um ou de outro. Para majorar minha má sorte, dou de cara com Gérson Camarotti, da Globo News (pense numa emissora maldita), que afirma categoricamente que o veto será mantido pois o Congresso foi chamado à responsabilidade depois que o dólar bateu a casa dos R$ 4,00.

Enquanto isso, Renata Lo Prete não se faz de rogada e nos esculhamba. Diz que somos irresponsáveis, corporativistas, inconsequentes e que queremos quebrar o Brasil. Fala, irresponsavelmente, em números sem checar a veracidade das informações, além de tisnar a nossa honra e bom nome ao nos chamar de agressivos, mal educados e etc.

O servidor do PJU deveria boicotar a Globo, afinal eles falam o que seus patrões mandam.

Ora, quem já estava tomado pela dor, angústia e aflição, fica possuído pela descrença, pessimismo, sensação de impotência e aquele sentimento de “perdeu, playboy”. Pois é, meus colegas, lá estava eu, perdido como um “náufrago do Titanic”, naquela verde imensidão do salão verde da Câmara.

E quem disse a vocês que o pior não pode ser piorado! Encontro o líder da oposição, o dep. Bruno Araújo.

Conheci Bruno Araújo há muito tempo atrás, não somos amigos, mas não dá para esquecer que a minha mãe foi colega de sala do pai dele, o ex-dep. estadual Eduardo Araújo, nos tempos do ensino médio, na nossa Belo Jardim. Falo com Bruno, que há muito não via, e ele (mais um) afirma o governo manobrou bem e pode garantir a manutenção do veto, mas qualquer que seja o placar, será bem apertado.

O quadro desenhado por Bruno Araújo foi reproduzido por Tadeu Alencar, que apesar de estar ao nosso lado e nutrir grande apreço pela derrubada do veto, sabia que estávamos lutando contra o fisiologismo de alguns.

E, no meio dos escaninhos do Congresso, em seus corredores e reentrâncias, comissionados do Governo, a serviço do governo, da coração valente e da pátria educadora, ladeados por representantes da CUT, isso mesmo – da CUT, atuando contra os servidores e a favor de um governo opressor, fisiológico e assaz corrupto.

Meu Deus, quando teremos bonanza? O Senhor prometeu que, após a tempestade, ela viria!!!!

Vamos à caça de apoiadores da nossa causa, encontramos Daniel Coelho que, enfim, nos dá um alento. Afirmou o deputado que a bancado do PSDB fechou questão ao nosso lado. Fechou questão pela derrubada do veto.

Tínhamos, então, o apoio do DEM e do PSDB.

Mas, como disse Winston Churchill: “war is war”, fomos buscar reforços.

Nessa busca por reforços, Deus mandou seu recado e ele nos foi dado pelas santas mãos do dep. Pastor Eurico – pausa do narrador: esse nobre deputado é um homem de Deus e de palavra, pois, além de descortinar, para nós, as manobras e os instrumentos utilizados pelo governo, ainda colocou oito de nós, inclusive eu, dentro do Plenário.

Pastor Eurico nos deu um “banho de realidade”, falou abertamente, como lhe é característico, de todas as sujeiras e manobras que o governo e o PT estavam fazendo, bem como do sujo papel assumido pelo dep. Sílvio Costa (que encarna o homem em seu estado mais bruto).

Obrigado, Pastor Eurico, o PJU lhe deve muito!!!

E assim, seguimos, como o incrível Exército de Brancaleone, prestigiada comédia de Mario Monicelli, para dentro do Plenário.

Adentramos no plenário, como seleção que vai disputar o terceiro lugar, pois o dep. Silvio Costa sempre que encontrava colegas dizia: “o veto será mantido”.

Silvio Costa, em todo esse processo, merece um parágrafo à parte, o cara consegue defender o indefensável, nenhum deputado do PT faz a defesa que ele faz do governo ao qual serve como vice-líder. Chegava a ser cômico, se não fosse trágico. 

Lá dentro, deixamos de atuar no varejo e partimos para o atacado, foi quando podemos constatar que nada está tão ruim que não possa ser piorado.

Primeiro, causava espécie ver o dep. Leonardo Picciani, que gravou vídeo com o Melqui dizendo-se alinhado à nossa causa, saudado pelos seus correligionários como Ministro da Saúde. Já, os parlamentares de oposição, quando o viam, encenavam um forçado espirro, era: “atchim!” e a resposta automática: “saúde!”.

Encontramos o dep. Expedito Júnior (RO), que nos apoia e nos disse: “o governo irá manter o veto nas duas casas”. O mesmo foi dito pelo dep. Maru (MS), pelo dep. Betinho Gomes (PE), pelo dep. Wolney Queiroz (PE) e pelo dep. José Silva (MG).

O dep. Jarbas Vasconcelos (PE) era mais otimista que muitos de nós, inclusive eu que, apesar de não ter jogado a toalha, encarava uma missão tão árdua como a de novo técnico de time rebaixado. O dep. Daniel Coelho (PE) me ensinou uma gíria: “voto talibã”, é para derrubar tudo, me dizia ele. Carlos Sampaio (SP) e Augusto Coutinho (PE) me disseram estamos fechados com vocês.

Encontrei o Tiririca (SP), que figuraça, e o acusei de estelionato eleitoral. Eu lhe disse: “o sr. Disse que pior do que tá não fica”. Ele retrucou: “eu não sabia as intenções da Dilma”.

Eu tinha doze trabalhos, mas não sou Hércules!

Tudo o que eu tinha para oferecer aos meus colegas de trabalho estava lá: sangue, sofrimento, suor e lágrimas. De repente, eu esbarro no Sen. Álvaro Dias (PR), ele diz, após indagado pelo veto: “o governo manobrou bem”. Logo depois, deparo-me com o Sen. Medeiros (MT), que também nos diz: “tá difícil”. O Sen. José Maranhão, um dos rebeldes do PMDB, afirmou que o veto iria cair. O baixinho Romário (RJ) fechado conosco, ladeado por Magno Malta (ES), não escondiam suas preocupações com as manobras do governo.

Enquanto isso, a votação não tinha sido iniciada e os nossos apoiadores – Caiado, Daniel Coelho, Heráclito Fortes, Moroni Torgan, Magno Malta e outros, discursavam a nosso favor. Contra nós, ele, de novo, Sílvio Costa, ladeado por José Guimarães e Jandira Feghali.

Meus caros, quem é a direita e a esquerda? Não saberei explicar aos meus filhos.

Eu olhava o Congresso e via a fina flor da base aliada, o confiante Humberto Costa, o sarcástico Delcídio do Amaral, o desvairado Sílvio Costa, um obtuso José Guimarães, um risonho Romero Jucá, um Renan, dono da situação.

Em meio a choros, tristeza, decepções – pois é, meus colegas, a geração que acreditou no PT e elegeu Lula em 2002, que cantou: “lula lá brilha uma estrela”, que acreditou na promessa de que “a esperança venceu o medo”, percebeu que tinha sido lograda, enganada, aviltada – lembrava eu de um texto, que não o detenho mais, intitulado “uma flor que nasce no asfalto”, que um antigo “militonto” escreveu (não preciso dizer quem foi, não é?) exaltando o ex-presidente metalúrgico.

Foi quando Deus obrou, na mesma madrugada, o segundo milagre da noite, o anjo utilizado pelo Senhor foi um senador do Amapá, nosso grande defensor Randolfe Rodrigues – aquele homem é um gladiador, dentro de uma arena romana, disposto a enfrentar feras as mais perigosas possíveis, para defender as suas convicções.

Randolfe Rodrigues, lider do PSOL, passou, sozinho, como único senador do partido, a obstruir a sessão do Congresso. E não é que um boi bota uma manada a perder! O gesto solitário, mas corajoso do Sen. Randolfe, foi seguido pelos líderes do DEM, PSDB, PSB, PV, SDD, PPS, PSD e a sessão terminou, sendo encerrada por falta de quórum.

Pois é, meus amigos, esse é o resumo dos fatos ocorridos e por mim vividos dentro do Congresso Nacional.

Que a luz de Jedi nos proteja e que a força esteja com vocês!

Niccolo Marangon, servidor do TRF-5″

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