A coordenadora executiva Elimara Gaia representou o SITRAEMG na conferência “Saúde Psíquica e Trabalho Judicial”, que se realizou ontem (terça-feira, 22), ao longo de todo o dia, no Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília (DF). O evento foi promovido pelo Programa Trabalho Seguro do TST e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), que escolheu os transtornos mentais relacionados ao trabalho como tema do biênio.
O conferencista foi o professor doutor Christophe Dejours , especialista em psicanálise, saúde e trabalho. Ele é professor titular da cadeira de Psicanálise, Saúde e Trabalho do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios, em Paris (França), e diretor de pesquisa na Universidade René Descartes Paris V. Suas áreas de pesquisa são, entre outras, o sofrimento no trabalho, os mecanismos de defesa contra o sofrimento, o sofrimento ético (sentimento de perda da dignidade e de traição aos ideais e valores individuais), suicídio no trabalho e, no sentido contrário, o prazer de trabalhar, a sublimação e suas condições de possibilidade ou impossibilidade e a inteligência no trabalho nos níveis individual e coletivo.
Confira vídeo da conferência:
Confira, a seguir, alguns pontos importantes da fala do conferencista, destacados pela coordenadora do SITRAEMG:
“Ele destacou o assédio no trabalho, dentro do judiciário, a carga excessiva imposta aos magistrados, que causa o esgotamento profissional, além do índice de suicídios entre juízes e servidores, explicando que, muitas vezes, isso é uma patologia da sobrecarga. Alegou que, com a pressão e sobrecarga do trabalho, o magistrado acaba por trapacear e transgredir regras, em busca da eficácia, passando, em consequência, por um sofrimento ético enorme. Afirmou, ainda, que os excessos causados por acúmulo de audiências, cumprimentos de prazos etc. acabam refletindo na sua vida pessoal, com sofrimento psíquico, carga de trabalho além dos limites psíquicos.
Os assombros causados aos magistrados e servidores são a governança por números, que é o gerenciamento regido por números, e o New Public Manegement, caracterizado por sua rigidez.
O conflito de trabalho acaba se revelando, trazendo querelas; o chefe, cheio de sofrimento, acaba diminuindo o seu subordinado.
O assédio está em todo local de trabalho. São graus de fragilização extrema, afirmou o conferencista, acrescentando que, enquanto magistrados fazem seus subordinamos sofrerem. Isso acontece na área hospitalar e em todas as áreas de trabalho. Tem pesquisa em todos os setores.
Ele apresenta alguns princípios para a prevenção e combate ao assédio no judiciário:
-Fazer com que a análise do trabalho esteja no centro da avaliação do juiz;
– Criar espaço de discussão de dificuldades e buscar regras e números a serem atingidos no trabalho, avaliação do trabalho vivo de servidores e magistrados, ajuda mútua, cooperação, vencer o sofrimento ético
– É necessário pensar em não recorrer ao New Public Managetmen, e sim buscar o gerenciamento de cooperação (método de gestão cooperativa). Juntos podemos suportar as dificuldades do trabalho – o trabalho vivo no âmbito da gestão -, trocar ideias e melhorar o trabalho afetivo, construir, aprender com o seu subordinado, e vice-versa, cooperativo vertical.
No final, foi dada a palavra para o Dr. Leonardo Vanderlle, que, preocupado com a súbita e assombrosa legislação do trabalho que nos assola, perguntou ao Dr. Christopher o que fazer diante dessa transformação dos trabalhos no magistrado, resistência x sofrimento ético. Porém, o Dr. Leonardo alegou não saber qual o compromisso que será justo ou não, até mesmo por se tratarem de questões diplomáticas e não saber dar sua opinião, lembrando que a questão da resistência causa um grande sofrimento.
A ministra Maria Helena Mallmann, do TST, fez uma previsão do sofrimento para os magistrados, a partir do mês de novembro, quando passarão a aplicar a nova lei do trabalho, considerada muito prejudicial aos trabalhadores. Essa foi uma preocupação externada também pelo Dr. Leonardo Vanderlle.
O Dr. Christopher finalizou dizendo que tem que haver aceitação da hierarquia. Segundo ele, precisamos compartilhar responsabilidades. Disse, também, que nem tudo que falamos ou fazemos terá acordo dos outros, mas que, mesmo assim, temos que estar preparados para justificar. Terminada a palestra, ele deu autógrafos em livros de sua autoria adquiridos pelos participantes da conferência.”.