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DENÚNCIA: Transposição avança com militarização

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Mais do que uma polêmica a transposição do rio São Francisco gera revoltas, movimentos, campanhas e muito mais, em diversas regiões do país. Mas o governo parece não se incomodar. As obras avançam e, conforme denúncia de Frei Gilvander Moreira, com ajuda do exército, e alertas que lembram mais uma guerra ou epidemia do que uma obra. Confira a seguir: fotos e um relato assinado pelo Frei.

A maldita Transposição avança com a militarização da região
Frei Gilvander Moreira

O trabalho do Exército, em “parceria” com as empresas privadas e suas “máquinas” caminhões, tratores, carregadeiras e operários, fazem avançar as obras da maldita Transposição do rio São Francisco, é o que confirma fotos recentes. A região de Cabrobó, onde inicia o Eixo Norte, e de Itaparica, onde inicia o Eixo Leste , estão cheias de placas alertando e intimidando: ÁREA MILITAR. NÃO ENTRE! SE ENTRAR INCORRERÁ NAS PENALIDADES DO ART. 9O, III, a), b) do CPM. Será que o povo simples da região sabe do que trata tal artigo 9º? E que significa Código Penal Militar?

Há tanques de guerra, soldados de infantaria e barricadas feitas pelo exército para impedir a entrada de pessoas civis, onde as obras estão evoluindo. É preciso cercar e impedir que o povo veja, pois “coisa feia precisa ficar escondida”. Por que não se faz isso sob a luz do sol? Há placas na margem das estradas dizendo: INTEGRAÇÃO DE BACIAS, CANAL DE APROXIMAÇÃO A 2 Km. Por que não dizem transposição? Com um eufemismo evitam usar a palavra certa: TRANSPOSIÇÃO, insana, faraônica e maldita.

Famílias estão sendo despejadas de suas casas e alojadas em cubículos na periferia de cidades. Um senhor, já de idade, após ser colocado em um casebre na periferia de Cabrobó, permaneceu sentado em um toco durante mais de 8 horas, de cabeça baixa. Tomado por uma profunda desolação, ficou sem saber o que fazer. Quedou paralisado. É muito difícil para qualquer ser humano perder a sua identidade. Podemos imaginar a tristeza desse senhor, arrancado de sua casinha, onde nasceu e viu seus filhos nascerem, agora jogado na margem da cidade, como uma bananeira deixada no asfalto.

Uma área muito grande já foi desmatada. As crateras para a construção de lagoas artificiais e canais estão cada dia maiores. Isso acontece sobre terras indígenas e quilombolas, protegidas pela Constituição de 1988. A riqueza da biodiversidade da caatinga está sendo dizimada. Montanhas de lenha vão virar carvão!

CATTERPILLAR, TOYAMA, GENERATOR, CÔNSUL, ROSSETTE e RECOLAST são algumas das empresas que já estão lucrando com a transposição, ao lado das empreiteiras e latifundiários que têm suas terras valorizadas. O nome destas empresas aparece nas fotografias de janeiro de 2008.

Entre os dias 25 e 27 de fevereiro de 2008, representantes de 93 movimentos populares e organizações sociais, e mais 213 participantes , realizaram em Sobradinho (BA), a Conferência dos Povos do São Francisco e do Semi-árido. Nesse encontro tornaram públicas as discussões e as decisões de continuidade das lutas pela vida do Rio São Francisco e do Semi-árido brasileiro, contra o Projeto de Transposição, ao mesmo tempo em que conclamam a adesão e a solidariedade de todos e todas. Cf. CARTA DE SOBRADINHO em www.cptmg.org.br e em www.gilvander.org

A barragem de Sobradinho está apenas com 22% de sua capacidade. Em fevereiro/2007 estava com 96%. Mais de 9 meses de seca no Norte e Noroeste de Minas e na Bahia, o avanço da monocultura do eucalipto, a dizimação do cerrado, o agronegócio irrigado, o assoreamento, entre outras causas, estão matando o Velho Chico. O Jornal Nacional da TV Lobo mostrou, outro dia, um motoqueiro atravessando o rio São Francisco, em Propriá/SE, de moto.

É hora de reforçarmos a luta contra a maldita Transposição, em defesa de uma revitalização autêntica e em prol de um projeto de Convivência com o Semi-árido.
Belo Horizonte, 01/03/2008, enquanto cai uma chuva abençoada.

Frei Gilvander Moreira, e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br

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