Conforme amplamente divulgado pela imprensa e registrado pelo SITRAEMG (confira AQUI), o governo conseguiu uma vitória bastante expressiva na última segunda-feira, 10, com a aprovação na Câmara dos Deputados, em primeiro turno, da PEC 241/16, que prevê o congelamento dos gastos públicos (com educação, saúde, outros serviços públicos e salários dos servidores) por 20 anos. Foram 366 votos a favor, 111 contra e duas abstenções. Dos 53 deputados mineiros (todos compareceram e votaram), somente 11 disseram “NÃO” à proposta do governo.
Para um presidente que assumiu o Executivo graças ao processo de impeachment que derrubou sua sucessora, por má administração, e a uma avalanche de denúncias de corrupção generalizada recaindo sobre os sucessivos petistas, Temer subestimou a memória do povo brasileiro ao armar, no último domingo (9), um megabanquete, a um custo de mais de R$ 150 mil, para afagar os deputados da base governista, assegurar os votos de cada um deles e alcançar a vitória acachapante no dia seguinte. E aí fica a dúvida: será que os gastos para tal intento se resumiram à “cortesia gastronômica” ou tem mais dinheiro público envolvido nessa articulação com os parlamentares governistas?
Essa vitória de Temer induz o povo brasileiro a se lembrar da votação que garantiu a aprovação da PEC que deu origem à Emenda Constitucional nº 41/2003, primeira reforma da previdência promovida pelos governos petistas.
Leia, a seguir, depoimentos do coordenador geral do SITRAEMG Alexandre Magnus e da filiada Eliana Leocádia, presidente do Conselho Fiscal. E, depois, a íntegra do artigo sobre o referido banquete de Temer aos parlamentares, publicado no site Diário do Centro do Mundo:
“Comparando a organização do banquete para aprovar a PEC 241, me lembrei do primeiro ano do Governo Lula quando seus ‘assessores’ organizaram o famoso mensalão (nome usado em decisão do STF) que prejudicou os nossos aposentados com a taxação de 11%” – Alexandre Magnus, coordenador geral do SITRAEMG
“O banquete oferecido pelo presidente Temer, pago pelos cofres públicos, um dia antes da votação, em 1º turno, da PEC 241 na Câmara dos Deputados é uma vergonha nacional. Vergonha potencializada pelo fato de ser realizado em tempos de crise reiteradamente noticiada, além do fato de ocorrer concomitantemente com a possibilidade iminente da diminuição ou retirada de direitos valiosos da classe trabalhadora” – Eliana Leocádia, presidente do Conselho Fiscal do SITRAEMG
ARTIGO
“Que tipo de governo paga um banquete para aprovar uma PEC de gastos públicos?
Por Kiko Nogueira
Não há problema de comunicação capaz de ser resolvido pelo governo Temer.
Ele não é apenas ilegítimo, mas absolutamente incapaz de ver as contradições em que recai constantemente, sobretudo pela incompetência e pelo fato de que, como chegou ao poder através de um golpe, não é necessário dar satisfação de nada.
Que sentido há em organizar um banquete com dinheiro público para tentar garantir a aprovação de uma PEC que limita os gastos públicos?
Não havia um idiota para levantar essa questão quando algum outro idiota teve essa ideia? Quanto custou a “recepção”?
A assessoria se recusa a abrir, obviamente. Mas façamos uma conta de padaria (com todo o respeito aos padeiros).
Eram cerca de 500 convidados no Palácio do Alvorada. Os deputados foram com seus “familiares”.
O cardápio incluiu carne com risoto de funghi, salmão, salada e massa. Mais o vinho — em torno de 80 reais a garrafa, segundo um ex-funcionário do cerimonial.
Dois economistas, José Márcio Camargo, da PUC-RJ, e Armando Castellar, da FGV-RJ, fizeram exposições com power point.
Acrescentemos a passagem dos dois, acompanhados, o hotel, e o aluguel do equipamento para o show dallagnolesco.
Por baixo — por baixo —, a coisa saiu em torno de 150 mil reais. E não estou computando o vallet, por exemplo, e outros custos marginais.
A boca livre teve selfie com Marcela Temer e discurso do marido. “Todos nós precisamos revelar que nós temos responsabilidade, porque todos nós estamos cortando na carne”, disse ele, enquanto os apaniguados metiam a faca no peixe.
Os parlamentares estavam “dando o exemplo” de estar em Brasília num domingo à noite, “algo que geralmente não costuma ocorrer”, apontou. Como se aquilo fosse algum sacrifício cívico e não uma mordomia a mais.
No dia seguinte, Temer viria com uma chantagem explícita. Em entrevista à rádio Estadão, ameaçou com aumento de impostos se a proposta não passasse. “Nós estamos fazendo tudo, você percebe, para não falar em recriar a CPMF”, afirmou.
Ao final da festança, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, arrematou: “O Judiciário brasileiro tem a absoluta noção da responsabilidade histórica desse momento que vivemos”.
Embora o Brasil já tenha virado uma piada, esse bando será sempre capaz de nos surpreender.”