Professor do IFSP ressalta o caráter ambíguo das crises econômicas que geram dificuldades, mas abrem oportunidades para a organização dos trabalhadores para resistirem a esses processos.
A análise de conjuntura sobre perspectiva histórica, com palestra do professor do IFSP e doutor em história pela USP Valério Arcary, abriu os debates do 10º Congresso do SITRAEMG, no hotel Green Hill em Juiz de Fora – MG.
Arcary traçou um panorama histórico do desenvolvimento econômico e social do capitalismo brasileiro nas últimas quatro décadas, levando em consideração o desenvolvimento tecnológico/industrial e a mobilidade social relativa da população. O professor apresentou dados que mostravam as mudanças socioeconômicas e as consequências das politicas neoliberais aplicadas no país desde a redemocratização até os dias de hoje.
O evento conta com o apoio da Bancorbrás, Clarion e Alvo Turismo.
Através da analise dos dados econômicos das décadas de 70 e 80, o professor expos como a industrialização tardia do Brasil em uma conjuntura internacional favorável, e seu reposicionamento na divisão internacional do trabalho, permitiu um crescimento vertiginoso do PIB, que praticamente dobrou a cada década. Esse crescimento favoreceu a possibilidade de uma mobilidade social absolutamente alta, que se referendava essencialmente em um maior nível educacional, e em uma maior qualificação profissional das gerações mais novas em relação a seus pais.
Porém, a partir da década de 90 há uma regressão significativa na industrialização e desenvolvimento tecnológico, que se reflete numa estagnação econômica que só começa a se recuperar nos anos 2000. O nível de desigualdade social no Brasil só volta aos números do inicio dos anos 90 em 2010, ou seja, há uma estagnação social que durou por 30 anos. Sem o crescimento econômico significativo, a mobilidade social se estagna a um nível de não mais garantir coesão social.
O professor ainda ressalta que, para compreender o Brasil de 2015, faz-se necessário entender o processo de transição demográfica. A taxa de natalidade caiu vertiginosamente nos últimos 10 anos. “Criou-se uma janela única na historia em que os jovens ainda têm um peso econômico maior que os idosos”, constata. O palestrate explica que, apesar da baixa natalidade, nós temos nesse momento mais da metade da população em idade economicamente ativa, mas que esse é um fenômeno limitado até que esses jovens envelheçam e a pirâmide etária se inverta.
Segundo Arcary, apesar de uma relativa redução da pobreza nos últimos anos, o país permanece muito desigual, isso porque, apesar da disparidade da remuneração entre os trabalhadores assalariados ter diminuído, com o aumento do salario mínimo e estagnação do salário médio, a desigualdade social entre capital e trabalho não mudou e por isso a mobilidade social relativa também não tem apresentado melhorias. Ele cita o exemplo dos setores industriais, em que os 0,1% mais ricos ganham 110 vezes mais do que a média brasileira nacional.
Por fim o professor se voltou a uma analise da atual crise econômica que atinge o país, que é uma consequência direta da crise mundial aberta em 2008. E da forte tendência do empresariado nacional em pressionar os governos para que se direcione o ônus da crise para os trabalhadores, com diminuição de direitos, ajustes fiscais e com projetos que precarizam o emprego, com o PL4330 das terceirizações. Tudo isso com o objetivo de que o governo economize recursos para manter em dia o compromisso com os credores da dívida pública, mesmo sobre a perspectiva de resseção econômica. Em consequência disso, vemos várias obras de infraestrutura parada, principalmente as do PAC, e uma verdadeira estagnação da indústria.
Nas palavras do professor, a consequência de tudo isso é que “o humor da sociedade brasileira mudou” e a instabilidade governamental é alta. Pela primeira vez, há uma situação no Brasil em que um presidente recém-eleito tem mais de 50% de desaprovação de seu governo. O que abre debates políticos onde eles não costumavam existir, com uma verdadeira polarização da sociedade.
O professor aponta que, apesar das perspectivas pessimistas para a economia, é possível pensar em uma saída positiva para isso, com a organização sindical dos trabalhadores e a preparação de uma agenda de lutas unitária das diferentes categorias.