A reportagem vergonhosamente tendenciosa da Globo sobre a Reforma Administrativa

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A reportagem sobre a Reforma Administrativa que foi ao ar pela edição dessa segunda-feira (10) do Jornal Nacional foi o mais clássico exemplo da tendência liberal e anti-serviço público de toda a chamada grande imprensa brasileira. Aliás, este tem sido o grande dilema do Grupo Globo, Estado de São Paulo, Folha, Veja e afins – SBT, Record e Bandeirantes não contam, pois por outros motivos “fecharam questão” com o projeto Bolsonaro – em suas coberturas diárias da política nacional: por um lado condenam as atitudes intempestivas do presidente da República; por outro, defendem fielmente a pauta do ministro da Economia, Paulo Guedes.

A reportagem da TV Globo (confira AQUI: está entre 39’49” e 44’43”) já lança todas as suspeitas incontestáveis à intenção manifesta de defender a Reforma Administrativa como solução para melhoria dos serviços públicos, pelas próprias fontes que elegeu: o Fundo Monetário Internacional (FMI), organismo internacional que atua nos diversos países para oferecer empréstimos com exigência aos governos da aplicação mínima do que é arrecadado em impostos no setor público e, assim, garantir lucros exorbitantes para os grandes grupos empresariais, sobretudo do sistema financeiro; o Instituto Millenium, que nada mais é do que um poderoso escritório de advocacia encarregado de prestar consultoria e ditar políticas de governos afinada com pauta liberal (ou neoliberal); a Oliver Wyman, uma empresa norte-americana de gestão com mais de 60 escritórios espalhados pela América do Norte, Oriente Médio, Europa, Ásia-Pacífico e no Brasil, também atuando em defesa da pauta neoliberal; e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ), que, embora se diga defensor de serviços públicos de qualidade, foi um dos principais idealizadores da Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos por 20 anos, e é o principal defensor da Reforma Administrativa. Que, ao contrário do que tentam fazer crer o próprio Maia e demais parlamentares dos espectros de direita e extrema-direita do Congresso Nacional, já se encontra em plena tramitação no Senado Federal, através do chamado Plano Mais Brasil ou PECs 186, 187 e 188/2019.

Com dados e depoimentos vindos dessas fontes, o que esperar em termos de conteúdo da reportagem? Totalmente favorável à Reforma Administrativa, utilizando estratégias de comparações que jogam a população contra os servidores públicos: que os recursos destinados ao pagamento dos salários dos servidores são maiores do que os destinados à educação, saúde, saneamento e outros; e que os salários no serviço público são muito mais altos do que os pagos para as funções equivalentes na iniciativa privada. Omitem da população informações fundamentais como as de que as verbas da educação, saúde, saneamento etc. já incluem os gastos com os salários de seus respectivos servidores, e que os serviços públicos não existem por si mesmos, mas somente se houver seus prestadores, que são os servidores. Por fim, alegam que é preciso haver uma reforma para acabar com a desigualdade social e entre os próprios trabalhadores dos setores público e privado, e que a proposta contemple a diminuição dos cargos, salários e servidores, permita a contratação temporária no serviço público e acabe com as promoções automáticas por tempo de serviço e com a estabilidade.

Na reportagem, não se vê nenhuma informação ou depoimento dos próprios servidores públicos ou de representantes de entidades sindicais ou associativas dos trabalhadores. E em momento algum é proposta uma discussão ampla, mas honesta, com o objetivo real de melhorar o serviço público. Claro, isso requer um rearranjo das fontes arrecadatórias dos governos, o que passaria, inevitavelmente, por redução drástica do percentual do orçamento destinado ao pagamento dos juros da dívida pública, até que se faça uma auditória dessa dívida; taxação dos lucros dos bancos, das grandes fortunas e dos dividendos pagos pelas S/A, como a Vale do Rio Doce; cobrança das grandes dívidas; e o aumento da fiscalização sobre os grandes sonegadores de impostos.

Mas essa proposta para os serviços públicos a Globo e a chamada grande imprensa jamais irão fazer. Mesmo porque eles são beneficiários diretos dessa política (neo)liberal.

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