A noite desta sexta-feira (25) da XX Plenária Nacional Extraordinária da Fenajufe foi dedicada a lembrar o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado no último domingo, 20 de novembro. O painel “Racismo no serviço público”, que contou com a participação, como debatedores, da jornalista e doutoranda em Comunicação na Universidade de Brasília (UnB), Kelly Quirino; e do professor da pós-graduação do Departamento de Sociologia da UnB e ex-diretor da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), Mário Teodório, fez uma reflexão importante sobre o mito da democracia racial, desmistificando esse conceito ainda muito usado para esconder o racismo no Brasil. A mesa contou também com a participação dos coordenadores da Fenajufe Helenio Barros e Elcimara Souza; dos diretores do Sintrajud-SP, Flávio Conrado e Maria Helena; e do diretor do SITRAEMG, Célio Izidoro.
Mário Teodoro iniciou a sua fala lembrando um comunicado enviado a vários países, pelas Nações Unidas, em 1970, que perguntava sobre as políticas de ações afirmativas que existiam naquele período. E a resposta do Brasil, que vivia a ditadura civil/militar, foi que o país não precisava adotar ações afirmativas para fazer a reparação histórica com a população negra, porque, segundo o governo, o racismo já teria sido superado. “Era o auge do conceito da democracia racial, em plena ditadura. Mesma época do apartheid na África do Sul. Ainda assim, naquele país havia mais negros nas universidades do que aqui no Brasil”, lembrou.
Sobre os dados alarmantes da violência contra a população negra, especialmente em relação à juventude da periferia, Teodoro apontou que, por ano, morrem no Brasil entre 25 e 30 mil negros, sendo boa parte pelas mãos das forças de segurança do Estado. “A Guerra do Vietnã matou 52 mil jovens em 10 anos. No Brasil, a cada dois anos perdemos uma Guerra do Vietnã na população negra”. Em relação à diversidade, o professor explicou que o Brasil é um país diverso, com uma população descendente de vários países, mas, ao mesmo tempo, essa diversidade foi transformada em desigualdade. “Foi criado um filtro e esse filtro chama-se racismo”.
A jornalista Kelly Quirino evocou o legado de Zumbi dos Palmares para ressaltar a importância do Dia Nacional da Consciência Negra para os movimentos negros. Uma data que, em contraponto ao 13 de maio (abolição da escravatura), veio para marcar a resistência e de luta do povo negro contra o racismo e a desigualdade.
Funcionária do Banco do Brasil, em Brasília, a jornalista contou uma história vivenciada por ela recentemente, para explicar o problema do racismo institucional e no serviço público: a gerente da agência em que trabalha a repreendeu por ela usar um turbante durante o expediente. “Me senti agredida por não poder expressar a minha ancestralidade e identidade de mulher negra que sou”, disse Kelly, desconstruindo o mito da democracia racial.
Ainda segundo ela, as ações afirmativas implementadas na última década, embora não tenham sido suficientes para resolver o problema da desigualdade racial, foram fundamentais para melhorar o acesso à universidade, por exemplo, e para incentivar a autodeclaração das pessoas pardas, que até décadas atrás tinham vergonha de assumir sua negritude. “Pessoas negras que antes se colocavam como brancas, hoje já assumem sua negritude e se colocam como negras. Pensar em ações afirmativas é uma forma de reparar os séculos de exclusão de população”.
Por Leonor Costa/Fenajufe