Enquanto na Câmara as bancadas se movimentam para trocar as lideranças partidárias, no Senado os dois principais partidos de oposição, PSDB e DEM, estão dispostos a “eternizar” seus líderes no Senado. No cargo desde 2001, o senador José Agripino (RN) resistiu à transformação do PFL em DEM e caminha para o nono ano consecutivo à frente da legenda na Casa. Já o senador Arthur Virgílio (AM), que foi líder do governo Fernando Henrique no Congresso em 2002, vai para o sétimo ano na liderança dos tucanos. Atualmente, PSDB e DEM têm 13 senadores cada.
Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), a manutenção de Virgílio e Agripino não significa que a oposição não tenha novos quadros. Na avaliação dele, o Senado tem características peculiares que possibilitam a um parlamentar continuar por tanto tempo como líder partidário.
“Na Câmara as bancadas são maiores e existe a tendência de um maior rodízio. No Senado, as bancadas são menores. O senador é mais autônomo e sua ação individual tem um peso maior”, explica.
O também professor da UnB Octaciano Nogueira afirma que José Agripino e Arthur Virgílio não são líderes longevos por acaso. “Os dois líderes são os mais contundentes, os que mais se pronunciam, os que mais criticam duramente o governo.” “Se eles não forem líderes da oposição, serão o quê?”, indaga o cientista político.
Tradição petista
Contudo, David Fleischer ressalta que também existe rodízio nas lideranças do Senado. “O PT no Senado faz questão de trocar o líder todo ano.” Segundo o professor, a alternância no comando das bancadas é uma “tradição” petista. Em 2008, a liderança do Partido dos Trabalhadores na Casa foi exercida pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Neste ano, caberá ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP) liderar a bancada de 12 senadores. No primeiro governo Lula, Mercadante esteve à frente da liderança do governo no Congresso e no Senado.
Defensor confesso do rodízio na liderança do partido, o senador João Pedro (PT-AM) avalia que o procedimento é “salutar para a democracia interna” da legenda. “Cada partido tem seus métodos. No PT, eu considero a troca positiva. Acaba dando a possibilidade para que outros parlamentares possam exercer a interlocução de bancada”, explica o parlamentar, que é um dos vice-líderes do governo no Senado.
Maior bancada no Senado com 20 integrantes, o PMDB ainda não definiu quem será o líder do partido neste ano. Ainda não há nem mesmo uma data definida para a escolha. Lutam pelo cargo o atual titular, Valdir Raupp (PMDB-RO), e o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan liderou os peemedebistas no Senado entre 2001 a 2005.
Fleischer não vê contradição no fato de os líderes oposicionistas no Senado rechaçarem um terceiro mandato para o presidente Lula, ao mesmo tempo em que permanecem no comando de suas bancadas. “São coisas diferentes. O presidente da República é do Executivo e depende de votação popular. No caso das lideranças no Congresso, que é do Legislativo, a votação não é popular”, ressalta o acadêmico.
O Congresso em Foco tentou falar com os líderes oposicionistas. Nenhum deles, porém, foi localizado até o fechamento desta edição. Senadores do DEM e do PSDB também foram procurados e também não foram localizados pelo telefone celular.
Octaciano Nogueira lembra que o atual líder do governo Lula no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), também foi líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Casa. Para ele, o personalismo da política brasileira é capaz de explicar em parte a razão da não renovação das lideranças da oposição. “As pessoas acabam sendo mais importantes que os partidos”, afirma.
Lideranças na Câmara
Enquanto no Senado a grande indefinição diz respeito à liderança do PMDB, na Câmara o cenário é oposto. O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) permanecerá como líder em 2009 da maior bancada da Casa, com 94 deputados.
Outro líder da Câmara já reconduzido ao cargo em 2009 é o do PP, Mário Negromonte (BA), que liderará 40 parlamentares. O PTB, com 22 deputados, também terá o mesmo líder do ano passado, Jovair Arantes (GO).
No PT, o cenário é de disputa. Até o momento, quatro deputados colocaram o nome à disposição do partido para substituir Maurício Rands (PE) na liderança: Cândido Vaccarezza (SP), Fernando Ferro (PE), Iriny Lopes (ES) e Paulo Teixeira (SP). O partido, com 78 parlamentares, decidirá quem será o novo líder no próximo dia 15 de fevereiro.
Os tucanos na Câmara podem reconduzir, no próximo dia 4, o atual líder, deputado José Aníbal (SP). Contudo, outros dois nomes também devem entrar na disputa pelo cargo: Emanuel Fernandes (SP) e Paulo Renato (SP). O PSDB tem 58 deputados.
No próximo dia 1º, a bancada do DEM escolherá o substituto do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA). O mais cotado para assumir a liderança do partido em 2009 é o deputado Ronaldo Caiado (GO). O parlamentar é dado como nome certo para comandar a bancada, que conta com 57 deputados.
O PR, com 42 deputados, terá um novo líder após três anos. O partido decidirá também no dia 1° de fevereiro quem substituirá o deputado Luciano Castro. Até o momento, disputam a vaga os deputados Sandro Mabel (GO), que liderou o antigo PL entre 2004 e 2005, e José Santana (MG).