Em palestra no SITRAEMG, o frei aponta capitalismo como principal destruidor da natureza e afirma que a população deve ir à Rio + 20 para denunciar destruição e propor ações sustentáveis
Centenas de pessoas, entre servidores, ativistas sociais, militantes de movimentos pelo meio ambiente e sociedade civil estiveram presentes na manhã de 21 de abril, feriado de Tiradentes, na sede do SITRAEMG para ouvir Frei Betto, que proferiu palestra com o tema “Rio + Todos: A participação da sociedade civil na Cúpula dos Povos”. Na abertura do evento, Débora Melo Mansur, coordenadora do SITRAEMG, destacou a importância de construir algo “concreto e propositivo” a respeito do meio ambiente, ao que José Francisco Rodrigues, também coordenador sindical, acrescentou: “nada mais justo trazer essa discussão para a ‘casa da Justiça’”.
O evento foi realizado em parceria pelo SITRAEMG e pelo Jornal O Ecoambiental, tendo como apoiadores o Sindágua-MG, o Sinttel-MG, o NESTH – Núcleo de Estudos sobre o Trabalho Humano, Movimento pela Criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, o CAAPI/Curso de Direito da UFMG, CACS/Curso de Ciências Sociais da UFMG, Escola de Biomassa, Sindicato dos Vigilantes e o Sindicato dos Metalúrgicos de BH e Contagem.
O mineiro Frei Betto, frade dominicano e graduado em Jornalismo, Antropologia, Filosofia e Teologia, abriu sua fala relembrando a Eco 92, conferência realizada 20 anos atrás no Rio de Janeiro e apontando que, ao contrário daquela vez, desta, na Eco Rio + 20, os principais chefes de estado não estarão presentes, “seja pela crise ou falta de interesse mesmo”, presumiu. A falta deles seria uma boa ”desculpa” para fugir da discussão, posto que, de acordo com o frei, o maior degradador do meio ambiente como um todo continua sendo o sistema capitalista. “O planeta já foi prejudicado em 30% em sua capacidade de auto-regeneração. Diante disso, a tendência é buscar outros mundos possíveis, outros paradigmas de sociedade que busquem a biodiversidade e a sustentabilidade”, explicou o palestrante.
“Bem viver” para viver bem
Frei Betto falou das comunidades indígenas para apresentar aos presentes o conceito de “Bem Viver” (sumak kawsay), que já foi, inclusive, incorporado à Constituição da Bolívia. De acordo com o frei, esse conceito inclui premissas como viver bem com a espiritualidade, com outros grupos e com outras espécies, e só é praticado em algumas comunidades aldeadas. “O capitalismo vê a natureza como algo rentável e não a ser preservado. O ‘Bem Viver’ prega viver em plenitude, em uma relação de reciprocidade e respeito com a natureza, uma relação de sujeito a sujeito [igual para igual]”, explicou.
Para o frei, a ideia de natureza “domesticável” acabou com a obrigação de preservá-la, pois, a partir da comercialização dos produtos da natureza, o que importava era o lucro, e não a preservação. Tecnologias foram desenvolvidas para potencializar a exploração do meio ambiente, mas, como frisou o palestrante, nenhuma foi capaz de acabar com a fome, por exemplo: “desenvolvemos uma tecnologia para levar o homem à lua, mas não desenvolvemos formas de colocar comida na mesa de uma criança faminta”, criticou.
“Economia Verde”, uma perversidade disfarçada
O tão falado conceito de “Economia Verde” foi duramente criticado por Frei Betto, que o classificou como “a pior coisa que o capitalismo poderia apresentar ao meio ambiente”. Também chamada de “Serviços ambientais”, termo criado pela Organização das Nações Unidas – ONU, a novidade pretende tratar a natureza como algo administrável, tal qual uma empresa. A ideia seria não deixar a natureza “ao alcance de ‘qualquer um’, pois ela é muito preciosa”, como explicou o Frei.
De acordo com ele, a natureza já teria, inclusive, um preço estabelecido – a impressionante soma de 16 a 54 trilhões de dólares, segundo informações trazidas pelo palestrante. Ele também enumerou dois efeitos nocivos da “privatização” da natureza: “no momento em que a natureza for mercantilizada, seus beneficiários passarão a pagar um preço muito alto pela água, por exemplo; e, além disso, os povos da natureza terão que pagar ‘aluguel’ pelo seu espaço, deixarão de usufruir livremente dos bens naturais – serão civilizados, perderão sua identidade e então morrerão”, calculou.
O povo na “Rio + 20”
Sobre a participação da sociedade civil na Rio + 20, que será realizada em junho deste ano, no Rio de Janeiro, o frei afirmou que nossa missão é ocupar a conferência e denunciar a “Economia Verde”, impedindo que o Brasil adote a ideia e propondo soluções sustentáveis. Frei Betto teme um esvaziamento da conferência, dada a ausência dos grandes líderes mundiais, mas imagina que o governo federal não permitirá que o evento fracasse.
Em se tratando de meio ambiente, a questão da hidrelétrica de Belo Monte não poderia ser esquecida. Frei Betto diz que a forma como a construção da usina está sendo conduzida também precisa ser denunciada, e acredita que o governo brasileiro ainda será surpreendido pela reação indígena à intransigência da União, que, para ele, é incompetente para administrar o impacto do empreendimento. “O governo é progressista em muitos aspectos, mas analfabeto no que tange a cuidar até mesmo dos trabalhadores e da população ao redor de Belo Monte”, censurou o palestrante.