A Fiat adotou novo período de férias coletivas de 10 dias em Betim, na Grande Belo Horizonte, iniciado ontem, envolvendo 800 empregados, medida que, segundo a montadora, foi necessária para adequar o volume da produção às vendas desaquecidas. Pelo mesmo motivo, a fábrica da Mercedes-Benz em Juiz de Fora, na Zona da Mata, vai paralisar novamente a produção, de 23 de fevereiro a 8 de março. As medidas nas duas empresas foi anunciada dias depois que a Federação Nacional das Distribuidoras de Veículos Automotores (Fenabrave) divulgou um crescimento de 9,15% das vendas de automóveis e comerciais leves na primeira quinzena de janeiro, frente aos números do mesmo período de dezembro. De acordo com o presidente da entidade, Sérgio Reze, os dados mostram que a queda foi estancada e que este mês deve voltar à estabilidade.
Em Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, os efeitos da crise financeira, como justificativa das empresas, já levaram a um número histórico de demissões de 2,5 mil trabalhadores que estavam há mais de um ano em serviço no polo industrial da região, conforme balanço divulgado pelo sindicato local dos metalúrgicos. O corte de empregos é o maior desde a desvalorização cambial de 1999, de acordo com o presidente do sindicato, Marcelino da Rocha. No fim da década de 90, foram eliminados 10 mil postos de trabalho na região.
O setor automotivo, puxado pela Fiat, lidera as dispensas, que começaram a aumentar em outubro do ano passado. Para o sindicalista, elas podem ter chegado a quase o dobro dos registros de homologações de rescisões de contratos de trabalho, quando considerados os trabalhadores demitidos que tinham menos de um ano de casa, com acertos feitos nas próprias empresas. Foram 1.637 demissões homologadas no sindicato em outubro, novembro e dezembro de 2008, representando um volume 405% superior às 324 dos mesmos meses de 2008. Na primeira quinzena deste mês, o sindicato homologou outros 274 contratos rescindidos e há mais 599 agendados até o fim de janeiro.
“Os trabalhadores fizeram a sua parte produzindo mais no ano passado e agora estão pagando o preço de uma crise que, efetivamente, não chegou aos cofres das empresas”, diz Rocha. Impulsionadas pela turbulência da economia, as demissões em 2008 somaram 4.702 cortes, 66% a mais na comparação com 2007, o equivalente a pouco mais de 10% da categoria.
Os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim se reúnem hoje com representantes da Fiat e de 14 fornecedores de peças que querem implantar medidas de flexibilização das relações de trabalho, entre elas a redução de jornada e dos salários, banco de horas, suspensão de contratos e a postergação do pagamento da Participação nos Lucros e Resulados (PLR) previsto para o fim de janeiro. O presidente do sindicato disse que a primeira reivindicação dos trabalhadores é o fim das demissões. No ano passado, só a Fiat dispensou 844 trabalhadores, conforme os registros do departamento de homologações do sindicato dos metalúrgicos, o que corresponde a 5% do seu quadro de pessoal.