Acompanhe o Sitraemg nas redes sociais

Encontro Regional Vales do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha: “O problema não está no PJe, mas na forma como vem sendo implantado”, reafirma palestrante

Compartilhe

Assim como no Encontro Regional Norte de Minas, realizado em Montes Claros, em agosto (confira aqui), o economista do movimento Auditoria Cidadã da Dívida Rodrigo Veira de Ávila abriu também o Encontro Regional Vales do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha, na noite da sexta -feira, 13 de setembro, no hotel Pedra Negra, em Governador Valadares (MG), proferindo a palestra “Dívida pública brasileira – impacto no seu salário e na sua aposentadoria”. Estiveram presentes filiados de Governador Valadares e de várias outras cidades da região. Representaram o SITRAEMG Débora Melo Mandur, servidora do TRT, em Belo Horizonte, psicóloga, psicanalista e coordenadora de Relações do Trabalho e Saúde do Sindicato, e Iclemir Costa, servidora aposentada do TRT de Teófilo Otoni e coordenadora regional.

O PJe

Neste sábado, 14, segundo e último dia de mais esse Encontro Regional promovido pelo SITRAEMG, os trabalhos foram reabertos com a palestra ministrada por Débora Melo Mansur sobre “Impacto do PJe na saúde dos servidores”.  Mais uma vez, ela embasou sua fala no resultado de pesquisa realizada pelo Sintrajufe/RS, de setembro de 2011 a janeiro de 2012, junto aos servidores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul. “De certa forma, a situação apontada pela pesquisa assemelha-se com a vivida pelos servidores do Judiciário Federal em Minas” explicou.

Apenas na Justiça Federal havia sido implantado o Processo Judicial Eletrônico (PJe) até o fechamento da pesquisa, o que, de acordo com os seus realizadores, justifica o fato de , exatamente nessa justiça, terem sido apurados os maiores índices de adoecimento e de insatisfação dos servidores em decorrência da atividade laboral. A pesquisa abrangeu servidores dos três níveis de escolaridade (fundamental, médio e superior, e até detentores de títulos de mestrado e doutorado), lotados nas áreas administrativa e judiciária, de 1º e 2º graus, dos diversos segmentos.

A atividade preponderante reclamada pelos participantes, como já dito, foi o PJe, com 46% na Justiça Federal, 26% no TRF (da 4ª Região, com sede em Porto Alegre), e a maioria entre oficiais de justiça. E o PJe chegou em um momento que os servidores, atulhados de serviço, já se desdobravam no trabalho. No quesito “organização do trabalho”, nada menos do que 58,6% dos entrevistados reclamaram do aumento da quantidade de trabalho e 38,4%, não dando conta da demanda no horário de expediente, disseram que acabam levando serviço para casa nos finais de semana. A maioria deles, segundo a pesquisa, em razão da ampliação de atribuições e competências (52,7%) ou ampliação do horário de trabalho (55,5%). “Na última década, houve grande crescimento do trabalho formal no país, o que aumentou também a demanda na Justiça do Trabalho e, consequentemente, a carga de trabalho, mantendo-se estável o quantitativo de servidores. Ainda assim, a mídia espalha a informação de que tem magistrados e servidores sobrando”, reclamou a palestrante, lembrando que o discurso da imprensa faz parte das premissas do famoso Documento 319, por meio do qual o Banco Mundial estabeleceu diretrizes para reformas no Poder Judiciário nos países da América Latina e Caribe visando garantir “segurança jurídica” para investimento de países do Primeiro Mundo na região.  “Querem implantar no Judiciário modelo de gestão empresarial. Mas, como fica o papel justiça social”, questionou Débora Mansur.

A importância das pausas

Voltando aos efeitos da lida dos servidores com o PJe, a coordenadora do SITRAEMG chamou a atenção dos colegas para a importância de se fazerem as pausas de 10 minutos a cada 50 trabalhados. Na  pesquisa do Sintrajufe/RS, 52,2% dos servidores consultados disseram que as fazem uma a duas vezes por dia. Somente 2,4% garantirem que param sete ou oito vezes, enquanto 13,9% admitiram que não fazem nenhuma pausa. “Não é a chefia que pede. É que o servidor não consegue ver os processos se acumulando. Olhem que loucura!”, admirou-se a palestrante. Nada menos do que 47,1% informaram que o PJe lhes obrigam a trabalhar com muita rapidez, e 42,7%, com muita intensidade. “As pausas são fundamentais para a saúde mental e muscular do servidor”, orientou a coordenadora do SITRAEMG.

O excesso de trabalho, aliado ao isolamento do PJe e à exigência do cumprimento de metas contribuem para a deterioração das relações de trabalho. Os servidores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul revelaram na pesquisa que não se sentem respeitados por sua chefia imediata, e a maioria deles se queixa da falta de treinamento.

Em uma avaliação específica do PJe, os servidores da Justiça Federal gaúcha apontaram como as maiores dificuldades na operação desse sistema eletrônico a possibilidade de se cometerem erros, que o motivo dos erros é alternar e copiar dados de outras janelas ou que a razão dos erros é  o cansaço. Revelaram, também, que há dificuldade maior da leitura do processo pelo monitor, pela impossibilidade de marcar o texto e as páginas, pelo cansaço que provoca, dentre outros motivos.

Efeitos negativos das metas

Aí a pesquisa do Sintrajufe/RS indagou aos servidores de sua base: o que mais os motiva e o que mais os desmotiva? Para a primeira indagação, a grande maioria (73,2%) respondeu que é a estabilidade; 65,2%, o salário. Por outro lado, apenas 0,6% apontaram as metas.  Para a segunda pergunta, 45,7% indicaram a falta de possibilidade de crescimento na carreira e 25% se disseram desmotivados pelas metas. “Elas (as metas) não são ruins, são desafiantes. Porém, do jeito que são impostas, só trazem desmotivação. Já a falta de perspectivas na carreira, é porque não existe o plano de carreira. O PCS só dá aumento de salário, enquanto o plano de carreira abre trilhas e caminhos para evolução na carreira”,  analisou Débora.

Entre outras informações, a pesquisa apontou, ainda, grande percentual de servidores acometidos por doenças oftalmológicas, osteomusculares e distúrbios psíquicos, principalmente em decorrência do PJe. Por isso, tornaram-se grandes consumidores de medicamentos como anti-inflamatórios, antidepressivos, ansiolíticos, além de obrigados a freqüentarem consultórios, fisioterapia, massoterapia, acupuntura e outros tipos de tratamento.

“Não é o avanço da idade que mais compromete a saúde, mas o tempo trabalhado, que evidentemente será cada vez maior, e o tipo de trabalho realizado pelos servidores, que será mais homogêneo do ponto de vista da exposição aos fatores críticos para distúrbios de saúde à medida que progride a migração para os aspectos eletrônicos”, conclui a pesquisa do Sintrajufe/RS. “O problema não está no PJe, mas na forma como vem sendo implantado”, reafirmou Débora Melo Mansur, como tem dito em todas as suas abordagens sobre a questão em eventos voltados para os servidores do Judiciário Federal em Minas Gerais.

Compartilhe

Veja também

Pessoas que acessaram este conteúdo também estão vendo

Busca

Notícias por Data

Por Data

Notícias por Categorias

Categorias

Postagens recentes

Nuvem de Tags