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Carta de um Técnico Judiciário ao Brasil

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Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria do Sitraemg.


A quem quiser ouvir – e tiver coragem de escutar. Escrevo esta carta não como quem protesta aos gritos, mas como quem insiste em ser lembrado.

Meu nome é Cleber, seu Técnico Judiciário do Poder Judiciário da União. E como tantos colegas espalhados por este país, vivo entre o dever e a omissão, não a nossa omissão, mas a que nos é imposta.

A injustiça que enfrentamos não se dá em voz alta. Ela é sutil, silenciosa, burocrática. Ela está na estrutura da carreira, nos contracheques, nos organogramas que nos mantêm abaixo, mesmo quando estamos sustentando.

Somos técnicos, mas somos também pais, mães, filhos. Profissionais formados, comprometidos, que movem esse sistema com responsabilidade. Mas a cada ano que passa, mais distante parece o reconhecimento: Há um abismo que não é só financeiro, é moral. E a cada silêncio institucional, ele se aprofunda.

Lembro de Nelson Mandela, que escreveu atrás das grades para dizer que a dignidade não pode ser trancada. E das mulheres que, na Ditadura, escreveram cartas às escondidas para contar ao mundo o que estavam tentando esconder. Nenhum deles escrevia esperando consolo. Escreviam para não permitir que a injustiça virasse rotina.

É isso que esta carta busca: romper a rotina da aceitação.

Não é um desabafo. É uma denúncia serena, feita com a convicção de quem não aceita mais ser parte de uma estrutura que diz defender a justiça, mas que tolera a desigualdade dentro de si mesma.

Escrevo também porque, em tempos de distância e teletrabalho, parar é quase invisível, mas escrever, não. Esta carta é minha forma de greve. É meu corpo presente. É meu nome dizendo: eu existo, e meu trabalho importa.

Dizem a nós que esperemos. Que não é o momento. Mas aprendi que o tempo não cura sozinho, ele só favorece o que é cultivado. E quando a injustiça é cultivada no silêncio, ela se fortalece. Martin Luther King Jr. escreveu que esperar por um “momento mais apropriado” é o caminho mais curto para que nada mude. Não podemos mais esperar.

Se essa carta tocar alguém, que toque. Se se somar a outras, que ecoe. Mas, mesmo sozinha, ela cumpre seu papel: não deixar que o silêncio vença.

Assino com o que me resta: dignidade e esperança.

Clique aqui para acessar a Carta em formato PDF, conforme enviada pelo autor.

Cleber Santos Técnico Judiciário – TRE/MG – Integrante do coletivo Unidos Por Justiça

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