Ao som das vuvuzelas, greve faz Lula receber servidores e confirmar reunião

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Presidente diz em SP que encontro com Peluso acontecerá na quinta, decide levar Paulo Bernardo à reunião e concorda que servidores participem. O ‘barulho’ durou oito horas. Foi um longo dia, embalado pelo som das vuvuzelas e apitos que não deram trégua no coração financeiro de São Paulo. Mas, apesar do cansaço, quem participou da manifestação, que ouviu do próprio presidente Lula que a reunião dele com o presidente do STF será na quinta-feira (1º), voltou para casa ainda mais convencido de que a greve tem que continuar.

“Isso nos dá um novo ânimo”, disse Inês de Castro, que participou da reunião com Lula, integrando a comissão do Comando de Greve de São Paulo, formada ainda por outros dois servidores, Dalmo Vieira Duarte e Tarcísio Ferreira, que foi recebida pelo presidente. “Agora é manter a mobilização para que a reunião de fato aconteça”, defendeu. “Hoje, se não tivesse barulho não tinha reunião [com Lula], se não tiver greve não tem negociação”, avaliou a servidora, que é da Justiça do Trabalho de São Paulo e dirigente do sindicato da categoria no estado (Sintrajud).

A verdadeira ‘maratona’ da greve em São Paulo na ‘perseguição’ ao presidente Lula começou por volta das 11 horas da manhã de terça-feira (29), em frente à Fiesp.

Dentro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Lula recebia o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi. “Viemos aqui para [pressioná-lo] para que ele receba o ministro Peluso e libere o dinheiro para o projeto de revisão salarial”, disse Claudio Klein, dirigente de base do sindicato de São Paulo (Sintrajud) e ex-diretor da federação nacional (Fenajufe).

Depois, os grevistas foram para o escritório da Presidência da República na capital paulista, próximo dali. Sempre fazendo muito barulho, chamavam a atenção da comitiva do presidente e dos jornalistas que cobriam a visita.

Pressão na rua Augusta

Berlusconi também viu e ouviu a manifestação. E, como era inevitável em tempos da Copa do Mundo das vuvuzelas, foi alvo não apenas de críticas políticas, em especial de um grupo de italianos que também protestava, mas ainda de referências irônicas ao fiasco da seleção italiana na África do Sul. 

Diante do ‘barulho’, um assessor da Presidência procurou os grevistas para tentar negociar uma possível conversa entre o presidente e representantes da categoria. Sabe-se que esse assessor chegou a telefonar para a sede da Fenajufe, em Brasília, para ‘verificar’ se os manifestantes que estavam ali seriam interlocutores do movimento grevista nacional. Teria, ainda, feito um infrutífero ‘apelo’ para que as ‘vuvuzelas’ calassem.

Lula só recebeu os grevistas no início da noite, pouco antes das 19 horas. Fez isso antes de se dirigir, a pé, para a livraria Cultura, onde o senador Aluísio Mercadante (PT-SP) lançaria um livro.

Ao que parece, havia uma preocupação de que ao atravessar a rua Augusta para prestigiar Mercadante – a distância entre o escritório da Presidência e a livraria é de poucos metros – houvesse tumultos ou que a manifestação criasse um constrangimento para o presidente.

Existia, ainda, um desejo incontido de que as vuvuzelas silenciassem. A ponto de um dos responsáveis pela segurança de Lula ter, pouco antes de o presidente receber a comissão, pedido ao Comando de Greve que cessasse o barulho quando a conversa começasse.

‘Vou levar o Paulo Bernardo’

Lula confirmou aos servidores que a reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, aconteceria na manhã do primeiro dia de julho, quinta-feira.

Alegou que ela realmente estava marcada para quarta-feira (30), mas que ele teve um problema, sem especificar qual, e que por isso não poderia receber o ministro do STF.

Disse aos servidores, porém, que desconhecia o assunto que estaria na pauta da reunião solicitada por Peluso. Não podia assegurar ser o projeto que revisa o Plano de Cargos e Salários da categoria (PL 6613/2009).

Informado que isso deveria estar na pauta, perguntou se o projeto não se encontrava na Câmara. Os trabalhadores responderam que sim, mas que os deputados condicionavam a votação da proposta a um acordo orçamentário que a contemplasse.

Lula comentou então que assuntos orçamentários passavam pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Os servidores retrucaram que as reuniões com Bernardo também não aconteceram. Diante disso, o presidente afirmou que convocaria o ministro do Planejamento para ir ao encontro com Peluso.

Indagado pela comissão do Comando de Greve paulista se um representante da federação nacional poderia participar da reunião de quinta-feira, disse não ver problemas e que por ele isso poderia sim ocorrer.

A Fenajufe deve consultar a direção do STF para saber se o ministro Peluso também concorda com a presença de representantes da categoria. 

Reuniões desmarcadas

Os servidores não têm dúvida de que a conversa com Lula só foi possível porque a greve ‘perseguiu’ o presidente da República durante todo o dia.

O encontro entre os chefes desses dois poderes da República estava inicialmente marcado para sexta-feira (25), mas acabou adiada para quarta (30) e, depois, remarcada para quinta-feira (1º).

Integrantes do Comando Nacional de Greve já haviam obtido em Brasília a informação, junto ao Planalto e ao diretor-geral do STF, Alcides Diniz, de que a reunião de quarta não aconteceria. Um assessor da Presidência informara ainda que havia incerteza na remarcação para quinta, face aos compromissos do presidente.

A conversa com o presidente dissipou essas dúvidas. Na agenda oficial de Lula constam algumas viagens nos próximos dias que, pelas informações obtidas, aparentemente não devem ocorrer.

A longa jornada de ‘recepção’ ao presidente na capital paulista ainda ‘acompanhou’ Lula na breve caminhada dele à livraria Cultura. Não houve tumulto. Já era noite quando, finalmente, as vuvuzelas silenciaram.

Nesse momento decisivo, a greve cumpria mais uma tarefa, assim resumida por Inês: “O presidente nos recebeu, confirmou a reunião, sinalizou que está disposto a negociar e em nenhum momento levantou objeções ao projeto”. A servidora é uma das muitas ativistas que ajudam a fazer a greve nacional da categoria. No maior fórum trabalhista do país, na Barra Funda, onde trabalha, 80% das varas continuam paradas. O repórter pergunta à servidora: e agora, quais os próximos passos? Continuar a greve até a vitória, responde sem rodeios.

Por Hélcio Duarte Filho,
jornalista do Luta Fenajufe

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