Atualmente, Minas tem dois grande minerodutos que enviam água para outros estados e um ainda em construção mas já licenciado pelo Ibama
Em meio à maior crise hídrica já enfrentada pelo estado de Minas Gerais, o setor da mineração exporta diariamente quase 7 mil litros de água por hora para outros estados por meio de minerodutos. A solução das mineradoras para o transporte rápido de minério de ferro até os portos para exportação tem pesado para a população, que agora está tendo que arcar com os riscos do desabastecimento de água no Estado.
Segundo o jornalista, ambientalista e membro do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH), Gustavo Gazzinelli, independentemente da crise no abastecimento, a utilização dos minerodutos nunca foi a melhor alternativa para o transporte de minério de ferro no país.
“Eu acho que não deveria permitir o transporte de minério por mineroduto porque, na verdade, isso é uma transposição de água a título de transporte. Tudo isso é feito visando o lucro do empreendimento, mas as custas de uma riqueza natural que dever servir à toda sociedade”.
Ele lembra ainda que, durante a implantação do mineroduto Minas-Rio, a população de Conceição do Mato Dentro, na região central de Minas Gerais, cidade de onde parte o maior duto para transporte de minério construído no mundo, estava sem água. “Eu estive no município quando o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] concedeu a licença de operação do mineroduto e a cidade estava completamente sem água. Até a parte baixa de Conceição do Mato Dentro estava com abastecimento cortado. Ou seja, é uma contradição muito grande”.
Ainda segundo o especialista, o mineroduto envia por hora aproximadamente 2.500 litros de água que são despejadas no mar do Rio de Janeiro. Atualmente, essa água não é reaproveitada. O mesmo acontece com o mineroduto Mariana-Ubu(ES), que utiliza mais de 4 mil litros de água por hora.
Atualmente, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), Minas tem somente estes dois grandes minerodutos exportando água para outros estados – o primeiro pertencente à Anglo Ferrous Minas Rio Mineração S.A, e o segundo da Samarco Mineração S.A. Ambos tem várias outorgas publicadas em portarias do governo de Minas para autorizar a utilização de água de rios do Estado.
No caso do Minas-Rio, das outorgas que abastecem o complexo minerário, incluindo o mineroduto, a mais representativa é a que autoriza a retirada de até 0,695 m³/s e cuja captação está instalada no Rio do Peixe. Já as outorgas mais expressivas do mineroduto Mariana-Ubu(ES) têm vazão de 0,278 m³/s, no córrego Santarém, e 0,0944 m³/s, no rio Piracicaba.
Ainda segundo a Semad, há um mineroduto pertencente ao empreendimento Morro do Pilar Minerais S/A em fase de licenciamento junto ao Ibama e que será instalado na cidade de mesmo nome. Esse sistema já possui duas outorgas preventivas vinculadas, mas que ainda não conferem direito de uso dos recursos hídricos e a previsão é de que o consumo de água por hora atinja quase 3 mil litros.
Além disso, existem outros 11 minerodutos que possuem Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF), por se tratarem de minerodutos com extensão inferior a dez quilômetros, sendo utilizados para transporte de minério dentro e entre complexos minerários e que, segundo a Secretaria, não exportam água para outros estados.
Fonte: Portal Minas Livre