Relatório da Polícia Federal com escutas entre os envolvidos no esquema de desvio de dinheiro do banco revela que segurança de boate ligou para o deputado e outros suspeitos.
A Operação Santa Tereza, que desbaratou um esquema de desvio de dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vazou algumas horas antes de ser colocada em prática, segundo escutas feitas pela Polícia Federal. O autor foi o coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo Wilson de Barros Consani Junior, que tentou avisar o deputado Paulo Pereira da Silva PDT-SP), o Paulinho da Força, mas não obteve êxito. Consani acreditava que a ação da PF seria em torno de organizações não-governamentais (ONGs) ligadas a entidades sindicais.
Por volta das 23h de 23 de abril, sete horas antes de a operação começar, Consani recebeu uma informação de que a PF iria agir em torno de pessoas ligadas a sindicatos, mas não sabia do que se tratava. Segundo investigadores, ele imediatamente ligou para várias pessoas, entre elas Paulinho da Força, que não foi encontrado. O coronel reformado tentou falar com parentes do deputado, mas não se sabe se logrou êxito. Conforme fontes da Polícia Federal, outras pessoas foram informadas, inclusive o advogado Ricardo Tosto, então conselheiro administrativo do BNDES e ligado à Força Sindical.
Consani teria feito telefonemas por vários minutos e, inclusive, recomendou, conforme as escutas captadas pela Polícia Federal, que Tosto fosse para um hotel, já que a operação poderia chegar até ele, por causa da sua ligação com a entidade sindical. O temor do coronel reformado tinha razão. O advogado era um dos alvos da investigação, mas policiais suspeitam que pode ter havido destruição de provas. Ao chegar à casa do advogado, os agentes federais encontraram papéis picados, o que deu a impressão que poderia ser uma destruição de documentos que pudessem comprometer os acusados.
O coronel reformado da PM paulista, além de ter forte ligação com a boate WE, do empresário Manuel Fernandes de Barros Filho, está envolvido com os desvios em empréstimos do banco estatal, segundo a PF e o Ministério Público Federal. “Acompanhava as ações da quadrilha e tinha plena ciência dos crimes praticados. Colaborava para a obtenção de futuros financiamentos do BNDES”, explica a procuradora da República Adriana Scordamaglia, no relatório em que denuncia 13 pessoas por envolvimento com as fraudes.
Além disso, junto com o ex-assessor de Paulinho João Pedro de Moura e o empresário Marcos Vieira Mantovani, Consani vinha trabalhando na tentativa de liberação de verba para a Prefeitura de Francisco Morato, na Grande São Paulo. Os negócios em torno da boate WE se restringiam a avisar seus proprietários sobre as ações da polícia paulista nas casas de prostituição. Além disso, as investigações indicam que havia pagamento de propinas para evitar a fiscalização de agentes públicos no local. O telefone celular do coronel estava fora de serviço e o de sua casa, ninguém atendia as chamadas.
Se for comprovada a participação do deputado paulista Paulo Pereira da Silva no desvio de dinheiro do BNDES, ele deverá ser expulso do PDT. “No nosso partido, o princípio ético nos é muito caro. É uma marca nossa, não transigimos os princípios da moralidade e da probidade públicas”, disse, o líder da bancada na Câmara e presidente em exercício da sigla, deputado Vieira da Cunha (RS). Segundo ele, a pena prevista no estatuto da legenda para casos como o investigado pela Polícia Federal na Operação Santa Tereza é a mais severa possível. “A participação de um membro do nosso partido em caso de corrupção, em tese, levaria à pena disciplinar máxima”, destacou.
Admitindo “constrangimento” pela menção de um pedetista num caso de corrupção, Vieira da Cunha convocou Paulinho para uma reunião da Executiva Nacional do PDT — será hoje, às 19h, na sede do partido. Todos os deputados e senadores foram convidados. Na ocasião, o deputado terá que se explicar sobre as informações vazadas do inquérito da PF, em que é apontado como beneficiário do esquema que sangrou os cofres do banco federal.
Servidores
As primeiras análises de documentos apreendidos durante a Operação Santa Tereza, em abril, já indicavam o envolvimento de funcionários do BNDES no esquema de desvio de recursos de financiamentos, que começou em 2004. Além disso, segundo a procuradora da República Adriana Scordamaglia, outros políticos apareceraem como beneficiários. Ela deve pedir a abertura de mais inquéritos para apurar os novos fatos. A representante do Ministério Público Federal não quis falar sobre a situação do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, mas confirmou a existência de documentos que o ligam com pessoas presas na Operação Santa Tereza. “Durante o monitoramento foi citado um Paulinho, que provavelmente é ele”, afirma Adriana, explicando que o nome não aparece apenas nos grampos telefônicos.
Fonte: Portal Uai