“Rico não vai preso nunca”, diz servidora da JT sobre 6 anos de impunidade na Chacina de Unaí

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Parente de vítima, ela expõe indignação de familiares e colegas com a impunidade no assassinato de 4 servidores do MTE que combatiam trabalho escravo

“Rico não é preso nunca nesse país, a impunidade vai sempre existir”. A frase, da servidora Marisa Soares Lage, reflete os seis anos dos assassinatos de quatro funcionários do Ministério do Trabalho em Unaí, cidade do noroeste mineiro a 578 quilômetros da capital do estado, quando atuavam em uma operação de combate ao trabalho escravo. Servidora da Justiça do Trabalho em Belo Horizonte, Marisa é irmã de uma das vítimas da chacina, o auditor fiscal João Batista Soares Lage.

Os seis anos de impunidade no caso que ficou conhecido nacionalmente como Chacina de Unaí foram lembrados com ato público em frente ao Supremo Tribunal Federal, no dia 28 de janeiro. A manifestação foi convocada pelo Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) e contou com o apoio de outras entidades que integram a Frente Nacional Contra o Trabalho Escravo.

Na chacina, ocorrido no dia 28 de janeiro de 2004, foram mortos três auditores fiscais e o motorista do ministério. “ERATÓSTENES, JOÃO BATISTA, NELSON e AILTON foram vítimas da intolerância, da afronta ao Estado, do desrespeito à Lei. Os coronéis de hoje, como os de outrora, acham que podem resolver tudo com a violência”, diz carta distribuída à população. “Justiça lenta não é justiça! Justiça lenta, morosa, é sinônimo de impunidade! Recursos não podem ter por objetivo retardar o julgamento”, diz outro trecho do documento, que garante que a luta por justiça vai continuar: “Não vamos permitir nunca o esquecimento; não vamos desistir de exigir a punição, nunca”.

Sindicato apóia luta por justiça

Viúva de João Batista e também servidora da Justiça do Trabalho em Belo Horizonte, Reginir Lages participou do ato em Brasília e relatou seu sofrimento a jornalistas: “A falta de impunidade deixa um sentimento de impotência. Meus filhos e eu nos sentimos prisioneiros. Só quem vive os bastidores de uma dor pode entender o que digo”, disse.

Para a servidora Marisa Soares, um código penal ultrapassado e aspectos econômicos e políticos impedem que seja feita justiça. “O pobre que matou por dinheiro que é preso, o rico não é preso nunca nesse país. Vai ficar elas por elas, pobre de quem morreu, pobre da família que perdeu a pessoa”, disse à reportagem do SITRAEMG. Nove pessoas foram indiciadas no caso, mas até agora ninguém foi julgado e nenhum dos acusados de serem os mandantes da chacina, fazendeiros e políticos, foi preso.

O SITRAEMG apóia a luta por justiça em mais esse caso de violência contra trabalhadores. “Esses seis anos de impunidade demonstram mais uma vez que a morosidade da justiça protege os poderosos”, critica Célio Izidoro, diretor do sindicato e servidor da Justiça do Trabalho. Na opinião dele, a morosidade no desfecho do processo judicial deixa uma ferida aberta para os familiares das vítimas, que sofrem ainda mais a cada ‘aniversário’ de impunidade.

Por Hélcio Duarte Filho,
jornalista do Luta Fenajufe, especial para o SITRAEMG.

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