XVII Plenária Nacional: trabalho à distância traz mais prejuízos do que vantagens para o trabalhador

Compartilhe

O médico Rogério Dorneles mostra números que relacionam o processo eletronico e o adoecimento do trabalhador (Foto: Janaina Rochido)

A última palestra programada para o primeiro dia da XVII Plenária Nacional da Fenajufe tratou de um tema recorrente entre trabalhadores do Brasil inteiro: saúde e qualidade de vida no trabalho. O médico do trabalho Rogério Dorneles palestrou especificamente sobre “Processo Eletrônico e Teletrabalho”. Dorneles também é assessor de saúde do Sintrajufe-RS.

Numa apresentação dinâmica, o palestrante mostrou slides com números e outros dados que que mostravam as vantagens e desvantagens do trabalho a distância sob o ponto de vista de trabalhador e empregador. Segundo as informações apresentadas na tela, mesmo as aparentes vantagens de se trabalhar a distância são, se vistas de forma mais profundas, desvantagens para o empregado. Por exemplo, os trabalhadores passam a ter o ônus da manutenção do local de trabalho, da alimentação e do transporte.

Outros prejuízos que merecem destaque, apontados pelo médico, são a ausência de separação entre vida familiar e vida profissional, já que o trabalhador fica o tempo todo no mesmo ambiente para as duas coisas; o sedentarismo, já que ele não precisa se locomover entre casa e trabalho; e da alienação e exclusão social, já que, trabalhando em casa, ele deixa de conviver com colegas de trabalho e diminui sua vida social.

Na realidade, segundo Dorneles, ainda há poucos trabalhos científicos sobre o tema, sendo que o que existe a respeito é mais focado em profissionais de comunicação e tecnologia da informação, áreas que requerem mais flexibilidade e mobilidade do profissional. Ainda assim, ele afirma que as empresas não estão apostando nessa modalidade de trabalho – como exemplo, ele apontou que Google e Microsoft, gigantes da internet e da informática, não adotaram esse sistema.

Oficiais de Justiça como grandes prejudicados

No caso específico do Judiciário, Rogério Dorneles lembrou os crescentes afastamentos por LER (Lesão por Esforço Repetitivo), dores e problemas psicológicos e psiquiátricos, todos agravados pela intensificação do trabalho quando ele é realizado a distância. De forma específica, o médico citou os Oficiais de Justiça, grandes prejudicados com essa modalidade de trabalho. Por exercerem sua função fora do tribunal e sem uma supervisão direta, eles são freqüentemente acusados de “não trabalharem”.

Uma pesquisa de 2010, cujos dados também foram utilizados na apresentação, mostrou que os principais sofrimentos dos Oficiais de Justiça são a falta de reconhecimento do trabalho, o desconhecimento da profissão, o sentimento de não pertencimento ao local de trabalho e o sofrimento mental.

Como reagir

Para Rogério Dorneles, o trabalhador só deve aceitar o teletrabalho quando for de interesse dele. Fora isso, é preciso reagir – e a reação passa pela união e pela representação sindical: “os trabalhadores mais explorados são exatamente os que não tem isso ou que o tem enfraquecido, como os terceirizados”, aponta.

Manter viva a idéia do sindicato como representação dos trabalhadores tem grande importância, segundo o palestrante, pois o sindicato, em sua essência, representa solidariedade e apoio ao trabalhador. “É através dele que se pode lutar por direitos importantes como a redução da jornada e pausas durante o trabalho”, conclui o médico.

Janaina Rochido – de São Luís, MA

Compartilhe

Veja também

Pessoas que acessaram este conteúdo também estão vendo

Busca

Notícias por Data

Por Data

Notícias por Categorias

Categorias

Postagens recentes

Nuvem de Tags