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Tragédia no Haiti: Ativistas pedem expulsão de cônsul do Haiti em SP por declarações racistas

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Cônsul disse, sem saber que estava sendo gravado, que “africano tem em si uma maldição”

As declarações do cônsul do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, levaram ativistas do movimento negro no Brasil e membros de religiões de matrizes africanas a manifestarem desejo de vê-lo expulso do país.
A emissora de televisão SBT exibiu gravação em que Antonie, sem saber que estava sendo gravado, diz que a culpa do terremoto que destruiu o Haiti foi do vodu, religião da origem africana, popular naquele país. “Acho que, de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo… O africano em si tem uma maldição”, disse, para logo em seguida avaliar que a catástrofe, que pode chegar a 200 mil mortos, foi boa para o Consulado. “A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido”, disse Antoine, que prosseguiu: “todo lugar que tem africano lá tá foda”.
Ativistas negros se disseram indignados com as afirmações, consideradas racistas e desrespeitosas com todos os afrodescendentes no mundo. Para Silvio Humberto Cunha, diretor do Instituto Steve Biko, “essa declaração demonstra como o racismo não tem fronteiras, as pessoas veem os negros como sub-humanos”. Ele pede que o Itamaraty tome “medidas energéticas” em relação ao caso e conclama o movimento negro a se posicionar.
Para a professora Dayse Oliveira, a declaração é lamentável. “É a desigualdade social capitalista de braços dados com o racismo”, afirma, ao defender a expulsão do cônsul do país. Ela é ativista do movimento negro na Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas), diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe/RJ) e esteve na visita de solidariedade ao povo desse país da América Central em 2007, da qual participaram sindicalistas brasileiros.
Dayse lembra que o povo haitiano fez em sua história uma revolução de escravos vitoriosa, conquistou sua independência e ajudou no processo de libertação da América Latina, mas tem sido vítima de propaganda que demoniza a cultura afro-haitiana, de modo similar ao que fazem com a cultura afro-brasileira: “Tudo que vem do negro é do diabo, é sujo. Só a luta combate esse pensamento. Estive na primeira caravana da Conlutas ao Haiti e vi um povo orgulhoso de ser negro, mulheres e homens lindos, cheios de ternura, lutadores, querendo mudanças. A tragédia é fruto da exploração, da corrupção dos dirigentes, da violenta ocupação das tropas da ONU e não das religiões do povo haitiano”.

Críticas ao governo brasileiro

O jornalista Jânio de Freitas, articulista do jornal “Folha de São Paulo”, também defende a expulsão do cônsul do país, a quem qualifica de “extremado, grosso” e racista. “Esse cônsul impostor de um país de negros agrediu também os negros todos deste país de negritude com origem idêntica à dos haitianos. A única atitude responsável e digna por parte dos dois ministros, Celso Amorim e Tarso Genro, é a expulsão sumária desse George Samuel Antoine, que nem insultou só os negros, mas o Brasil como ‘todo país que tem africano’”, escreveu em sua coluna no dia 20 de janeiro.
O jornalista critica o fato de o governo brasileiro ter se calado diante do ocorrido. “É nenhuma, e deveria ser a maior possível, a providência dos Ministérios das Relações Exteriores e da Justiça diante do que disse o cônsul do Haiti em São Paulo, o branco libanês George Samuel Antoine, a respeito de negros em geral”, lamentou.

‘Imagem criada por Hollywood’

Considerado uma autoridade do culto do vodu no Haiti, Max Beauvoir disse, em entrevista ao jornalista Juliano Machado, da revista “Época”, que a declaração do cônsul é “uma grande estupidez”. Oficialmente, o Haiti teria 80% de católicos e 16% de evangélicos. No entanto, estima-se que o vodu seja praticado por 70% da população.
Para Beauvoir, relacionar o terremoto a possíveis rituais do vodu, como também fez o pastor norte-americano Pat Roberson, é “racismo” e algo que parte de pessoas que não entendem o vodu. “É um sistema de crenças do povo haitiano, representa uma filosofia de vida, baseada no modo como as pessoas se enxergam no mundo. Cultuamos a maneira como a pessoa se relaciona com o Sol, com as estrelas, a Lua e também os animais e as plantas, os outros reinos do planeta”, explica. Segundo ele, a imagem de alguém espetando agulhas em um boneco para desejar algo de ruim para outra pessoa, tão difundida no Brasil, não faz parte do vodu. “No Haiti, conheço de 60 ou 70 houngans [espécie de sacerdote] e nenhum deles pratica esse ritual, isso veio dos filmes de Hollywood”, disse.

Por Hélcio Duarte Filho, jornalista do Luta Fenajufe
(colaborou a jornalista Fábia Corrêa)
Luta Fenajufe Notícias

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