“SALVO-CONDUTO – MP de Bolsonaro dificulta em excesso servidores por erros na pandemia”. Esse é o título de um dos editoriais da edição do jornal Folha de São Paulo desta segunda-feira (18/05), também disponível no portal Folha.Uol (veja AQUI). A MP citada é a de nº 966, editada pelo governo na semana passada com o claro objetivo de livrá-lo de futuras punições por omissão ou por erros de estratégia de atuação no enfrentamento à pandemia do coronavírus. Como temos visto, o presidente da República e sua equipe econômica têm trilhado no caminho contrário da orientação dos organismos internacionais de saúde, que seriam os necessários isolamento social e acolhimento das camadas mais vulneráveis da população, para evitar a disseminação do vírus e o alto número de mortes em consequência da Covid-19 e do aumento da fome.
A maldade da Folha de São Paulo fica patente pois, embora cite “servidores” de forma genérica no título, no interior do texto do editorial relata que os protegidos do presidente da República são “ele próprio (Bolsonaro), família, aliados e corporações do serviço público, em particular policiais e Forças Armadas”. O que, convenhamos, não é nenhuma novidade.
É de amplo conhecimento que Bolsonaro protege seus companheiros das Forças Armadas sempre que tem oportunidade. A começar por preferi-los, aos civis, nos cargos de confiança, em todos os escalões, nos órgãos vinculados ao Executivo. Na Reforma da Previdência, livrou-os de mudanças mais drásticas em suas aposentadorias e ainda os premiou com um generoso aumento salarial. E agora os excluiu do rol de servidores públicos penalizados com o congelamento salarial, por 18 meses, no PLP 39/2020. Pergunta-se: que serviço essencial as Forças Armadas executam no combate à pandemia?
A postura da Folha – assim tem sido do O Globo, Estadão, Veja, Estado de Minas e demais veículos da chamada imprensa comercial- em relação aos servidores públicos beira o cretinismo. Em editoriais e suas matérias, desde que Bolsonaro assumiu o poder, deixam claro o lado “bronco” e ditatorial do presidente da República. No entanto, defendem e apoiam, de joelhos, todas as medidas econômicas tocadas por Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” do presidente, e em especial aquelas que destroem os serviços públicos e retiram direitos dos servidores e todo o conjunto de trabalhadores.
E é esse conflito – entre não gostar do presidente, mas apoiar incondicionalmente as medidas de seu governo nocivas aos serviços públicos e aos trabalhadores – que agora ridiculariza esses veículos de imprensa quando se aproveitam de uma única reunião de Bolsonaro com seu ministério, depois de tantos malfeitos cometidos por ele, para tentarem destituí-lo do poder.
Não é assim que o Brasil vai evoluir. Temos que ler mais, mas de maneira cada vez mais crítica, o que noticia a nossa imprensa. E temos que repudiar todos os ataques que nos dirige, com a intenção de “minar” o serviço público – tão necessário à população, sobretudo às camadas mais pobres – para favorecer o grande empresariado. Só então nos respeitarão.