“ESTOU EM GREVE! Não deixarei os meus companheiros assumirem sozinhos o papel deles e o meu e o de todos aqueles que preferem assistir às mobilizações a distância”, decidiu-se Glades da Cruz Anastácio, servidora da JT em Pouso Alegre, diante da adesão dos bravos colegas de várias cidades à greve pelo aprovação do PCS. Leia, a seguir, a íntegra da carta da servidora direcionada à categoria:
“Prezados Colegas do Judiciário Federal,
Estamos em GREVE!
Uma greve gerada pela postura arbitrária de um governo que nós, servidores públicos federais (na sua quase totalidade), elegemos. Elegemos o Luís Inácio Lula da Silva que, por sua vez, deu cria a Dilma Rousseff.
Ajudamos a construir um governo por acreditar (ilusoriamente) que o seu plano de governo era o melhor para o país. Havia a promessa de não privatização das instituições públicas e a manutenção, ampliação e valorização dos serviços públicos essenciais ao povo brasileiro, dentre os quais o direito à justiça que, sem dúvida alguma, é um sustentáculo para a preservação do Estado Democrático de Direito.
Infelizmente, o atual governo tripudia e “sapateia” sobre a Constituição Federal ao não reconhecer o Judiciário como um dos pontos de equilíbrio da democracia brasileira.
Sentindo isso, e em defesa dos Magistrados, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já pôs em curso uma campanha de moralização e reconstrução da figura dos Magistrados, cujo tema é “Juiz valorizado, justiça completa” (!).
Pergunto: E nós? Quem (re)construirá a nossa imagem já tão deteriorada desde o governo de Fernando Collor de Melo? Quem mostrará para a sociedade a nossa importância?
O povo brasileiro sabe do papel vital do servidor público nos balcões das secretarias e dos foros de atermação, distribuição e protocolo? Nos gabinetes dos juízes ou desembargadores? Nos setores de cálculo, de despachos, dentre outros?
A sociedade brasileira sabe o quanto contribuímos para que o processo judicial ganhe efetividade?
Acredito que a resposta não será positiva. Tanto é verdade que, se o povo brasileiro tivesse tal visão, teríamos também o seu apoio nas nossas reivindicações salariais.
Por isso, caros colegas, temos que vencer o medo de possíveis retaliações, arregaçar as mangas e partir para a luta. Hoje, o nosso mais precioso instrumento de luta é a GREVE. Através dela temos condições de mostrar ao governo que temos valor.
Muitos colegas, numa atitude grandiosa, já abriram caminho para nós, a exemplo dos colegas de Juiz de Fora, que mesmo distantes da capital mineira, estão surpreendendo a todos com mobilizações que chegam a levar para as ruas cerca de 300 servidores (TRT, TRE, MPU e outros). Parabenizo os colegas Alexandre Magnus, Sônia Peres e os demais.
Temos, ainda, o exemplo daqueles que deixaram o conforto de suas casas, o carinho de suas famílias e partiram para Brasília, com mochila e barraca para acampar nas “portas” de um governo que, em resposta, atira-lhes spray de pimenta nos olhos. Mas nada disso os enfraquece. Pode, momentaneamente, retirar-lhes a visão, mas não a determinação de lutar para que todos nós sejamos tratados com respeito e dignidade. Tratamento que toda pessoa humana merece ter, segundo a Constituição Federal brasileira.
E para aqueles que defendem ser de bom agrado o reajuste de 15,8% (com pagamento parcelado em 3 anos), é preciso que saibam que a inflação anual gira em torno de 5%. Logo, essa proposta contempla somente a inflação dos três anos do parcelamento.
E os 6 (seis) anteriores? Quem pagará? Os nossos filhos que ficarão privados de uma alimentação equilibrada, de uma educação decente, do direito de ir e vir por meio de transporte eficiente, de ter acesso à saúde?
Porque “há 6 anos tudo aumenta, menos os nossos salários”. Vejam:
a) A ALIMENTAÇÃO teve um aumento de 59,98;
b) A EDUCAÇÃO teve um aumento de 52,86;
c) O TRANSPORTE teve um aumento de 24,55%;
d) A SAÚDE teve um aumento de 36,66%.
Obs.: dados extraídos do sítio do Sindjus em 25/08/2012.
O que vocês, companheiros, acham? Devemos aceitar a proposta da Dilma ou apoiar os nossos guerreiros – aderindo à greve -, num momento em que o movimento grevista está cada vez mais forte, em franco crescimento?
Não é balela não. Os fatos apontam isso. Vejam:
1- o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal se reuniu com a comissão da Fenajufe para discutir sobre a greve;
2- 13 estados aderiram à greve: Alagoas, Bahia, Ceará, Campinas, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina; e em Assembleia rejeitaram a proposta da Dilma;
3- 5 estados entrarão em greve na próxima semana: Paraíba, Goiás, Amazonas, Rio de Janeiro e Pará;
4- servidores do Rio Grande Norte aprovaram greve de 48 horas nos dias 30 e 31 de agosto, quinta e sexta-feira da próxima semana;
5- servidores do Espírito Santo promovem mobilizações diárias;
6- servidores do STF, em assembleia na quarta (22/08) decidiram aderir à greve por tempo indeterminado deflagrada no Distrito Federal desde o dia 1º de agosto;
7- EM MINAS GERAIS: já aderiram à greve: Juiz de Fora, Ubá, Ituiutaba, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Manhuaçu, Ouro Preto, Teófilo Otoni e a Grande BH (vide sítio do SITRAEMG).
E, então, os próximos seremos NÓS?
Temos que ter consciência de que nada se constrói sem luta diante de um governo de dupla face (uma antes e outra depois de eleito), porque as promessas, tão logo findo o processo de (re)eleição, são esquecidas.
Estamos a um passo de vencer o governo – esse passo só se concretizará com o passo de cada um de nós.
PENSEM BEM! Decidam agora! Depois poderá ser tarde demais.
Eu já pensei e, neste exato momento – às 20 horas do dia 26/08/2012 -, decidi: ESTOU EM GREVE! Não deixarei os meus companheiros assumirem sozinhos o papel deles e o meu e o de todos aqueles que preferem assistir às mobilizações a distância.
Abraços.
Glades da Cruz Anastácio
Atermadora no Foro de Pouso Alegre do TRT, e diretora de base pelo SITRAEMG
