Reunião do Conselho Deliberativo: palestrante defende engajamento dos sindicatos nas lutas de interesse geral da classe trabalhadora

Compartilhe

Ao proferir palestra sobre Conjuntura, na abertura das atividades que marcaram a reunião do Conselho Deliberativo (Diretoria Executiva + Diretores de Base) do SITRAEMG neste sábado, 13/12, na sede do Sindicato, o servidor do TRT Luiz Fernando Rodrigues Gomes, atual diretor de base, ex-diretor e ex-membro do Conselho Fiscal da entidade, propôs abordar o resultado das eleições deste ano e o movimento sindical. Antes de tudo, porém, reivindicou a aprovação de uma moção de repúdio da categoria à postura ofensiva do deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ) ao declarar esta semana, no plenário da Câmara, que não estupraria sua colega Maria do Rosário (PT/RS), ex-ministra dos Direitos Humanos, “por que ela não merece”. “Por que não conseguimos nos indignar (com essa atitude)? A posição de Bolsonaro reflete o perfil do novo Congresso (parlamentares eleitos em outubro), o mais reacionário de todos os tempos. Não vi nenhum sindicato repudiar. Isso é um absurdo. Ele ofendeu todas as mulheres do Brasil”, protestou, frisando que alguns partidos políticos, sim, reagiram: o PT publicou nota de repúdio e, juntamente com o PCdoB, PSOL e PSB, ingressou com ação contra o deputado, na Comissão de Ética da Câmara, por “quebra de decoro”. “Não é a primeira vez que ele faz isso”, advertiu.

IMG_5728
Luiz Fernando Rodrigues Gomes, em defesa do protagonismo sindical: “Além da reforma previdenciária, tivemos uma reforma universitária que nos tirou o direito de pensar. Temos muitas demandas. Temos que lutar por uma reforma política, pela reforma agrária…” Foto: Gil Carlos

O resultado das últimas eleições, na avaliação de Luiz Fernando Rodrigues Gomes, reforçou as bancadas mais retrógradas do Congresso Nacional – dos banqueiros, do agronegócio, “da bala” e outras –, ampliando-as com a criação da bancada “dos parentes”, que são os filhos ou parentes próximos de antigos parlamentares da direita que foram lançados como candidatos porque estes foram impedidos de se candidatarem em razão da Lei da Ficha Limpa. Resultado, segundo o palestrante, de um projeto da direita implantado no Brasil, com o apoio da mídia. A bancada neoliberal propõe o fim do 13º salário, e Jair Bolsonaro, lembrou ele, é um dos expoentes da bancada da bala, que elegeu também o mineiro Edson Moreira (PTN) e trabalhará pela aprovação de projetos que representam grande retrocesso social para o País, como a redução da maioridade penal.

O diretor de base do SITRAEMG também criticou a campanha deliberada da mídia contra o Partido dos Trabalhadores que coloca a legenda de maior expressão da base de apoio do governo como a responsável única pela corrupção no País. “O PT é corrupto. Mas não é o único. Onde tem governo, tem corrupção”, alertou, acrescentando ainda que a Petrobras não é a única empresa pública envolvida em desvios de verba. Enquanto a mídia se concentra nesse denuncismo, outras questões extremamente importantes, mas cujo debate não interessa ao capital, são deixadas de lado. “Por que não discutimos o financiamento privado de campanha? Reclamam da violência, do jovem infrator, mas, por que não mostram o jovem na fábrica?”, questionou. “Estamos sendo vítimas desse sistema político perverso. Para mudar isso, só unindo nossas forças em torno das várias instituições, mas também em torno de nosso Sindicato”, propôs.

O movimento sindical

Para Luiz Fernando, o sindicato foi uma das maiores invenções da humanidade, pois tem o poder de administrar conflitos entre o capital e o trabalho. Tecendo breve histórico do movimento sindical no Brasil, relatou que, embora este tenha se iniciado no final do século XIX, a sindicalização passou a ser permitida legalmente somente a partir de 1931. A resistência do patronato sempre foi muito forte. Durante o governo do marechal Deodoro da Fonseca (1889/1926), por exemplo, a associação empresarial da época, embrião da futura Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), publicou um manifesto contra as férias de 15 dias, então concedida aos ferroviários, sob o argumento de que o tempo ocioso poderia contribuir para a ocorrência de conflitos. O melhor seria os trabalhadores permanecerem no trabalho. À medida que foi crescendo o movimento sindical, no meio rural e urbano, mais conquistas, como a folga remunerada, foram sendo alcançadas. Mas, engana-se quem pensa que foram os governos que “deram” esses benefícios para os trabalhadores. “Não foram. Foram os movimentos dos trabalhadores”, frisou.

Quanto às críticas ao vínculo dos partidos políticos ao movimento dos trabalhadores, ele opinou que (os partidos) são muito importantes para as lutas da classe. “Não é verdade que todos os partidos são iguais, que as pessoas são iguais. Isso é ‘apequenar’ o debate”, criticou, assim como também lamentou que não existe mais o protagonismo do movimento sindical como no passado. “Não se discutiu a questão do Bolsonaro, assim como não se discutiu outras questões desse tipo antes”, exemplificou.

Ele também criticou as brigas internas cada vez mais presentes entre os trabalhadores. As categorias devem se ater a outras questões mais graves. Por que não se indignar, por exemplo, contra aquele juiz que ameaçou processar o porteiro do prédio em que morava porque não quis chamá-lo de “doutor”? “Não são problemas só do Judiciário, mas dos trabalhadores como um todo”, relativizou.

Luta: único caminho para as conquistas

Passando para os debates, o coordenador geral do SITRAEMG Alexandre Magnus manifestou sua preocupação com a ferramenta da greve dos servidores públicos. Há um projeto de lei em tramitação no Congresso que determina a manutenção de 60% do quadro de servidores em serviço durante os movimentos paredistas e ainda classifica os serviços do Judiciário como “serviços essenciais”. “Temos que trabalhar contra esse projeto”, convocou, registrando que, durante as eleições, os servidores mineiros mostraram, sim, que o governo está sucateando o serviço público e o Judiciário. “Independentemente de qual partido esteja lá, estando contra o trabalhador, temos que colocar o ‘dedo na ferida’”, alertou.

O também coordenador Célio Izidoro reclamou que o governo designa representantes dos banqueiros e do agronegócio em seu ministério e se coloca contra o trabalhador. Isso vem desde Lula, com os sucessivos governos sempre do lado da burguesia. “Só temos um caminho para conseguirmos nossos direitos: a luta”, sintetizou.

O filiado e diretor de base David Laudau opinou que os trabalhadores devem defender é as lutas das ruas que não aparecem nas colunas de política da mídia. São esses movimentos que vão render frutos para a classe. São os casos, por exemplo, do “Fora Collor” e das manifestações de junho do ano passado. “Com as grandes lutas contra a ditadura, conquistamos a estabilidade. É essa (política de manifestações das ruas) que a gente tem que assumir”, salientou. “A gente tem força para mudar as coisas e tem gente que ainda não tem consciência disso”, constatou.

A coordenadora Vilma Lourenço disse concordar que as conquistas dos trabalhadores vieram das lutas e que é somente por esse caminho que a classe alcançará as mudanças. Ela aproveitou a oportunidade para lamentar a cooptação da CUT – central sindical com inegável histórico de lutas – pelo governo.

Já Lúcia Bernardes defendeu a valorização dos núcleos de servidores do Judiciário, para que se discutam as peculiaridades de cada segmento. Destacou, porém, a importância da união e da conscientização de todos como “categoria”, saindo do comodismo para abraçarem, de forma engajada, as lutas dos servidores do Judiciário Federal. Alexandre Magnus esclareceu que a criação dos núcleos em Minas foi uma orientação da própria Fenajufe.

Luiz Fernando Gomes encerrou sua participação conclamando os colegas a se unirem pelo fortalecimento do sindicato e em torno das lutas da categoria, mas também das de interesse geral dos trabalhadores e da sociedade brasileira. “Além da reforma previdenciária, tivemos uma reforma universitária que nos tirou o direito de pensar. Temos muitas demandas. Temos que lutar por uma reforma política, pela reforma agrária…”, concluiu.

Compartilhe

Veja também

Pessoas que acessaram este conteúdo também estão vendo

Busca

Notícias por Data

Por Data

Notícias por Categorias

Categorias

Postagens recentes

Nuvem de Tags