O general Raúl Castro, de 76 anos, foi eleito ontem para substituir Fidel Castro na Presidência de Cuba, dando início ao que seria uma nova etapa da revolução cubana para a qual prevê o fim de certas “proibições” e a orientação do irmão nas questões de “transcendência”. O novo primeiro-vice-presidente é José Ramón Machado, outro líder histórico da Ilha. Ricardo Alarcón foi reeleito presidente do Parlamento para um quarto mandato de cinco anos. O segundo-vice-presidente, Carlos Lage, foi mantido no posto.
Os nomes de Raúl Castro e Ramón Machado foram apresentados em chapa única, referendada em votação direta e secreta pelos deputados da Assembléia Nacional. O voto de Fidel foi levado pela ministra da Justiça, María Esther Reus, e escoltado pelo próprio Raúl.
No discurso de posse, Raúl anunciou que começará a “eliminar proibições”, como parte das primeiras medidas de reforma econômica. “Nas próximas semanas, começaremos a eliminar as mais simples proibições, muitas que tiveram por objetivo evitar o surgimento de novas desigualdades num momento de escassez generalizada”, afirmou.
Sem entrar em detalhes, o novo presidente destacou que “a supressão de outras regulamentações (…) levará mais tempo”, já que “exigem um estudo integral e mudanças nas leis”. Raúl pediu ao Parlamento que lhe permita consultar Fidel sobre as decisões de “especial transcendência” para a Ilha e foi aclamado pelos deputados. “Solicito a esta Assembléia, como órgão supremo do poder do estado, que as decisões de especial transcendência para o futuro da nação, especialmente as ligadas à defesa, à política externa e ao desenvolvimento econômico, possam ser submetidas à consulta” com Fidel.
De imediato, Ricardo Alarcón submeteu a proposta à votação e ela foi aprovada por unanimidade. “Assumo a responsabilidade que recebo com a convicção de que, como já afirmei muitas vezes, o comandante da Revolução Cubana é apenas um, Fidel, e todos sabemos disso. É insubstituível, e o povo continuará sua obra, quando já não estiver fisicamente aqui, porque suas idéias permanecerão”, reiterou Raul.
Fidel, de 81 anos, renunciou na terça-feira, depois de 49 anos no poder, devido a uma doença que o obrigou a ceder provisoriamente o comando a Raúl, há19 meses. Durante o discurso, Raúl lembrou a posição de interferência dos Estados Unidos sobre a transição política na Ilha. “Estamos cientes das declarações ofensivas e abertamente de ingerência do império e de alguns de seus mais próximos aliados”, ressaltou.
Raúl telefonou para o presidente venezuelano Hugo Chávez, para saudar o povo e suas Forças Armadas, num claro movimento para dissipar dúvidas sobre sua relação com o líder da Venezuela. Ele aceitou um convite de Chávez para visitar a Venezuela e, em sua mensagem, fez questão de saudar “as gloriosas Forças Armadas venezuelanas, a Guarda Nacional e o Exército bolivariano”.
Horas antes da eleição, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pediu a Cuba que inicie “um processo de mudança democrático e pacífico, libertando todos os presos políticos, respeitando os direitos humanos e criando um caminho claro para eleições livres e justas”. Rice também “convocou a comunidade internacional a trabalhar com os cubanos para a criação das instituições necessárias à democracia e para apoiar a sociedade civil do país”.
Fonte: Jornal Estado de Minas