Nesta sexta-feira (03/03), o SITRAEMG realizou uma roda de conversa com as servidoras do TRT de Belo Horizonte. No encontro, foi debatido “As discriminações impostas às mulheres, e os impactos da PEC 287 (destruição da previdência) sobre elas”. A atividade aconteceu no auditório da Justiça do Trabalho da Rua Mato Grossoe foi mediada pela socióloga Mariana Prandini (mestre em Ciência Política pela UFMG e doutoranda em Política pela New School for Social Research, em Nova Iorque) e contou com a presença da servidora do TRT e delegada sindical, Fernanda Flávia Martins (mestre em Ciência Política pela UFMG).
A abertura do evento foi feita pela coordenadora do SITRAEMG Vilma Lourenço, que também distribuiu o calendário de atividades do 8 de março às presentes. O coordenador Célio Izidoro, também acompanhou a roda de conversa.
Prandini fez uma análise histórica da estrutura patriarcal da sociedade, que naturaliza a violência contra a mulher, e do papel de resistência do movimento feminista para conquistar avanços. Segundo a socióloga, a participação das mulheres na produção de conhecimento e na própria academia é muito recente, começando apenas na década de 30. E boa parte do estudo de gênero só acontece a partir disso.
Mariana Prandini explicou que os papeis sociais de homem e mulher são historicamente construídos, e existe uma relação de poder nessa construção. Segundo ela, a violência contra a mulher é algo constitutivo da sociedade, porque a sociedade foi fundada no marco dessa desigualdade. “Há uma ideologia por trás do discurso que inferioriza as características ditas como femininas, e esse discurso sempre foi utilizado para impedir a conquista de direitos pelas mulheres”, e exemplificou: “afirmar que as mulheres são menos assertivas e passionais serviu como prerrogativa para impedir as mulheres de votarem até o inicio do século XX”.
Ela também afirmou que mesmo entre as mulheres não existem características universais. Existem particularidades e relações de poder dentro do movimento feminista. “A mulher negra, homossexual, trans e indígenas acumulam menos privilégios do que as mulheres brancas de classe média, por isso devemos fazer um exercício de empatia para entender as suas demandas”. Prandini citou como exemplo a esterilização forçada de mulheres negras que aconteceu no Brasil na década de 90.
Sobre a PEC 287, Mariana Prandini ressaltou que a “reforma da previdência do governo Temer” é ruim para todos, mas é pior para as mulheres. “Igualar o tempo de contribuição entre homens e mulheres é um grande ataque, e se baseia em 2 falácias”, afirmou. A primeira delas é que “As mulheres vivem mais que os homens e por isso devem trabalhar até mais tarde”, segundo Prandini, esse dado não é real em números absolutos, pois não leva em consideração a alta taxa de mortalidade entre homens jovens e negros, esse dado faz com que a expectativa de vida absoluta dos homens caia de forma expressiva. A segunda falácia é que “países de primeiro mundo também tem igualado o tempo de contribuição entre homens e mulheres”. A socióloga rebateu esse argumento afirmando que, em países como França e Alemanha, o estado de bem estar social está consolidado, os serviços públicos são de qualidade, existem restaurantes públicos e lavanderias públicas, que amenizam o trabalho do lar, além de uma cultura de divisão de tarefas mais justa. “Essa realidade não pode ser transposta ao Brasil, onde a jornada tripla das mulheres é uma realidade latente”.
Após a intervenção de Mariana, Fernanda Martins expressou a necessidade de união das mulheres e da realidade do machismo dentro dos Tribunais. Fernanda afirmou que mesmo após a redemocratização do país o Poder Judiciário nunca passou por um processo de democratização, e isso faz com que o machismo seja ainda mais difícil de ser desconstruído. Martins também falou sobre a “masculinização das mulheres em cargos de chefia”, e como essas mulheres também reproduzem o machismo para serem aceitas, perseguindo outras mulheres e endossando o discurso machista, “Temos que parar de culpar as outras mulheres pelo assédio que elas sofrem, a culpa não é da roupa ou de seu jeito, mas dos homens que não nos respeitam”.
A coordenadora Vilma Lourenço também falou sobre o fenômeno conservador no mundo, que tem crescido em resposta às pequenas conquistas das mulheres e provado retrocessos. Ela citou o caso Russo, em que foi legalizada a violência doméstica.
Após as falas foi aberto o debate, onde as mulheres presentes relataram casos pessoais de violência cotidiana, no ambiente de trabalho e doméstico, concluindo que é necessário se organizarem cada vez mais no coletivo para vencerem esses obstáculos.