O leilão da segunda usina do complexo do rio Madeira deverá ser realizado no início de maio do próximo ano, segundo o ministro Nelson Hubner (Minas e Energia). Mesmo após todas as manifestações para impedir esse tipo de construção no rio, ele afirma que os preços para a usina de Jirau serão mais baixos do que o obtido hoje para a usina de Santo Antonio.
“Começamos com um teto mais alto para não afastar investidores e o leilão cumpriu o seu papel, que é baixar o preço”, afirmou.
O preço teto para o leilão da usina de Santo Antonio foi de R$ 122/MWh. O consórcio ganhador foi o Madeira Energia, que ofereceu R$ 78,90/MWh.
A aposta vencedora surpreendeu o ministro, que acreditava que o valor ficaria 3% abaixo do valor esperado por técnicos do governo, que era de R$ 101.
Competição
Para Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o preço 35,2% abaixo do teto foi possível porque o modelo do leilão era competitivo. “A tarifa foi baixa porque conseguiu se introduzir a competição, disse ele, após o resultado do leilão.
O consórcio Madeira Energia, formado por Odebrecht (17,6%), Furnas Centrais Elétricas (39%), Construtora Norberto Odebrecht (1%), Andrade Gutierrez (12,4%), Cemig (10%) e um fundo de investimentos formado por Banif e Santander (20%), venceu nesta segunda-feira (10) o leilão da usina de Santo Antonio, a primeira do rio Madeira.
Tolmasquim admitiu que esse consórcio terá uma pequena vantagem em relação aos outros competidores no processo de licitação da usina de Jirau. Isso porque o grupo terá um ganho de escala proporcionado pela logística de levar os equipamentos e trabalhadores para a região do rio Madeira. Esse ganho, porém, não deve impedir a entrada de novos competidores.
“Eu diria que tem espaço para competição, sim. O consórcio Madeira Energia teria quase que duplicar seus esforços [já que as obras ocorrerão quase que simultaneamente]”, afirma.
Ele afirmou ainda que não teme que o consórcio não entregue a obra, já que os investidores fizeram um depósito como garantia no valor de R$ 650 milhões.
Futuro
Segundo Hubner, caso o governo estipulasse um teto mais baixo no leilão de hoje, alguns investidores poderiam perder o interesse e não participar. “Agora a tendência é que os preços da energia caiam no futuro.”
A opinião é compartilhada por Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Para ele, o leilão de hoje sinaliza o preço no longo prazo. “O futuro da energia vai ser mais barato. (…) Vamos ter um preço decrescente”, disse.
Ele lembrou que dois terços da capacidade hidrelétrica no país ainda não é utilizado e que 65% desse potencial está na região Norte. A energia produzida por meio de hidrelétricas é mais barata do que aquela gerada por termelétricas, por exemplo.
O desenho abaixo, feito pela Revista Época, simula a implantação da hidrelétrica:
Veja abaixo a matéria publicada pela BBC Brasil, em Novembro do ano passado.
Hidrelétricas no Rio Madeira preocupam governo boliviano
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Evo Morales
Morales analisa impacto ambiental que hidrelétricas brasileiras podem gerar em seu país
O governo do presidente boliviano Evo Morales analisa o impacto ambiental que a construção de duas hidrelétricas em território brasileiro poderá gerar na Bolívia, e não descarta a possibilidade de pedir “compensações econômicas” ao Brasil para as famílias que vivem às margens do rio Madeira, afluente do rio Amazonas, que atravessa os dois países.
O pedido ocorrerá se os estudos comprovarem denúncias de organizações não-governamentais (ONGs), como a Foro Boliviano de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Fobomade), de que as hidrelétricas Jirau, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Bolívia, e Santo Antônio, próximo a Porto Velho, em Rondônia, vão afetar o rio e os que dele vivem. Seja com inundações ou com a propagação, como denunciaram a legisladores bolivianos, de doenças.
“Estamos extremamente preocupados com os efeitos ambientais, sociais e econômicos que as hidrelétricas poderão provocar na região norte da Bolívia”, disse à BBC Brasil o diretor geral do Vice-Ministério de Bacias e Recursos Hídricos do Ministério de Águas, Carlos Delgado Miranda.
“Mas somente depois de analisarmos o problema com os diferentes órgãos do governo boliviano poderemos conversar com o governo brasileiro”, afirmou, de La Paz.
Quando questionado sobre o que a Bolívia poderá fazer caso sejam confirmadas pelas autoridades bolivianas as denúncias das ONGs, ele respondeu que uma das possibilidades seria o pedido de “compensação econômica” para as famílias. Estima-se que mais de 200 famílias vivam às margens do rio Madeira e seus braços, nos departamentos (Estados) bolivianos de Beni e Pando.
O governo boliviano, contou Miranda, está formando uma comissão especial, integrada por representantes de pelo menos três ministérios, para avaliar o impacto da construção destas hidrelétricas, já que elas serão alimentadas, argumentam nos Ministérios de Água e de Relações Exteriores e Culto, com as águas do rio Madeira, que nasce na Bolívia.
“Tom político”
Nos bastidores do governo brasileiro, teme-se que a discussão ganhe “tom político”, já que ocorre poucos dias depois que a Petrobras foi levada a assinar novo contrato com o país, obedecendo decreto de nacionalização do presidente Morales.
“O rio Madeira nasce na Bolívia, mas foi a Bolívia que procurou o Brasil, nos anos 80, pedindo ajuda para a construção de uma hidrelétrica em seu próprio território”, disse um assessor do governo brasileiro que vem acompanhando a situação de perto.
Em 1986, recordou, os dois governos assinaram um entendimento que não saiu do papel e que previa a construção de uma geradora de energia na Bolívia – de onde partiria o fornecimento para o Brasil.
No ano passado, antes de Morales assumir o poder, os governos dos ex-presidentes Carlos Mesa e Eduardo Rodríguez, lembrou Miranda, assinaram um decreto proibindo a construção de hidrelétricas com águas do rio “Mamoré” (nome do Madeira no lado boliviano).
“Existe a possibilidade de que as hidrelétricas no Brasil não gerem nenhum impacto na biodiversidade da Bolívia”, afirmou Miranda.
“Mas aquela é uma região carente do nosso país e temos que ver como os moradores poderão ser compensados em termos econômico e social caso ocorram efeitos negativos com estas duas hidrelétricas brasileiras”, acrescentou.
Para ele, só mesmo uma “análise fria” da questão permitirá ao governo boliviano saber a “realidade” da situação.
O assunto também vem sendo tratado, quase que semanalmente, na Comissão de Desenvolvimento Sustentável da Câmara de Deputados da Bolívia. Ali, representantes do governo e de ONGs já deram suas versões para os efeitos
destas hidrelétricas, cujas obras estão previstas para começar daqui a um ano.
“34 volumes”
O Ministério das Relações Exteriores da Bolívia pediu ao Brasil uma cópia do estudo do Ibama que já avaliou o caso.
“São 34 volumes em português, negando qualquer prejuízo ao meio ambiente. Mas até que sejam traduzidos para o espanhol teremos, pelo menos, mais uns seis meses de expectativas”, disse o assessor brasileiro.
“A verdade é que essa discussão não faz sentido, porque o curso do rio e a localização das hidrelétricas não afetam a Bolívia”, afirmou.
Especula-se que, dependendo do futuro das discussões, as preocupações do governo boliviano possam provocar atraso nas obras.
O país presidido por Evo Morales não possui carência de energia elétrica. Mas, nos bastidores dos ministérios econômicos, admite-se que poderia se aceitar oferta de construção de hidrelétricas em seu território para vender energia ao Brasil.
A idéia não agrada a diferentes setores do governo Morales, mas seus (poucos) defensores alegam que uma obra deste porte geraria dinheiro para a Bolívia – “como ocorreu com o Paraguai, depois de Itaipu”.
Os que rejeitam tais sugestões afirmam: “Só aquelas duas hidrelétricas no Brasil já vão alterar a ecologia da região, com inundações e doenças, como a malária”.
Nos Ministérios de Relações Exteriores e de Água, afirma-se que a discussão “só está começando” no governo Morales. “Só com mais informações saberemos no que vai dar.”
No total, se discussões de governos passados do Brasil e da Bolívia fossem concretizadas, recordaram assessores brasileiros, existiriam ali quatro hidrelétricas – além de Jirau e Santo Antônio, uma terceira na cidade boliviana de Cachuela Esperanza, às margens do rio Beni, e uma quarta, às margens do rio Madeira, em Guayaramerín, em frente à cidade brasileira de Guajará-Mirim.
Greve de fome contra transposição do Rio São Francisco
Foto: Dom Luiz Cappio, bispo da Diocese de Barra (BA), diz que só interrompe greve de fome quando o governo desistir da transposição do Rio São Francisco
Crédito: www.franciscanos.org.br
Dom Luiz Cappio deslocou-se da sua diocese (Barra, na Bahia), para a capela São Francisco, em Sobradinho (no mesmo estado), onde, em 27 de novembro, retomou o seu jejum (greve de fome) e suas orações em protesto contra a forma autoritária com que o governo federal impõe a transposição do Rio São Francisco sem um debate democrático sobre a viabilidade da obra. Em carta remetida ao presidente Lula, em 4 de outubro deste ano, o bispo reclamou que o presidente não cumpriu o acordo assumido com ele em outubro de 2005, de suspender o processo da transposição e iniciar um amplo debate sobre o projeto com a sociedade. O acordo, à época, suspendera um jejum que o bispo iniciara havia 11 dias.
Ainda na carta ao presidente da República, Dom Luiz Cappio argumenta que já existem propostas concretas para garantir o abastecimento de água para toda a população do semi-árido: as ações previstas no Atlas do Nordeste apresentada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e as ações desenvolvidas pela Articulação do Semi-Árido (ASA). Ele avisa que a greve de fome agora reiniciada só será interrompida com a retirada do exército das obras dos Eixos Norte e Leste e arquivamento definitivo do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. “Não existe outra alternativa”, conclui. Mais informações sobre o protesto do religioso: www.cimi.org.br.
Fonte: SITRAEMG, informações da “Folha on line” e “BBC Brasil”
Foto: Rio Madeira (Wikipédia)