Os chamados grandes veículos da imprensa brasileira, concentrados nas famílias Marinho, Frias, Mesquita, Saad e Civita, além de Silvio Santos, Edir Macedo e outros, figurões do setor que ganharam a fama de “barões” da mídia tupiniquim, sempre deixaram evidente a opção pela preservação dos interesses do capital e do grande negócio em suas linhas editoriais. Na outra ponta, empreendimentos do ramo com orçamentos bem mais modestos surgiram mais recentemente com o compromisso de defender uma pauta mais questionadora do capital, prestigiando, por outro lado, os interesses público e difusos da sociedade, tais como os serviços de saúde, educação e as causas sociais, ambientais e do trabalhador.
Entre estes últimos, inclui-se a revista Carta Capital. Em seu início, a Carta Capital seguiu sim uma proposta editorial mais à esquerda. Contudo, parece ter se perdido a partir da ascensão do Partido dos Trabalhadores ao poder. Não que tenha se desviado completamente de seu viés esquerdista, mas por ter se negado a “enxergar” a mesmice dos governos petistas ao manter o sistema político pragmático do “toma-lá-dá-cá” e não só permitir – mas também participar – de sucessivos esquemas de corrução. Enquanto isso, denunciou, e com razão, a seletividade com que os veículos tradicionais vêm abordando os esquemas envolvendo o PT e os outros partidos historicamente considerados “de direita”. Enquanto estes deram cobertura massiva às mazelas petistas (Mensalão, Petrolão e outros), jogou para debaixo do tapete esquemas como o Mensalão Tucano, a Lista de Furnas, “Metrolão” de São Paulo e outros.
Esperava-se que a Carta Capital mantivesse uma postura distinta dos seus concorrentes tradicionais em relação às questões do trabalhador, mas, dias atrás, deparamo-nos com uma de suas reportagens em que é utilizada a mesma estratégia dos abomináveis barões da nossa mídia. Na iminência da realização de mais uma sessão do Congresso Nacional em 17 de novembro, para a qual estará pautado mais uma vez o Veto 26/15 (veto ao PLC 28/15, da reposição dos servidores do Judiciário Federal), a revista, em reportagem intitulada “Custo Brasil – Judiciário brasileiro: caro e ineficiente” (leia-a AQUI) destaca logo no início uma foto da mobilização dos servidores pela derrubada do veto, com a legenda “O governo vetou. Servidores pressionam”. No entanto, no texto amplo e complexo, com certeza por falta de argumentos convincentes dentro do que se propôs, faz referência à campanha salarial dos servidores em apenas um parágrafo. Os argumentos e dados estatísticos mostrados ficaram por conta dos altos custos do poder judiciário em geral e, principalmente, da remuneração, penduricalhos e outras mordomias permitidos somente aos magistrados e membros do Ministério Público. Mas, de forma venenosa, como fazem os veículos dos “barões”, não deixou de confundir o leitor ao divulgar o quantitativo de pessoal de todo o Judiciário sem explicar a distinção e independência dos orçamentos do Judiciário Federal e das Justiças estaduais, e ao destacar o projeto de lei de reposição salarial do funcionalismo do Judiciário Federal como se beneficiasse também os juízes e desembargadores dos tribunais federais.
Fica claro, na reportagem da Carta Capital, o objetivo de jogar a população contra os servidores, sem informar que estes estão há quase uma década sem reposição salarial e que, diferentemente dos magistrados e membros do MP, não usufruem de 60 dias de férias, auxílio moradia, quinquênios ou quaisquer outras das tantas mordomias citadas no texto. A forma como é abordado o assunto na reportagem suscita algumas considerações. Sabe-se que a mídia tradicional trata com desprezo o servidor público porque não lhe interessam nem o servidor nem o serviço público. Ainda por cima, recebe polpudas verbas oficiais de publicidade para se manter. Quanto à Carta Capital, o que a estaria motivando a se insurgir contra o servidor? A defesa desinteressada, pura, simples e cega dos interesses do governo, com certeza não é. Ou seria o medo – como ocorre com a chamada grande imprensa – de denunciar de forma mais contundente e direta os magistrados? Afinal, é mais cômodo e fácil bater no lado frágil da instituição.
E tem mais: a reportagem atribui ao quadro humano o responsável único pela lentidão e pelos altos custos do Judiciário. Esquece-se de registrar que as infindáveis oportunidades de recursos, permitidas por uma legislação que favorece somente aqueles a quem interessa que a Justiça não seja feita e a burocracia do Estado, fazem esticar por longos anos os processos judiciais.
Triste e lamentável, Carta Capital.
Coordenadores Gerais do SITRAEMG