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Itabira para por empregos

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Itabira, berço da mineração em Minas Gerais, com 105 mil habitantes e a 110 quilômetros de Belo Horizonte, parou ontem para protestar contra o corte de empregos nas minas, consequência da crise financeira mundial. Cerca de 1,4 mil pessoas, segundo estimativa do público feita pela Polícia Militar, participaram do ato público, às 16h, com o comércio de portas fechadas e a liberação dos funcionários da Prefeitura Municipal desde as 13h. O movimento começou tímido logo depois do almoço na Praça Acrísio Alvarenga, no Centro da cidade, de onde os manifestantes saíram em caminhada, às 16h20, até a Praça Laércio Brandão, na rodoviária. Organizadora do protesto, a Frente em Defesa do Emprego e dos Municípios Mineradores, criada por representantes dos trabalhadores na mineração e da comunidade, estimou em 2,5 mil o número de manifestantes, que acabaram deixando as sacadas dos prédios da Avenida João Pinheiro e os pontos de ônibus para acompanhar a multidão que se arrastou por um percurso de um quilômetro.

As demissões alcançam 1.560 trabalhadores das empresas prestadoras de serviços à Vale só em Itabira, além de 90 ex-empregados diretos da mineradora, dispensados entre outubro e esta semana, segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores na indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Metabase) do município. A Vale contesta os números, informando ter dispensado 62 trabalhadores do seu quadro direto na cidade.

Segundo Paulo Soares de Souza, presidente do Metabase de Itabira, com base nas homologações de sindicatos de trabalhadores em todo o estado, em 27 reservas da companhia em Minas 12 mil empregos já foram cortados nas empresas prestadoras de serviços e 3 mil pessoas deixaram o quadro direto de empregados da Vale. A mineradora também contesta esses dados, informando, por meio de sua assessoria de imprensa, ter dispensado 1,3 mil trabalhadores no mundo, dos quais 260 em Minas. A companhia divulgou ter encerrado dezembro com um saldo de 5 mil empregos no Brasil, em comparação aos postos de trabalho mantidos em janeiro do ano passado.

“Além das demissões, a Vale quer flexibilizar direitos trabalhistas e reduzir salários, mas não vamos aceitar”, afirmou Souza. O corte de empregos preocupa a prefeitura e os comerciantes de Itabira, já que a Vale é a maior empregadora no município. A redução da produção que a mineradora anunciou como forma de se ajustar à retração do comércio de minérios no mundo, vai levar a uma queda de R$ 30 milhões, este ano, na arrecadação municipal, de acordo com o prefeito João Izrael Querino Coelho. A cifra representa 20% do orçamento da prefeitura e compromete investimentos previstos de R$ 150 milhões este ano no município.

A situação da família do mecânico Márcio Antônio Quintão, de 40 anos, demitido no último sábado de uma das empresas, é o retrato das dificuldades que a população de Itabira começa a enfrentar. “Se as mineradoras não dão emprego, onde a gente vai conseguir assinar a carteira?”, desabafa, com a experiência de 17 anos de trabalho na mineração. Com a mulher, que trabalha como doméstica, Quintão tem de sustentar dois filhos, de 12 e 18 anos, mas não vê perspectiva de outra ocupação imediata na cidade. Ele foi dispensado com outros 38 colegas da chilena Bailac, especializada na montagem e desmontagem de pneus para equipamentos.

No comércio, as demissões resultaram em 10% de queda das vendas no mês passado, que deveria ser o melhor período de vendas para o setor, informou Maurício Henrique Martins, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Itabira. “Já sentimos os efeitos inclusive em demissões nas lojas, por isso precisamos tentar inibir novas dispensas”, afirmou o empresário. Na própria rede de lojas de Martins – a Cor & Tom, de artigos de vestuário, calçados e presentes, foram demitidos 10 empregados do quadro total de 60 pessoas.

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