III Congresso: Pesquisador da UnB mostra que empresas e trabalhadores divergem sobre o que é qualidade de vida no trabalho

Compartilhe

O III Congresso Extraordinário do SITRAEMG, realizado no Tauá Resort Caeté encerra suas atividades hoje com três palestras que têm, como tema geral, a saúde e a qualidade de vida no trabalho. A primeira delas foi a do pesquisador e professor da Universidade de Brasília (UnB) Mário César Ferreira. A coordenadora de Saúde e Relações de Trabalho do SITRAEMG, Débora Melo Mansur e o coordenador regional Osmar Souto coordenaram a mesa nesta atividade.

O professor Mário César, de pé, e os coordenadores sindicais Osmar Souto e Débora Mansur, durante a apresentação da pesquisa sobre a qualidade de vida no trabalho dos servidores públicos (Foto: Janaina Rochido)

O tema da palestra, “Qualidade de Vida no Trabalho: desafios para o movimento sindical dos trabalhadores”, é atual e possui milhares de resultados na internet, conforme demonstrou o professor. A qualidade de vida no trabalho (QVT) ajuda a diminuir erros, diminui o absenteísmo, a rotatividade – um grande problema no serviço público atualmente, já que os servidores estão sempre se preparando para novos concursos -, as aposentadorias precoces e os suicídios. “O trabalho é um fator edificante na vida, é o que nos afasta dos animais, mas tem se tornado sinônimo de morte”, lamentou Ferreira.

Infelizmente, segundo Ferreira, não há um perfil epidemiológico a nível nacional do servidor público federal, mas sabe-se que as duas principais causas de adoecimento são as doenças psíquicas e osteomusculares (LER/DORT). Outro problema elencado pelo professor como grave no setor público e um desafio para as organizações sindicais é a restrição da criatividade nas atividades – a monotonia leva a um desinteresse ea  uma alienação do trabalhador. “O trabalho ‘emburrecedor’ potencializa o adoecimento”, alertou Mário César.

O palestrante apresentou, para fins de conceituação, as fontes de bem estar e mal estar no trabalho. Dentre as primeiras, estão a satisfação em trabalhar, ver o trabalho sendo útil, ter reconhecimento por ele, boas condições ergonômicas, relações socioprofissionais agradáveis e oportunidade de realização pessoal; no meio das outras, estão as condições de trabalho precárias, desconforto, insalubridade, a organização de trabalho produtivista, que separa concepção de execução, restrições de liberdade e o trabalho repetitivo e padronizado. Nestas, o pesquisador ressalta que a diferenciação entre área meio e área fim também é altamente nociva, pois afasta os trabalhadores: “precisamos bater de frente com essa cultura; quem serve o cafezinho é tão importante quanto qualquer outro funcionário”.

Ao falar sobre as ações em qualidade de vida no trabalho, o professor Mário César disse que, ao contrário do que muitos pensam, não são necessárias ações caras – como exemplo, ele citou o elogio, que gera um enorme bem estar no trabalhador. Atualmente, de acordo com dados de suas pesquisas, o que as empresas entendem como QVT e oferecem aos seus funcionários, apesar de válidas, são ações paliativas e assistencialistas. “Do que adianta oferecer massagem e tai-chi-chuan se nada muda na rotina do servidor? Se não elimina as fontes de desgaste?”, questionou. Se o órgão não realiza mudanças que realmente resolvem os problemas, tem-se um abandono destas atividades pouco tempo depois de iniciadas.

Dentro da exposição do pesquisador da UnB, os trabalhadores têm uma visão diferente do que seria QVT. Segundo os próprios servidores, por exemplo, os dois maiores problemas do serviço público são a organização do trabalho e a falta de reconhecimento pelo trabalho realizado. Nesse sentido, Mário César disse que é preciso uma participação ativa de gestores e servidores para implementar práticas de QVT. E mais: “os sindicatos devem se qualificar para representar estes sujeitos e resgatar as práticas de QVT na perspectiva dos trabalhadores”, sugeriu.

Os questionamentos dos servidores trouxeram este e mais uma realidade do Judiciário Federal para o tema, que é o assédio moral. Esta prática, de acordo com Mário César, vem da falta de preparação e de treinamento para o cargo de chefia e de um conceito da iniciativa privada do que seria chefiar. “É preciso entender que o serviço público funciona sobre bases diferentes”, disse. Uma das ações que poderiam sanar isso seriam a rotatividade dos cargos de chefia e critérios bem definidos para escolher o ocupante do cargo. Quanto a atuação do Sindicato contra o assédio, o pesquisador sugere que os trabalhadores precisam participar mais da entidade e cobrar que ela os represente para além da luta salarial: “o sindicato tem que ser uma extensão do trabalhador”, salientou.

Vale lembrar que o Congresso Extraordinário do SITRAEMG termina neste domingo, 27, e está sendo transmitido em tempo real, pelo site do Sindicato ou pelo link direto. Veja a programação aqui.

Janaina Rochido, de Caeté

Compartilhe

Veja também

Pessoas que acessaram este conteúdo também estão vendo

Busca

Notícias por Data

Por Data

Notícias por Categorias

Categorias

Postagens recentes

Nuvem de Tags