A segunda palestra do último dia do III Congresso Extraordinário do SITRAEMG, que está sendo realizado no Tauá Resort Caeté, foi realizada pela coordenadora de Saúde e Relações de Trabalho do Sindicato, Débora Melo Mansur, que falou sobre saúde do servidor, apresentando a Pesquisa Geral de Saúde de Servidores do Judiciário Federal, conduzida pelo Sintrajufe-RS, sindicato da categoria no Rio Grande do Sul. Ela dividiu a mesa com o jornalista e servidor do TRT de Santa Catarina Caio Teixeira, cujo tema era o Documento 319 do Banco Mundial e suas implicações no Judiciário Federal. A mesa foi composta pelos palestrantes e pelos coordenadores sindicais Raimundo Alves (regional) e Carlos Humberto Rodrigues (executivo, também coordenador da Fenajufe).
Débora abordou o impacto da implantação do Processo Judicial Eletrônico (PJe) na saúde dos servidores, utilizando as respostas de 3.744 servidores, 60% do total de trabalhadores do RS, sendo sua maioria servidores da área judiciária de 1º grau, com curso superior, do sexo feminino e moradores de Porto Alegre, capital do estado. No entanto, Débora Mansur acredita que a pesquisa pode ser considerada quase censitária, pelo número expressivo de trabalhadores que participaram. Ainda, 56,8% dos pesquisados se encarrega da análise de processos e 41,7% são da Justiça do Trabalho – apesar do PJe já estar presente, em maior ou menor escala, nas outras três justiças também.
Ponto a ponto, Débora Mansur mostrou que as pausas durante o trabalho, elemento fundamental para evitar dores e outros danos à saúde, ainda não são feitas em nenhum momento por uma porcentagem relativamente alta dos servidores. Os motivos disso são, entre outros, a própria pressão dos colegas, que enxergam o colega que realiza pausas regularmente como aquele que “enrola o trabalho”, que não rende. “Ficamos no computador pensando que podemos sempre terminar mais um processo e, assim, nos esquecemos de levantar, de tomar água, de ir ao banheiro”, complementou a sindicalista. A coordenadora ainda apontou que as dificuldades levantadas na pesquisa quanto à avaliação do processo eletrônico incluem a impossibilidade de marcar o texto durante a leitura, e que, quanto maior o texto, maiores a monotonia e a dificuldade de concentração.
A pesquisa também revelou que os servidores valorizam a estabilidade e o salário proporcionados pelo serviço público, mas se sentem desmotivados pela desvalorização social – revelada pelo senso comum, que diz que servidores públicos são “marajás” e “um peso” para o orçamento público – e pelas metas a cumprir. De acordo com a palestrante, isso mostra que as metas estabelecidas pelo Judiciário são “irreais”, posto que as metas, quando adequadas, desafiam e impulsionam os servidores.
Pressão para abdicar das licenças
Uma das questões abordadas pela pesquisa diz respeito à discriminação. Dos servidores que declararam sofrer algum tipo de discriminação, a maior parte (2,6%) disse se sentir discriminada por se afastar para tratamentos de saúde. Débora Mansur deu vários exemplos que mostram que existe uma pressão, ainda que velada, vinda da administração e por vezes dos próprios colegas, para que eles não se ausentem. “Por mais que gostem do colega, eles [os outros servidores] acabam pressionando porque sabem que, na falta de um, os outros ficam sobrecarregados, e ninguém quer isso”, disse Mansur.
Sintomas oftalmológicos também foram relatados por um alto número de servidores que responderam à pesquisa coordenada pelo Sintrajufe-RS. Dor e ardência, ressecamento, cansaço e visão embaralhada e desfocada foram relatados em porcentagens além dos 35% especialmente entre trabalhadores da Justiça Federal, onde a digitalização já vem de mais tempo – tudo confirmado pelos acenos de cabeça da platéia do Congresso do SITRAEMG. Débora Mansur disse que algo que poderia evitar isso é o uso de somente um monitor, maior, ao invés de dois, com o PJe utiliza, evitando, assim, as diferenças de luminosidade prejudiciais ao olho humano.
Além dos sintomas físicos, os trabalhadores ainda sofrem com os distúrbios psíquicos, como a depressão e a ansiedade – segundo a pesquisa, os Oficiais de Justiça são os mais afetados por elas. A quantidade de tratamentos e medicamentos usados pelos servidores devido a estas moléstias também impressiona: muitos relataram tomar anti-inflamatórios, antidepressivos, ansiolíticos (ou calmantes) e remédios para dormir. Nesse ponto, a palestrante retomou a importância das pausas e dos momentos de relaxamento para evitar essas doenças e produzir com mais qualidade.
O Congresso finalizará suas atividades com a discussão e votação do Plano e Lutas. Vale lembrar que o Congresso Extraordinário do SITRAEMG termina neste domingo, 27, e está sendo transmitido em tempo real, pelo site do Sindicato ou pelo link direto. Veja a programação aqui.
Janaina Rochido, de Caeté