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Na infância, nossos pais são nossos super-heróis, nosso colo e nossa segurança. São fortes, nos protegem de tudo e quando estamos com eles sabemos que nada de ruim vai nos acontecer.
À medida que o tempo passa, recorremos a eles para nos ajudar com os filhos pequenos, pedimos seus conselhos e nossos baobás continuam lá, firmes e de pé, prontos para nos acolher em nossas fragilidades.
A casa de nossos pais permanece de portas abertas para receber uma ou trinta pessoas, conforme o interfone toca. Todos são bem-vindos e sempre existe lugar para mais um!
Poucas pessoas entendem o privilégio daquele “Deus te abençoe minha filha” e dos braços abertos em nossa direção.
Da mesa da sala vão sumindo os livros e o baralho, dando lugar ao aparelho de medir pressão e aos albinhos infantis com canetinhas fluorescentes e lápis de cor.
É a fase de escondermos as tesouras, facas, alicates e tudo o que representar perigo para os nossos velhos.
O pudor vai dando lugar à confiança, quando percebem que precisam dos filhos para tomarem banho, trocarem as fraldas, tirarem uma camiseta que mais parece uma armadilha nos braços enrijecidos pelo Parkinson.
É quando uma filha dirige, a outra abre e fecha o andador, pega a cadeira de rodas e as duas somam forças para tirarmos nossos pais do carro.
É quando não se lembram se tomaram os remédios, se o banho foi hoje pela manhã ou ontem e durante a noite, não sabem dizer se estão fazendo xixi, porque a “minhoca” sumiu!
Ver meu pai gritar de dor ao fazer exame de próstata e cistoscopia e vomitar no caminho de casa é devastador!
É nessa hora que voltamos a ser mães e leoas, afiamos nossas garras para protegermos nosso pai, agora filho, que tanto precisa de nós!
E ainda bem que ele ainda lembra do nosso nome e do nosso rosto, porque nem sabemos por quanto tempo estaremos em sua memória.
Pai, você trabalhou na roça, tirou leite, fez queijos, curou gado, campeou vacas, consertou cercas, ajudou nossa avó a criar os irmãos mais novos, após a viuvez, foi um exímio motorista nas estradas de terra, levando doentes para a cidade! Sabemos que acordou de madrugada e dormiu com as galinhas e que cuidou e honrou a Ducarmo e suas filhas como quem zela de um tesouro.
Suas cinco filhas estão aqui para amar e paparicar você enquanto insiste em ficar e nos brindar com sua fé em Nossa Senhora da Abadia e nos ensinar que ouvir é mais importante do que falar.
Aprendo com você, todos os dias, a arte de perseverar, de acreditar, de amar incondicionalmente, de ser paz em meio ao caos.
Fica, PAI, enquanto aguentar, e deixa a gente cuidar e amar você mais um pouquinho, enquanto aprendemos a ser pessoas apaixonadas pela família e que o amor, mesmo silencioso, é o maior legado que alguém pode deixar.
Com todo o meu respeito e amor infinito,
Bebel.
Isabel Cristina Silveira Borges – servidora aposentada da Justiça Federal de Uberaba e filiada do Sitraemg