G-7 admite ampliar diálogo para evitar crises

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Reunido em Washington no último sábado, o G-20, grupo formado pelos países industrializados e os novos emergentes, elaborou um documento com quase 50 itens no qual pede que o sistema financeiro mundial seja mais regulamentado, para evitar crises financeiras e econômicas como a atual, que derrubou a economia dos EUA e jogou a Europa na recessão, além de afetar países até então em franco crescimento, como China, Índia e Brasil. A principal mensagem do encontro, contudo, não estava escrita no documento: o G-7 (grupo restrito dos sete países mais ricos – EUA, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Japão, além da convidada Rússia), está morto. O mundo ficou complexo demais para ficar restrito às decisões de apenas oito países. Os outros 12, que formam o G-20, não foram convidados para entrar no clube. Simplesmente arrombaram a porta e anunciaram que não haveria mais festa sem sua presença.

Eles estão certos. Não dá mais para pensar num mundo que não leve em conta decisões e interesses de nações como China, Brasil, Índia e Rússia, os chamados Brics. E a Ásia não se restringe mais ao Japão, ou mesmo à China. A Coréia do Sul tem peso e dinheiro. E as ricas dinastias do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, livres de guerras tribais ou da intervenção americana, estão mostrando que querem – e podem – ser o novo centro financeiro do mundo. Dubai se transformou. É hoje quase um paraíso futurista, erguido num deserto até então inabitável.

Tornou-se impensável, por exemplo, imaginar o mundo hoje sem a China. Os EUA que o digam. Uma piada que correu escritórios abonados diz que as empresas de hipoteca americanas Freddie Mac e Fannie Mae só foram estatizadas porque a China exigiu. Caso contrário, não liberaria um empréstimos de US$ 595 bilhões ao Tesouro americano. Oficialmente, nenhum dos dois países comenta a notícia, mas os chineses costumam sorrir quando ouvem a anedota. O fato que o dinheiro foi liberado e as empresas foram salvas.

A China detém a maior reserva internacional do planeta, estimada em US$ 1,9 trilhão, dos quais US$ 922 bilhões aplicados em títulos americanos. O Japão detém US$ 1,2 trilhão também em títulos americanos. Portanto, são os dois – China e Japão – que financiam os gigantescos débitos de Tio Sam. “A China tornou-se o grande banqueiro dos Estados Unidos”, diz um analista. Na verdade, as economias da China e Estados Unidos estão hoje umbilicalmente ligadas. Se o dólar cair demais, a moeda chinesa, o iene, sobe, detonando as importações do país. Por isso, a China não tem interesse em ver a derrocada do dólar – e investe em títulos. “Devemos nos unir”, resumiu recentemente o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao. Pragmatismo puro. A Ásia – e aí levando-se em conta outros países, como Coréia do Sul e Cingapura – detêm mais da metade da dívida pública americana no estrangeiro. Portanto, como pensar num mundo restrito a sete ou oito países?

O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, sabe disso? Sabe. Tanto que, logo depois de sua vitória, disparou telefonemas aos principais líderes do mundo – incluindo os que não fazem parte do G-7 – para combinar encontros. Obama sabe que os EUA ainda são os líderes do mundo. Mas o jogo está mudando rapidamente. O próximo encontro do G-20, marcado para março, já com a presença de Obama, e mostrará que algo, de fato, já mudou.

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