Fórum discute o “Planeta Água” em BH

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As cartas para preservar o meio ambiente e o futuro da humanidade já estão na mesa. Basta apenas vontade e determinação. Como qualquer outro recurso natural fundamental para a sobrevivência, a água é motivo de conflitos em algumas partes do planeta. Enquanto milhares de pessoas a aproveitam para lavar carros, roupas, ou mesmo o quintal, a cada oito segundos uma criança morre por falta de água potável – cerca de 3 milhões por ano: ou o líquido está contaminado ou simplesmente não há. Os números parecem apocalípticos, mas o risco de ficar sem o líquido já é realidade, segundo o ambientalista russo e presidente-executivo da organização não-governamental Green Cross, Alexander Likhotal. A instituição atua em 29 países, em todos os continentes, e funciona como uma espécie de Cruz Vermelha do meio ambiente.

A urgência em conscientizar a população para preservar o bem essencial à vida é destaque no Fórum Internacional Diálogos da Terra no Planeta Água, aberto ontem à noite, no Minascentro, em Belo Horizonte. O evento é promovido pela Green Cros, com apoio da Fundação Renato Azeredo e do governo de Minas.

Likhotal revela números alarmantes. “A situação é tão grave que a quantidade de pessoas que morrem por falta de água no mundo equivale ao número de vítimas de 40 colisões de Boeings todos os dias. Não queremos criar um clima negativo na população, mas alertar para a necessidade de mudança. Isso ocorre em países mais carentes, mas as conseqüências desse tipo de problema atinge a todos”, observa o presidente da ONG.

O ambientalista estima que 2,4 bilhões de pessoas sofram com a escassez de água e, para resolver esse problema, são necessários US$ 50 (R$ 110) para cada uma delas. “Se os governantes aplicassem esse valor durante 10 anos, eliminaríamos esse constrangimento que é a falta de água limpa para as pessoas beberem”, salienta. Likhotal ilustra que na Europa a criação de apenas um boi custa em torno de 700 euros. “Se gastamos esse valor para criar uma vaca, não se pode investir R$ 50 em um ser humano?”, questiona.

Ele comenta também que a crise econômica mundial ganha, todos os dias, destaques nas manchetes de jornais e, de certa forma, hipnotiza e afasta da discussão assuntos urgentes como os do meio ambiente. “As pessoas precisam compreender que os efeitos de alterações climáticas, falta de água limpa, poluição são tão graves quanto a desordem financeira que vivemos atualmente. Seremos penalizados de forma cruel se não tomarmos consciência”, diz Alexander Likhotal.

Por concentrar alguns dos principais rios e áreas verdes do planeta, o Brasil é visto como um ponto rico de discussões. “Nesse seminário temos a meta de rever idéias aplicadas ao redor do mundo e o Brasil tem muito a oferecer. Não é preciso inventar mais. As alternativas já existem e dependem da escolha das pessoas. Precisamos de enfrentar a questão ambiental de forma positiva. É muito mais inteligente começarmos agora a esperar mais desastres naturais.”

Likhotal exemplifica citando o caso de Nova Orleans, nos Estados Unidos, atingida pelo furacão Katrina, em 2005. “Trabalhamos na cidade, ajudando as vítimas da tragédia. Eles conhecem bem o que significa um desastre natural e não precisamos falar mais em poupar energia, água, alimentos, entre outros. Acredito que ninguém deseja passar pelo que aquelas pessoas passaram. Por isso, é fundamental repensar nossas atitudes e nossos hábitos”, afirma o especialista.

Em busca do equilíbrio

Reconstruir a lógica econômica mundial e encontrar um novo modelo de desenvolvimento para o mundo são os principais desafios do Fórum Internacional Diálogos da Terra no Planeta Água. Mais de 700 pessoas participaram da abertura do evento, ontem a noite, no Minascentro, incluindo representantes de países como a França, Gâmbia, Indonésia, Espanha, Inglaterra, entre outros. O ambientalista e ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2007, responsável pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o cingalês Mohan Munasinghe, afirmou que é urgente conciliar formas de avanço econômico com o equilíbrio ambiental.

Durante a cerimônia, estavam presentes o ex-presidente de Portugal Mário Soares, representantes do governo federal e o governador de estado, Aécio Neves. Amanhã, ao final do seminário, será formulada a Carta de Minas, com os resultados da iniciativa. O documento será encaminhado no ano que vem ao Fórum Mundial das Águas, em Istambul, na Turquia.

A necessidade de aplicar formas responsáveis de desenvolvimento foi um dos pontos fortes discutido por Munasinghe .“As indústrias, principais causadoras de impactos à natureza, têm recursos próprios para ajudar a melhorar o quadro global. Elas devem ser vistas não como problema, mas parte da solução para as questões ambientais. O poder público, a sociedade civil e as empresas precisam trabalhar em conjunto”, afirma.

Ele analisou que o modelo de gestão econômico deve ser reformulado com rapidez. “Questões como a pobreza, fonte de alimentos e energia estão crescendo e ficando cada vez mais complexos. Aliado a isso, nos deparamos com desastres ambientais. As alterações climáticas estão presentes. Seguramente, esses fatores vão afetar a performance das empresas. Para não chegarmos ao extremo, precisamos mudar já”, avaliou Munasinghe.

O ambientalista lembrou também que para a humanidade atingir o equilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento é fundamental que haja cooperação, solidariedade e união. “A grande oportunidade de repensar nossas ações é agora. Estamos vivendo uma crise financeira e outra ambiental. Esse é o momento ideal para discutir a aplicação de novas energias. Enquanto dependermos de combustível fóssil e houver desperdício de água, não conseguiremos garantir um futuro para o planeta e outras gerações”, salienta.

Direto da Rússia, o presidente de honra da organização não-governamental Green Cross Internacional, responsável pelo fórum, Mikhail Gorbachev, mandou uma mensagem, em vídeo, especialmente para o evento. “A escassez da água doce no mundo é um dos grandes desafios para os governantes e a população. O poder público precisa aderir às questões ambientais para evitar danos irreparáveis ao planeta”, afirmou.

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