O Sitraemg repudia veementemente a matéria intitulada “Quase metade da população está insatisfeita com o serviço público”, publicada na edição de segunda-feira, 9 de novembro, do jornal O Estado de S. Paulo (Estadão).
O texto do repórter Álvaro Gribel (veja aqui) se baseia em uma pesquisa de opinião pública que destaca exatamente os pontos mais apelativos da proposta de reforma administrativa em tramitação na Câmara dos Deputados para publicizar o falso diagnóstico da insatisfação da população com o serviço público. São argumentos como a busca da eficiência e da extinção dos privilégios e da corrupção no serviço público, que de fato não estão – e jamais estiveram – no radar das tentativas de mudanças na legislação alusivas à administração pública, mas que são repetidamente utilizados para “comprar” o apoio popular para alterações na lei que só visam reduzir e precarizar os serviços oferecidos à sociedade e retirar ainda mais direitos dos servidores.
A escolha do título já “entrega” a real intenção do autor. Em vez de “quase metade”, por que não optou pela expressão “menos da metade”? Ainda mais grave é a maldade que reserva aos servidores do judiciário. Ao informar que “para 40% dos entrevistados, a reforma administrativa deve ter como principal objetivo combater privilégios como supersalários, férias remuneradas de 60 dias e aposentadoria compulsória para fins de púnica”, não esclarece que tais privilégios se restringem a uma casta do serviço público, que são os juízes e desembargadores e membros do Ministério Público.
Outro erro proposital, que fere um dos princípios basilares do jornalismo, é que o repórter não se preocupou em ouvir a opinião de todos os grupos de interesse na questão da reforma administrativa. Restringiu-se a depoimentos do representante da própria Atlas Intel, instituto que realizou a pesquisa, e do deputado Pedro Paulo (PSD/RJ), que coordenou o grupo de trabalho da Câmara responsável pela elaboração do conjunto de propostas da reforma. Consultou o Ministério de Gestão e Inovação (MGI) do governo, mas nem sequer esperou resposta. E as instituições representativas dos servidores e da população, não importam?
Talvez o texto pudesse se reduzir a um artigo de opinião, se não distorcesse a realidade apontando que os “servidores do judiciário têm supersalários e férias de 60 dias”. Porém, nem os dados da pesquisa que encomendaram conseguiram respaldar o que a matéria quis mostrar. E há que se levar em consideração os métodos nada transparentes utilizados pela Atlas Intel.
Segundo o portal UOL, o instituto, que atua na América Latina e nos Estados Unidos, busca os dados em convites aleatórios respondidos por usuários de internet durante uma navegação padrão. “As amostras são calibradas, segundo a empresa, de forma a corrigir ‘eventual super ou sub-representação de grupos específicos’”, informa o texto (veja aqui). Quais seriam esses “grupos específicos”? A matéria não os identifica.
O que ela deixa transparecer é que o editor talvez tenha orientado o repórter a redigi-la em forma de propaganda para a reforma administrativa. Mas, como é admitido no depoimento do próprio deputado Pedro Paulo, um dos maiores defensores da reforma, a população consultada não tem nem ideia do que são as propostas em discussão no legislativo.
Editor e repórter certamente sabem que nem seria necessário fazer uma pesquisa para se concluir que é possível aumentar o grau de satisfação da população com o serviço público. Mas omitem o fato de que essa satisfação se tornará inviável exatamente se atingidos os objetivos das mudanças previstas na reforma, que é centrada no enxugamento do Estado e na precarização dos serviços públicos, para depois transferi-los para a iniciativa privada, tornando impossível o acesso dos mais pobres.
Os próprios servidores públicos teriam interesse em discutir mudanças na legislação que visassem ao aprimoramento da administração pública. Mas não é esse o debate que está posto e não é este o interesse do Estadão e da imprensa corporativa.
Assessoria de Comunicação
Sitraemg


