Encontro Regional Vale do Aço: PJe e os riscos para a saúde do servidor

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Palestra sobre a saúde do servidor do Judiciário Federal abriu os trabalhos do sábado, 28, durante o Encontro Regional Vale do Aço, realizado em Ipatinga, nos últimos dias 27 e 28. Para falar sobre o assunto, a psicóloga, psicanalista e coordenadora de Relações do Trabalho e Saúde do SITRAEMG, Débora Melo Mansur, apresentou o seguinte tema: “Impacto do PJe na saúde dos servidores”. Para a explanação, a palestrante baseou-se numa pesquisa realizada pelo Sintrajufe-RS – Sindicato dos servidores do Judiciário no Rio Grande do Sul, acerca da saúde dos servidores daquele estado. Segundo Débora Mansur, pelo tamanho da pesquisa e seus resultados, pode-se comparar à realidade dos servidores mineiros. Tal pesquisa foi realizada no período de setembro de 2011 a janeiro de 2012, com a distribuição de 6.273 questionários, dos quais 3.744 foram respondidos.

A pesquisa mostra que, na Justiça Federal (JF) do RS, onde o PJe – Processo Judicial eletrônico chegou primeiro, os índices de piora ou surgimento de alguma doença são maiores. Nos dados gerais, as principais atribuições dos servidores do Judiciário são as análises de processo, chegando a 56,8%.  E na JF, 46,2% das atividades preponderantes são realizadas via processo eletrônico, o que, para a Mansur, contribui ainda mais para o aumento de doenças, sobretudo, as oftalmológicas e osteomusculares. A palestrante informou que o SITRAEMG não é contra o Processo Eletrônico, porém, critica a forma de como tem sido implantado. “Não tem como darmos marcha-ré frente às novas tecnologias, porém a falta de uma normatização vem atrapalhando o rendimento dos trabalhos via PJe”, criticou a psicóloga.

No quesito “Organização do Trabalho”, a pesquisa aponta um elevado número de pessoas que levam serviços para fazerem nos finais de semana. Ainda de acordo com a pesquisa, essa demanda deve-se ao número de servidores menor que o necessário, às metas de produtividade, à ampliação de atribuições, além da complexidade dos processos. “Juízes e servidores estão adoecendo devido à forte pressão, sobretudo do CNJ – Conselho Nacional de Justiça -, acerca da necessidade de cumprimento de metas”, disse a palestrante, alertando os colegas da necessidade de fazerem pausas laborais de 10 minutos a cada hora trabalhada. A pesquisa aponta, também, que essas pausas estão diretamente ligadas à manutenção da saúde. A pesquisa mostrou que 13,9% dos participantes responderam que não fazem pausas regularmente durante o trabalho. A coordenadora sindical informou que durante visitas a colegas de trabalho há muitos relatos de que não param não é porque a chefia não autoriza, mas, sim, pelo fato de terem muito trabalho. “Nós mesmos não nos permitimos pausar”, disse Mansur pedindo aos colegas que tomem consciência dessa realidade e necessidade de fazerem pausas para evitar o surgimento de doenças.

As relações de trabalho também foram avaliadas na pesquisa e um dado importante foi detectado: na JF, uma média de 60% dos pesquisados responderam que não receberam treinamento/capacitação por parte da administração para a realização das tarefas, o que pode comprometer o tempo de execução e a qualidade das tarefas. Na Justiça Trabalhista, esta mesma avaliação alcança um percentual de 51,2%.  Já na avaliação do Processo Eletrônico na JF – aonde a implantação chegou primeiro, o estudo mostra que a possibilidade de cometer erros é muito maior, e entre os fatores destacam-se: a forma como são nomeados os documentos pelas partes; o pouco tempo para análise; o cansaço; as metas de produtividade; e a dificuldade para verificar a autenticidade dos documentos.  

 

Quanto à leitura dos processos, foi revelado que é mais difícil no monitor devido ao cansaço das vistas; pela extensão do texto; e pela impossibilidade de marcar os textos. “É comum, aqui, surgir a síndrome do ‘olho-computador’, porque se pisca menos, causando ardência e ressecamento nas vistas”, disse a coordenadora sindical, recomendando mais uma vez a realização das pausas. Mansur citou, ainda, que no PJe o trabalho é realizado com dois monitores e é difícil manter o mesmo brilho e contraste nas duas telas, o que pode contribuir para aumentar ou fazer aparecer os problemas de vistas. As dores no pescoço, ombros, costas, braços e pernas também destacam um aumento no percentual após a implantação do PJe.  O indicativo de distúrbios psíquicos e o uso de medicamentos/tratamento também são maiores na Justiça Federal. Ainda, um agravante detectado na pesquisa: 2,6% de todos os entrevistados se sentem discriminados ao terem que se afastar para tratamento de saúde.

 

Ao serem perguntados sobre motivação e desmotivação no trabalho, a estabilidade e salário aparecem em primeiro lugar na motivação, enquanto “metas” aparecem em última posição. “As metas não são ruins e devem existir, sim, porém, desde que factíveis. Com o resultado da pesquisa, fica claro que elas – as metas – não são adequadas”, disse a palestrante.

 

 

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