O debate sobre o que acontece hoje no território israelense não passa pelo preconceito a nenhuma religião. O mundo não pode admitir em pleno século XXI nenhum tipo de perseguição religiosa contra muçulmanos, judeus, cristãos, umbandistas ou qualquer outra religião. No campo das ideias religiosas, a única postura que merece críticas é a do fundamentalismo que não respeita a religião do outro.
O conflito entre palestinos e israelenses tem origem numa política de colonização e opressão do Estado Israelense sobre o povo palestino. A população, que até 1948 ocupava todo o território que hoje corresponde a esse Estado, foi confinada em menos de 20% dessa área.
Os palestinos de Gaza, cercados por um muro, têm fornecimento de água, de energia elétrica e de mantimentos controlado pelo Estado agressor. Ao longo de mais de 70 anos, o território que hoje abriga mais de 2,2 milhões de pessoas tem sido alvo de constantes ataques militares. Por isso, a região é denominada por diversos especialistas internacionais como a maior prisão ao céu aberto, ou mesmo como gueto.
O terror tem sido arma utilizada tanto pela representação política dos palestinos em Gaza, como pela representação política do Estado israelense. Em todos esses anos, tem havido bombardeios de ambos os lados, e vítimas inocentes de um lado e de outro do muro devem nos causar tristeza e indignação da mesma forma. Mas há uma desproporção entre o potencial do grupo armado Hamas e o de um dos Estados com maior potencial bélico do planeta.
Segundo o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, de 2008 até 31 de agosto de 2023, antes dos ataques recentes do Hamas, os conflitos resultaram em 6.407 mortos do lado palestino e 308 do lado israelense.
Porém, o argumento que tenta responsabilizar todo o povo palestino por ter escolhido o Hamas como seu representante político é falso. Na Cisjordânia, palestinos também são constantemente atacados e assassinados, apesar de ser um território administrado pelo grupo Fatah, que não é armado e defende permanentemente o diálogo com Israel. Além disso, esse é um argumento que não faz o mínimo sentido, seria como responsabilizar o povo brasileiro pelo governante que escolheu hoje ou no passado.
Há anos, o governo de Israel vem promovendo o avanço da ocupação da Cisjordânia pelos chamados colonos que, com a ajuda do exército, expulsam os palestinos locais de suas terras e moradias. Para se deslocar dentro da Cisjordânia, palestinos precisam passar pelas colônias, onde costumam ser hostilizados e agredidos.
Muitos trabalhadores braçais de Israel moram nos territórios palestinos. Mas para poder se deslocar para Israel, ou mesmo para se deslocar dentro da própria Cisjordânia, estes precisam passar diariamente pelos checkpoints controlados pelo exército, onde são humilhados e obrigados a passar por barreiras de homens fortemente armados. O racismo fica explícito quando o ministro do interior israelense, ao tentar desumanizar o povo palestino perante a consciência ocidental, o compara a animais. Uma caricatura que infelizmente já foi utilizada na história contra os judeus.
O Estado de Israel tem leis diferentes para árabes e para seus cidadãos de primeira classe. A maioridade penal para os judeus, por exemplo, é de 18 anos. Já para os palestinos, 12 anos, o que dá cobertura legal para o aprisionamento político de centenas de crianças e adolescentes. O desrespeito aos Direitos Humanos tem sido motivo de constantes condenações da ONU.
Não defendemos o método de atuação do Hamas, defendemos a vida da população civil que mora em qualquer parte do território do atual Estado de Israel, bem como a de todo o planeta. Somos solidários com as vítimas judias. Mas queremos expressar nossa preocupação com a principal ameaça colocada na situação atual, que é de genocídio do povo palestino. A forma como mais de um milhão de pessoas estão sendo incentivadas a abandonar suas casas, sem água, sem comida e sem hospitais, além das bombas, tem levado a comparar essa realidade com as principais tragédias humanitárias do século passado.
Defendemos o povo palestino, que tem direito a viver num estado em que não seja vítima constante de ameaça, de supressão de bens essenciais à vida, que não seja oprimido, privado de sua liberdade de ir e vir e nem tratado como cidadão de segunda categoria. Estamos juntos com centenas de milhares de pessoas que se manifestam nas ruas contra a ofensiva israelense no Brasil, em Londres, em Nova Iorque, bem como nos países árabes e africanos.
Este artigo é assinado pelos coordenadores do Sitraemg Alexandre Brandi, Carlos Cabeça, Carlos Wagner, David Landau e Edvalda de Andrade Silva.
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