Discussão sobre conjuntura ataca o neoliberalismo, rentismo e o uso da classe trabalhadora pelos governos petistas para pagarem por mais um ajuste fiscal 

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O primeiro debate da XIX Plenária Nacional da Fenajufe, que se realiza neste fim de semana (23 a 25/10) em João Pessoa (PB), foi sobre conjuntura e reuniu à mesa, como palestrantes, o servidor mineiro da Justiça do Trabalho e diretor de base Luiz Fernando Rodrigues Gomes, o coordenador geral da Fenajufe Adilson Rodrigues, além de José Vieira Loguércio, doutor em Ciência Política pela UFRGS, professor e aposentado da Justiça do Trabalho, e Celso Luis Sá Carvalho (o Celsinho), contador, mestre em Sociologia, ex-dirigente da Fasubra e coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Educação da Universidade do Rio Grande do Sul.

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Luiz Fernando Rodrigues Gomes (1º a partir da direita), diretor de base do SITRAEMG

Loguércio lembrou que o neoliberalismo teve início em 1979, a partir do Consenso de Washington, que recomendou medidas de enxugamento da “máquina” pública e redução da intervenção do Estado na economia para os países subdesenvolvidos visando garantir ampliação dos lucros do capital e dos grandes grupos empresariais que já estavam ou viessem a investir nesses países. Em um dos gráficos, ele mostrou a distorção que se faz em relação ao endividamento dos países subdesenvolvidos, quando os obrigam a destinar percentuais de seus orçamentos para o pagamento dos juros dessas dívidas. Há muitos dos países considerados desenvolvidos que estão com endividamento bem superior e, nem por isso, destinam tanto dos seus orçamentos para a redução desse endividamento. Caso, por exemplo, do Japão, cuja dívida equivale a 400% de seu PIB. Nem por isso, deixa de investir na produção. “Pra onde vai a produção vai a vida, pra onde vai a especulação vai a guerra e a morte”, resumiu.

A árdua luta pela revisão salarial

O coordenador da Fenajufe Adilson Rodrigues afirmou que o capitalismo está levando à destruição do planeta e à exaustão dos modos de produção. Fazendo um relato da luta da categoria pela reposição salarial, Rodrigues reclamou que a categoria vem sofrendo as consequências de uma política de governos que vem dos mandatos tucanos, mas que o Partido dos Trabalhadores insistem em dar continuidade nos últimos 12 anos, de jogar na conta do trabalhador os prejuízos oriundos das crises que são criadas exatamente pela opção que fazem de privilegiar o grande capital, em detrimento da produção.

No caso dos servidores do Judiciário Federal, as lutas antes empreendidas levaram à conquista dos três PCS, mas, nos governos petistas, nem mesmo as greves foram suficientes para conseguir por fim a uma reposição salarial que já dura nove anos. Isso encorajou os servidores para mais um movimento paredista, neste ano, que ele considera um dos maiores da história da categoria, e o governo, em conluio com os outros dois poderes, colocou toda dificuldade para que o projeto fosse aprovado no Congresso e, agora, o veto seja derrubado também no Legislativo.  “Chegou-se ao cúmulo de se afirmar que a nossa greve visava desafiar a crise e estava de classificar o nosso veto como pauta bomba”, criticou.

A solução está na “esquerda”

“O governo não tem competência para resolver nenhuma das crises: social, econômica e politica”, disse constatar filiado do SITRAEMG Luiz Fernando Rodrigues Gomes, que se recorda que a tendência do Partido dos Trabalhadores já se revelava quando Lula decidiu unir-se ao José Alencar e ao empresariado, o que o levou à vitória na campanha presidencial de 2002. Depois, ainda se uniria ao PMDB, e Lula conseguiria aprovar reformas, sobretudo na previdência e na educação, que o próprio Fernando Henrique Cardoso não conseguira, graças à reação da sociedade e, principalmente, da classe trabalhadora.

A propósito do atual embate da oposição com o governo sob o discurso da corrupção, Luiz Fernando Rodrigues lembrou que corrupção não é um problema brasileiro, mas do mundo. Citou, inclusive, vários escândalos já tornados públicos no país, entre os quais o dos Anões do Orçamento, em 1993; o do Banestado, em 1993, com reflexos em 2003; o Mensalão do PT e muitos outros. Deve-se avaliar, segundo ele, o que está por trás desse denuncismo de corrupção, ainda que ela efetivamente exista. No caso da Petrobras, por exemplo, existe a intenção clara de entregá-la para a iniciativa privada. Depois de tecer vários exemplos reforçando sua tese de que é o atual sistema político viciado do país que se mantém no poder é que está viciado, o servidor mineiro concluiu dizendo que “não existe saída por dentro; a saída tem que ser pela esquerda”.

Enfrentamento do rentismo só com projeto desenvolvimentista

O palestrante Celso Luís Sá Carvalho estabeleceu um discurso explicando a lógica da manutenção do capitalismo rentista, em detrimento da produção. A lógica é: dinheiro faz dinheiro. Segundo ele, o sistema financeiro movimenta anualmente em torno de 800 trilhões de dólares em todo o mundo, contra 70, 80 trilhões de dólares da economia em geral. “É uma tecnologia que nos deixa nos tempos das cavernas. Esse é o capitalismo de hoje”, explicou.

Esse sistema perverso, na visão do palestrante, só poderá ser enfrentado a partir da adoção de projetos de natureza desenvolvimentista pelos governos dos Estados do mundo subdesenvolvido. Ele citou como exemplos a Venezuela, Argentina, Bolívia e o Equador, que a adotou, ainda que de forma tímida, assim como o Brasil, com o programa de distribuição de renda e quando decidiu reduzir a taxa Selic. Mas esse projeto desenvolvimentista, alertou, tem que ser “tensionado” com uma linha que ele chama de “transição”, como a realização de uma auditoria da dívida e ataque aos juros.

Servidor mineiro é aplaudido ao acusar Dilma  protestar em protesto contra o governo

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David Landau, servidor do TRT/MG

“O discurso que esta na fala do Ponciano: ‘entre o governo e a revisão salarial da categoria, estou com o governo’. Quando ele diz isso, ‘entre o governo e a classe trabalhadora, estou com o governo que ataca a classe trabalhadora’? O que a gente tem aqui é que independentemente do setor que está achando que o país está vivendo um golpe, porque votando numa coisa achando que é outra coisa, isso é golpe. O movimento sindical tem que estar unido sim, mas unido na luta contra Dilma Rousseff. Não foi à toa que alguns setores não quiseram levar à frente essa greve. Foram os setores que não tem nenhum compromisso com o governo”. Essa foi o alerta feito pelo filiado do SITRAEMG David Landau, servidor do TRT da 3ª Região, na fase de debates sobre conjuntura. Ele foi aplaudido efusivamente por grande parte dos participantes da Plenária da Fenajufe.

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