No dia 5 de novembro do ano passado, o Brasil assistiu ao maior desastre socioambiental de sua história. A barragem de rejeitos de Fundão, de propriedade da mineradora SAMARCO (joint venture da VALE e BHP Billiton), rompeu-se, despejando milhões de litros de rejeitos tóxicos sobre o ribeirão do Carmo e sobre o rio Gualuxo, que deságuam no rio Doce.
PÉ NA ESTRADA: Um ano após tragédia da Samarco, SITRAEMG faz a rota do Rio Doce
Os dados oficiais registram a morte de 19 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Sabe-se, contudo, que uma das moradoras de Bento Rodrigues, sobrevivente da tragédia, estava grávida e, em decorrência do trauma vivido, sofreu um aborto, o que eleva para 20 o número de mortes. Além destes, há inúmeros relatos de que algumas pessoas, abaladas psicologicamente pela alteração abrupta e involuntária em seu modo de vida, tenham cometido suicídio.
A lama invadiu o rio Doce, privando de seus habituais de meios de vida comunidades tradicionais e indígenas, pescadores e toda a população dos cerca de 220 municípios ao longo da bacia hidrográfica. Por vários dias, milhares de pessoas chegaram a ficar sem água, devido à impossibilidade de abastecimento. Retomado o fornecimento, há inúmeros laudos indicando a impotabilidade do líquido a que agora têm acesso. As comunidades que habitam as margens do Doce não poderão seguir vivendo das atividades econômicas que historicamente praticavam, já que o rio de que dependiam agora está morto, ou seja, o nível de poluição é tão alto que não há vida animal e vegetal capaz de sobreviver saudavelmente em tal ambiente fluvial.
Passados 365 dias do crime, fica evidente que vivemos sob a ditadura do capital e que o estado brasileiro se curva às empresas extrativistas minerais autoras do crime referenciado. O processo de reparação fica a cada dia mais distante. Prefeitos e prefeitas dos municípios da bacia, governadores do estado de Minas Gerais e Espírito Santo e o governo federal abrem mão do poder de administração dos interesses da nação que lhes foi outorgado pelo povo brasileiro. Cedem, inescrupulosamente, lugar para as empresas (Samarco, VALE e BHP Billinton) gerirem os conflitos que causaram. Está nas mãos das criminosas, segundo a seus critérios de conveniência e oportunidade, indenizarem o povo atingido e recuperarem o meio ambiente devastado.
O SITRAEMG participou, entre os dias 31/10 e 05/11, de uma caravana que saiu de Regência/ ES (foz do rio Doce), chegando à Mariana/ MG. A intenção foi denunciar os 365 dias de impunidade, prestar apoio às vítimas ao longo da bacia e chamar atenção de autoridades nacionais e internacionais para a questão.
Em Mariana, nos dias 03 a 05, aconteceu um encontro de atingidas e atingidos, promovido pelos movimentos sociais. Pessoas afetadas por grandes empreendimentos em todo o mundo tiveram a oportunidade de expor as violações a que estão submetidas, demonstrando que danos severos ao meio ambiente e às coletividades é uma prática inerente ao modelo de desenvolvimento eleito pelos países na atualidade, chamando atenção para a urgente necessidade de repensarmos esse paradigma.
Em Ouro Preto, o Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais da Universidade Federal de Ouro Preto (GEPSA/ UFOP) realizou o seminário intitulado “Balanço de 1 ano do Rompimento da Barragem de Fundão”. Dentre os temas abordados, estiveram as violações perpetradas pelas mineradoras responsáveis pelo rompimento da barragem aos direitos humanos do povo Krenak, cujas terras são banhadas pelo rio Doce na região de Resplendor/ MG.
No evento, foi lançado o documentário “Do reformatório à Lama de Mariana”, por meio do qual se narrou o processo de encarceramento, desterritorialização e extermínio imposto pelo regime militar ao povo Krenak a partir de 1969. Somente com o fim da ditadura de 1964 conquistam o direito de voltar às suas terras ancestrais, às margens do rio Doce. Agora, contudo, os tiranos não usam mais uniforme militar. É a ditadura do capital que, ao matar o seu rio sagrado, coloca em risco a sobrevivência dos Krenak.
Registros fotográficos do Sindicato