Com um auditório lotado, iniciou-se, na noite de sábado, 27 de março, o 7º Congrejufe, Congresso da Fenajufe, em Fortaleza, Ceará. A federação estima que este será o maior congresso da categoria, com a presença de novos sindicatos e cerca de 600 servidores, reunindo delegados, observadores e dirigentes sindicais do Brasil inteiro. Na mesa de abertura, os coordenadores gerais da Fenajufe Roberto Policarpo, Cláudio Klein e Ramiro López, além da presença do presidente nacional da CUT, central à qual a Fenajufe é filiada, Artur Henrique.
Também estavam lá o representante da Conlutas, Fernando Saraiva, os representantes dos sindicatos anfitriões Eliete Maia (Sinje), Aguinaldo (Sintrajufe) e Heloisa (Sindissétima). Também houve a presença do diretor da AFJU (Associação dos Funcionários do Judiciário do Uruguai) Raul Vazquez e do diretor da Fenajud (Federação Nacional dos Servidores do Judiciário Estadual) João Ramalho. Nesta edição do evento, o homenageado foi José Franscisco do Nascimento, herói abolicionista do Ceará, conhecido como Dragão do Mar – um cordelista encarregou-se de contar a sua história no palco.
Terminadas as exposições da mesa, a palavra foi passada aos palestrantes da noite, o historiador e professor do Ifet (Instituto Federal de Ensino Tecnológico) de São Paulo, Valério Arcary, e o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, cuja missão era falar sobre conjuntura nacional e internacional.
Crise do capitalismo e atuação da CUT
Valério iniciou sua fala traçando um panorama da crise capitalista nos anos 30 do século XX – quando os Estados Unidos sofreram com a Grande Depressão e a Europa sofreu com o pós-guerra -, e dizendo que “devemos considerar esta escala de destruição para falar do ano de 2009. O termo hecatombe não é exagero”. O historiador também falou da situação da Grécia, que sofre com uma uma dívida de 115% de seu PIB e cogita aumentar a idade mínima para aposentadoria de 65 para 67 anos. Uma greve geral parou o país desde fevereiro deste ano e Valério destacou que a situação é culpa do endividamento do país frente aos grandes bancos europeus.
Arcany ainda discorreu sobre as alterações que o capitalismo – que, segundo ele, em épocas passadas, já permitiu que todos pudessem ter garantias de emprego – e frisou que a união entre os sindicatos e centrais sindicais no país foi fundamental para que a greve grega efetivamente pressionasse o governo. Ainda sugeriu que “o desafio é a independência do movimento sindical do governo Lula” e que, se a CUT fosse mais independente, poderia até se fundir à Conlutas”, numa referência aos resultados obtidos na Grécia. A provocação do palestrante novamente levantou debate no auditório, amainado assim que Artur Henrique, presidente da CUT, assumiu a palavra.
Artur, após saudar os participantes, parabenizou os professores de São Paulo, em greve contra o governo Serra. O presidente da CUT aproveitou o fato para frisar que esta é “uma das maiores greves do país” e, contrariando aqueles que acusaram a CUT de apoiar o governo e de não ter independência, ele disse que a maioria dos sindicatos envolvidos na greve é filiado à CUT, “com muito orgulho”. Após mais reações da platéia, Artur continuou sua exposição, na qual fez muitas críticas às privatizações promovidas dos anos 90 para cá e à recusa dos governos em resolver questões como a reforma agrária e a reforma tributária no país.
Mesmo tocando nestes pontos, a maior parte da palestra do presidente nacional da CUT focou nas eleições deste ano, na necessidade de envolvimento do movimento sindical para criar uma agenda política, e na relação entre o governo Lula e os servidores, que, de acordo com Artur Henrique, tem sido alvo de críticas da mídia – que aponta o número de servidores contratados pelo governo como sendo muito alto. Artur rebateu esta crítica lembrando que, mesmo sendo muitos, os servidores ainda padecem com condições desfavoráreis de trabalho e são prejudicados por direitos políticos que os trabalhadores da iniciativa privada têm e eles não: “queremos ter o direito de ter uma database, da obrigatoriedade da negociação, queremos o direito irrestrito de greve”, exigiu.
Polarização clara e ânimos exaltados
Durante (e mesmo depois) das falas dos convidados da mesa de abertura, ressaltando a importância da união dos trabalhadores e a necessidade de atentar para as lutas que a categoria deverá empreender em 2010, notou-se uma polarização no auditório: enquanto alguns presentes gritavam enaltecendo a CUT, outros tomavam rumo oposto e puxavam um “fora CUT” na mesma proporção.
No entanto, foi principalmente após as duas palestras que os dois lados ficaram evidentes, os favoráveis e os contrários à CUT. Todos os 10 participantes inscritos para fazer perguntas aos palestrantes tocaram, de alguma forma, no assunto, provocando um lado ou outro. Os ânimos exaltaram-se, a ponto de ser necessária a intervenção da mesa em vários momentos, pedindo que o tempo para perguntar não fosse excedido e lembrando aos presentes que o debate precisa ser saudável, contrapondo idéias mas respeitando todas as opiniões.
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