SITRAEMG conversa com servidores de Governador Valadares sobre a escassez de água na região e suas consequências no ambiente de trabalho

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Lama

O SITRAEMG lamenta, mais uma vez, a tragédia ocorrida no distrito de Bento Rodrigues,  em Mariana (MG) há cerca de dez dias, quando do rompimento de duas barragens Fundão e Santarém, que causaram grandes danos patrimoniais e ambientais aos moradores dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo e os efeitos da tragédia em várias cidades mineiras, como Governador Valadares (calamidade pública), e algumas do Espírito Santo que também sofrem com o envenenamento do Rio Doce, que era o principal responsável pelo abastecimento de água da região.

O rompimento das barragens da empresa Samarco é protagonista do maior desastre ambiental provocado pela indústria da mineração brasileira. De acordo com os noticiários, já são 11 mortes e 12 corpos ainda estão desaparecidos. Sessenta bilhões de litros de rejeitos de mineração de ferro – o equivalente a 24 mil piscinas olímpicas – foram despejados ao longo de mais de 500 km na bacia do rio Doce, a quinta maior do país. Segundo ecólogos, geofísicos e gestores ambientais podem levar décadas, ou mesmo séculos, para que os prejuízos ambientais sejam revertidos.

Em decorrência desse desastre, o Rio Doce não pode ter sua água captada, situação em que deixou cerca de 500 mil pessoas em Governador Valadares sem água dentro de suas casas nos últimos dias. Somente a partir da última terça-feira, 17, o abastecimento de água começou a se normalizar.

peixes mortos

Servidores e a falta de água

Dentro desse cenário, o SITRAEMG conversou com alguns servidores do Judiciário Federal da cidade de Governador Valadares para saber como foi lidar com a falta de água dentro de casa, bem como no ambiente de trabalho.

Paulo Roberto Dias, da Justiça Federal de Governador Valadares, disse que a situação mais grave foi na semana passada, mas os servidores trabalharam normalmente, mesmo com todas as dificuldades com a falta de água e com as muitas alterações na rotina diária. Segundo ele, muitos servidores que têm filhos tiveram que buscar alternativas, uma vez que as aulas na cidade foram suspensas. Dias disse que os servidores tentaram buscar soluções conjuntas/democráticas no ambiente de trabalho frente àquela realidade e acredita que, diante da situação, poderiam ter feito melhor. “uma vez decretado o estado de calamidade na cidade, poderíamos (servidores e dirigentes) ter realizado atividades para ajudar os necessitados, como campanhas solidárias”, aponta o servidor, informando que há uma grande preocupação com o presente e futuro, dada a realidade da cidade, sobretudo com o Rio Doce, devido ao grande número de elementos poluentes.

“O trágico desastre causado pela Samarco não tem precedentes. Lembro-me das tristezas sofridas pelas pessoas que viviam em Cubatão. Recordo-me, também, dos deslizamentos nas regiões do Rio de Janeiro. Muita dor e sofrimento. O Rio Doce está sendo intensa e violentamente agredido. Uma espécie de assassínio. Toda a fauna e  flora, permeadas pelo antigo Doce Rio, estão mortas ou morrendo. Muito amargor. Muitas pessoas ainda não têm o que beber. Inúmeras pessoas sedentas. Sedentas por água e dignidade.  A Subseção Judiciária Federal de Governador Valadares tentou manter sua rotina de trabalhos, a despeito da situação tensa e desesperadora que se faz presente na cidade.  Muitos Servidores ficaram sem água em suas casas. Algumas escolas suspenderam as aulas. A Prefeitura de Governador Valadares decretou estado de calamidade. A pergunta que se faz é: O que podemos, devemos ou precisamos fazer ? Como o Poder Judiciário da União e seus qualificados Servidores podem ajudar à região do Vale do Rio Doce ? O que eu farei ?”, desabafa o servidor.

Na oportunidade, o servidor aproveitou para parabenizar a atuação da diretoria do Sindicato, sobretudo em momentos de dificuldades pelos quais passam a categoria na luta pela reposição salarial. “A direção sindical esteve fortemente engajada pela derrubada do veto, que participou das inúmeras sessões do Congresso Nacional, além de várias outras atividades em prol desse pleito”.

Em conversa com a servidora Luciene Ferraz do TRT, e conforme já publicado no site do Sindicato, os efeitos da tragédia em Mariana, na cidade de Governador Valadares levou o juiz diretor do Foro e os juízes das 1ª, 2ª e 3ª Varas a suspenderem os prazos processuais e cancelar as audiências no período de 16 a 20 de novembro, além do atendimento ao público ter sido reduzido.

No TRE também teve mudanças na rotina de trabalho. De acordo com informações do servidor Julio César Rocha, da 118ª ZE, a juíza diretora do Foro, Andrea Alcântara Ferreira Chaves, seguiu os moldes adotados pelo diretor do Foro do TJ-MG, e soltou uma Portaria reduzindo a três, o número de servidores nas três Zonas Eleitorais da Cidade. A Portaria teve início no final da tarde da última sexta-feira, 13, vigorando até amanhã dia 20. Contudo, segundo o servidor Julio César, alguns servidores já voltaram ao trabalho, haja vista o retorno da água.

Julio informou que os piores momentos foram em casa. “Tomei banho com apenas dois litros de água – uma experiência inédita”, conta o servidor, lamentando que, o pior são as mortes das pessoas e o adoecimento do Rio Doce.

Doação de água mineral

Em contato com Tenente Levina, da Polícia Militar de Governador Valadares, o abastecimento de água vem sendo normalizado, contudo ainda falta água mineral para a população beber. Com isso, a Defesa Civil ainda está recebendo doações de água mineral. Para os doadores da própria cidade, gentileza fazer a entrega no 6º batalhão da Polícia Militar, à Rua Marechal Floriano, 2441, bairro de Lourdes. Em Belo Horizonte, os interessados podem fazer a entrega na sede do Sindicato, à Rua Euclides da Cunha, 14, Prado –BH.

A direção do SITRAEMG conta mais uma vez com a solidariedade dos servidores do Judiciário Federal em Minas.

Abaixo, texto de um morador de Governador Valadares, acerca da tragédia em Mariana, que vem sendo divulgado na internet

Infelizmente, o BRASIL ainda não sabe o que está acontecendo aqui em Minas Gerais. Os veículos de “des-informação” continuam omitindo fatos e números importantes para amenizar a tragédia. Sugiro que aqueles que têm amigos virtuais em outras cidades, estados e países, informem melhor e alertem o Brasil de que são centenas de milhares de pessoas afetadas pelo fato. Toda a economia dos municípios está comprometida. As escolas suspenderam as aulas, a agricultura está comprometida, porque não tem chuva, o comércio já quase parou, pois não tem água, nem para os banheiros; bares e restaurantes estão adotando material descartável para servirem, mas não existem panelas descartáveis e essas precisam ser lavadas. A construção civil também foi afetada; não há água para o banho das pessoas. Hospitais e asilos, presídios e serviços essenciais estão sendo abastecidos por caminhões pipa, que precisam ir a outros municípios para se abastecerem de água, o que está onerando os cofres públicos com o alto consumo de combustível – isso quando conseguem passar pelas estradas bloqueadas pela manifestação de caminhoneiros.

O Rio Doce, um dos MAIORES DO BRASIL, está morto! As populações, desde Mariana-MG até Linhares-ES (e depois no Oceano Atlântico) estão sofrendo as consequências do que talvez seja a maior tragédia ambiental, ecológica, econômica, hídrica, já ocorrida no país. E as consequências serão sentidas por muitas décadas. Somente em Governador Valadares são 260 mil pessoas afetadas. Alguém já imaginou uma cidade de 260mil pessoas totalmente sem água? E o pior: a água está correndo no Rio Doce, mas completamente envenenada por arsênico, mercúrio e outros metais.

Todos – eu disse todos – os peixes morreram envenenados e já se pode sentir o “cheiro” a quilômetros de distância. Esse é o quadro que o BRASIL precisa saber. Divulguem para que outras tragédias possam ser evitadas. Talvez a próxima seja a dos lixões, ou das enormes pastagens que avançam derrubando as florestas, ou quem sabe, as imensas lavouras de soja??? Informem, manifestem a indignação pacífica, sem revolta ou violência. Chega de violência contra o povo Brasileiro, menos ganância, é o que precisamos. Obrigado por me ler! É apenas o desabafo de um Valadarense, mineiro, brasileiro e … ser humano.

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