Uma assembléia, que reuniu representantes dos 22 grupos temáticos que desenvolveram as mais de 2.500 atividades na 8ª edição do Fórum Social Mundial, marcou o encerramento do evento na tarde deste domingo [1º], em Belém. Membros de organizações não-governamentais, militantes de partidos políticos e de movimentos sociais e estudantes do mundo todo se encontraram no campus da Universidade Federal Rural da Amazônia [Ufra] para ouvir as orientações gerais de ação dos movimentos de esquerda para o ano de 2009.
Ao longo da última semana – o fórum começou no dia 27 de janeiro – foram discutidos temas como: meio ambiente e efeitos das mudanças climáticas sobre as populações da Amazônia; crise econômica e perspectivas para a esquerda; e integração regional, entre outros.
Antes da assembléia geral, representantes do comitê organizador do Fórum Social Mundial concederam uma entrevista coletiva à imprensa. Na avaliação do sociólogo Cândido Grzybowski, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas [Ibase], a vinda do evento para a Amazônia representou um enorme avanço. Para ele, o território pode ser a base para a construção de uma ‘biocivilização’. Ele destacou a participação dos povos indígenas e também dos jovens, que vieram esse ano em maior proporção.
“Ampliamos a nossa diversidade. A presença de indígenas, de figuras da Amazônia, dá outra cara ao fórum. Isso dá às pessoas a sensação de se fortalecerem e se implantarem no mapa mundi dessa nova cidadania”, disse.
Em relação à crise financeira, um dos temas de maior destaque nas discussões, ele disse que não há uma resposta única.
“O que o fórum tem em comum é a idéia da reinvenção. Mas, a partir daí, há muitas agendas diferentes. Todas são legítimas, porque todas são de cidadania”, disse, citando como exemplo a multiplicidade de propostas apresentadas para minimizar os efeitos da crise sobre os trabalhadores.
Maior participação de lideranças indígenas
O número de participantes superou as previsões da organização, que eram de 120 mil pessoas, e chegou a 133 mil. Entre eles 1,4 mil quilombolas e 1,9 mil indígenas, a maior participação desses segmentos em todas as edições do FSM, segundo Grzybovski.
Representante das lideranças indígenas, o peruano Mario Palacios disse que o FSM foi importante para dar protagonismo aos povos da floresta e comunidades tradicionais. “Há uma alternativa a essa crise civilizatória, climática, energética. Concluímos que outro mundo é possível e está nos povos indígenas. Somos atores políticos vivos, não somos a parte folclórica da democracia”.
Palacios também anunciou a realização do 5º Fórum Social Mundial Pan-Amazônico, aprovada em assembléia durante a manhã.
A participação de comunidades indígenas também foi lembrada pela representante do movimento negro, Nilma Bentes. “O Fórum abriu possibilidade para que o movimento negro estreitasse relação com o movimento indígena”. Pela primeira vez, segundo Nilma, as questões raciais foram pautadas em um FSM como reivindicavam os movimentos sociais.
O ativista palestino Jamal Juma, coordenador do movimento Stop the Wall, agradeceu a recepção do Fórum à causa palestina e disse que a reunião foi uma oportunidade de apresentar ao mundo o que chamou de apartheid israelense. “Nesta hora em que testemunhamos o massacre do povo de Gaza, o Fórum é uma plataforma para mostrar a luta do povo palestino. Queremos pedir apoio do Comitê Internacional para forçar Israel a cumprir leis internacionais”.
Versão descentralizada
Em 2010, o Fórum Social Mundial vai ocorrer de forma descentralizada, sem uma cidade sede. Para 2011, a África e o Oriente Médio são os prováveis candidatos, mas os Estados Unidos também podem estar na lista, segundo Grzybovski.
Uma agenda mundial de mobilizações também foi anunciada ontem pela representante do Fórum Social Europeu, a italiana Rafaela Bolini, e inclui protestos durante a reunião do G-8, em maio, na Itália; durante a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em dezembro, na Dinamarca; e até no aniversário de 60 anos da Organização do Tratado do Atlântico Norte [Otan], em abril.