A saúde dos servidores do Judiciário Federal, que é um tema de grande preocupação do SITRAEMG, e que é sempre abordado em eventos da entidade, também foi objeto de palestra no Encontro Regional Zona da Mata, “Impacto do Processo Judicial Eletrônico na Saúde dos Servidores”. Através de um estudo realizado pelo Sintrajufe-RS – Sindicato dos servidores do Judiciário no Rio Grande do Sul – a palestrante, Débora Melo Mansur, psicóloga, psicanalista e coordenadora de Relações de Trabalho e Saúde do SITRAEMG, mostrou o aumento de doenças com o advento do PJe – Processo Judicial Eletrônico.
Ao iniciar sua palestra, Mansur destacou que a pesquisa realizada no RS pode ser comparada à realidade dos trabalhos nos tribunais mineiros e, por isso, informou aos presentes que já entregou uma carta à presidente do TRT-MG, desembargadora Deoclécia Amorelli Dias, a fim de lhe apresentar, bem como a seu staff, o estudo realizado no Sul. Tal pesquisa foi realizada no período de setembro de 2011 a janeiro de 2012, com a distribuição de 6.273 questionários, dos quais 3.744 foram respondidos – considerado pela sindicalista uma amostragem significante.
De acordo com a pesquisa, a principal atribuição nos tribunais do Judiciário é análise de processos, que alcança 56,8%. Débora destacou no tópico “Organização do Trabalho” que a quantidade de processos vem aumentando em um ritmo muito acelerado, fazendo com que servidores levem trabalhos para casa, inclusive para realizar tarefas nos finais de semana. Esse resultado pode ser atribuído a inúmeros fatores entre eles, o número de servidores menor que o necessário, metas de produtividade, ampliação de atribuições e complexidade dos processos. E com esse aumento de trabalho, Mansur chamou a atenção dos colegas presentes para a necessidade de se fazer as pausas de dez minutos a cada hora trabalhada. De acordo com a pesquisa, 13,9% dos pesquisados responderam que não fazem pausas regularmente durante o trabalho. “O adoecimento está proporcionalmente ligado às pessoas que não fazem pausas”, pontuou a coordenadora sindical.
As relações de trabalho também são fatores importantíssimos no diagnóstico da pesquisa. 10,9% dos pesquisados responderam que não se sentem respeitados por suas chefias imediatas, e 51,2% responderam que não receberam treinamento/capacitação oferecido pela administração. “Esse treinamento é muito importante para que os servidores exerçam suas atividades com mais facilidade”, destacou Mansur. A “Avaliação do Processo Eletrônico”, na Justiça Federal – aonde a implantação chegou primeiro, o estudo mostra que a possibilidade de cometer erros é muito maior, e entre os fatores pode-se destacar: a forma como são nomeados os documentos pelas partes; o pouco tempo para análise; o cansaço; as metas de produtividade; e a dificuldade para verificar a autenticidade dos documentos. Quanto à leitura dos processos: é mais difícil no monitor devido ao cansaço das vistas; pela extensão do texto; e pela impossibilidade de marcar os textos.
Quanto ao questionamento sobre a motivação e desmotivação dos servidores para o trabalho foram observadas que a estabilidade e salário são as principais motivações. E em última posição do ranking está a “meta” como uma das motivações. “Em tese, as metas deveriam estar em outra posição, desde que alcançáveis”, disse Mansur. Já no quesito desmotivação, a falta de possibilidade de crescimento; as metas; a política de capacitação; e desvalorização social vem no topo do ranking, antecedendo as “atividades e tarefas”. Para esta, “muitos servidores fazem tarefas que não gostariam de realizar”,
Ataques à saúde física e mental
Os Sintomas oftalmológicos e osteomusculares também foram destacados em maior número na Justiça Federal, devido ao tempo que já trabalham com o PJe. Nas vistas, a pesquisa mostra que sempre ou quase sempre, os servidores têm sentido dor e ardência; ressecamento; cansaço e embaralhada e desfocada. A coordenadora sindical falou sobre a síndrome “olho-computador” – o olho pisca menos quando está de frente ao computador -, gerando, assim, ardência e ressecamento aos olhos. As dores no pescoço, ombros, costas, braços e pernas também destacam um aumento no percentual após o PJe. O indicativo de distúrbios psíquicos e o uso de medicamentos/tratamento também são maiores na Justiça Federal, sobretudo no caso dos servidores oficiais de justiça, aos quais a sindicalista pede atenção redobrada.
