IX Congresso Ordinário do SITRAEMG: apesar do charme da tecnologia, teletrabalho traz desvantagens e o adoecimento do trabalhador

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O doutor Rogério Dornelles, médico do trabalho na Fundação CEEE de Seguridade Social, assessor do Sintrajufe/RS e do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre e Canoas, no Rio Grande do Sul, além de membro do Fórum da Saúde do Trabalhador, foi o primeiro palestrante da tarde deste sábado, 16, no segundo dia do IX Congresso Ordinário do SITRAEMG, que se realiza até este domingo, 17, no Hotel Fazenda Canto da Siriema, em Jaboticatubas, Região Metropolitana de Belo Horizonte.  O tema instigante, “Adoecimento do servidor público e teletrabalho”, e a competência do profissional depois de longa experiência acumulada em saúde do trabalhador, foram ingredientes suficientes para “espantarem” o inevitável sono de depois do almoço e atrair os servidores para as importantes informações contidas na exposição do palestrante. A mesa foi coordenada pela coordenadora do SITRAEMG Débora Melo Mansur, e composta, ainda, pelos filiados Cassius Drummond (presidente da Asttter), José Manoel Tofano (TRT/Alfenas) e Edna Assis (TRT/BH).

O médico gaúcho iniciou sua palestra ponderando que a tecnologia tem seu charme, pois oferece conforto, informação, lazer, saúde, alimentação, educação e aumento da expectativa de vida. Por outro lado, ela também merece muitos cuidados, pois traz uma série de transtornos para as pessoas. Para exemplificar sua preocupação, ele exibiu números de pesquisas recentes realizadas pelo Sintrajufe/RS, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, junto aos servidores do Judiciário Federal (Justiças do Trabalho, Eleitoral, Federal e Militar) daquele estado, sobre a influência do teletrabalho na saúde daqueles servidores.

As pesquisas foram realizadas em 2008 e 2011 (veja slides) mostraram altos índices de incidência de doenças decorrentes da exposição excessiva dos olhos à luz do computador (dor e ardência, ressecamento e cansaço da vista, além de embaralhamento e desfoque), deficiências osteomusculares (problemas no pescoço, costas, ombros, braços e pernas) além de sofrimentos de ordem mental, que os levaram a recorrerem a antidepressivos, ansiolíticos, remédios para dormir, fisioterapia e outros tipos de tratamentos. Mais grave é que, conforme detectado pelas pesquisas, ouve um crescimento significativo dessa incidência de doenças e a busca de tratamentos.

Embora reconhecendo as vantagens do teletrabalho, o médico apontou também as desvantagens dele decorrentes, tanto para a sociedade (exposição aos incômodos dos deslocamentos e redução de custos versus exclusão social e exacerbação do individualismo, por exemplo) quanto para as instituições (redução de custos, baixos salários, menor risco de conflitos e aborrecimentos com empregados versus menos motivação, maiores riscos de deslealdade e ausência do coletivo) ou para os empregados (menos gastos com alimentação, vestimenta e locomoção, e mais independência versus aumento do desemprego, sedentarismo, isolamento social e solidão aceita e ampliada).

Segundo o médico, há poucos estudos a respeito do teletrabalho. Mas no Judiciário apurou-se, por exemplo, que entre os oficiais de justiça existe um sentimento de falta de reconhecimento, tanto por parte dos magistrados quanto pelos demais servidores. Por traz do teletrabalho, evidencia-se a lógica da acumulação excessiva do capital, que torna possível, na maioria das vezes, graças à prática do trabalho escravo, da exclusão cada vez maior dos cidadãos do mercado de trabalho e das péssimas condições de trabalho enfrentadas pelo trabalhador.

A pesquisa de 2011, segundo o palestrante, ainda não foi levada às administrações dos tribunais. Mas a de 2008 foi apresentada e já rendeu alguns frutos, como, por exemplo, a criação de uma comissão de trabalho no TRF do Rio Grande do Sul. O médico conclui sua mensagem com uma frase do filósofo e cientista político italiano Antônio Gramsci que resume bem a importância da convivência social e coletiva no ambiente do trabalho: “Todos os homens do mundo na medida em que se unem entre si em sociedade, trabalham, lutam e melhoram a si mesmos”.

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