Sitraemg debate racismo e discriminação com a categoria e a comunidade Quilombola dos Arturos

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O Sitraemg promoveu, no domingo (21), uma visita à Comunidade Quilombola dos Arturos, em Contagem, para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra. O evento reuniu membros da direção do Sitraemg, filiados e filiadas e membros da comunidade.

A data é comemorada oficialmente no dia 20, para rememorar a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Zumbi é símbolo de resistência do povo negro na luta contra o racismo e por sua liderança no Quilombo dos Palmares.

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O evento começou com uma roda de conversa, que debateu o racismo em suas mais variadas formas. Logo depois houve apresentação do grupo artístico Arturos Filhos de Zâmbi, que é composto por integrantes da comunidade. O grupo tocou também junto com o grupo de percussão do Sitraemg, que acompanha os desfiles de carnaval promovidos pela entidade. E as coordenadoras Rosimare Petitjean, Mariza Campos Tomaz e Luciana Tavares, além do filiado Henrique Olegário, improvisaram nos instrumentos.

Galeria de fotos:

Visita à Comunidade dos Arturos: Dia da Consciência Negra

Durante todo o dia, as mulheres puderam cuidar dos cabelos, com cabelereiras locais, e quem quis pôde fazer compras na feira de artesanatos produzidos no local. Foi encerrado com um almoço, feito por mulheres da comunidade, com comidas típicas africanas e da época das senzalas.

Vídeo: grupo de percussão do Sitraemg e Filhos de Zambi tocam juntos no evento

Roda de Conversa

Na ampla roda de conversa que abriu o evento, o coordenador geral do Sitraemg Paulo José da Silva citou dois exemplos que reforçam o histórico de discriminação sofrida pelos negros.

Disse que conheceu um único juiz negro, na Justiça Trabalhista de Contagem. Isso acontece porque, segundo ele, se para ser aprovado no concurso para o cargo já é difícil, para o negro a dificuldade é muito maior, tendo em vista a dificuldade de ter acesso a um ensino de qualidade e alimentação adequada. Talvez por isso, na sua avaliação, haja poucos magistrados negros no judiciário brasileiro.

O outro exemplo relatado por ele é uma história mostrada no filme Amstad (1997). Dirigido por Steven Spielberg, o filme narra uma disputa sobre um navio de escravos que se revoltam, em alto mar, contra seus captores e é ancorado em solo americano. O coordenador se disse indignado com o tratamento dado aos negros, como propriedade, e sugeriu a todos assistirem ao filme e fazerem uma reflexão.

“Temos que conversar, temos que debater, temos que lutar”, conclamou o coordenador geral.

O coordenador Alexandre Magnus destacou a iniciativa do sindicato de promover a visita à comunidade, e ressaltou a importância da força de resistência dos negros. Ele lembrou que o Sitraemg participa de todas essas lutas no Congresso Nacional, em defesa dos direitos das mulheres, dos negros, dos índios, de todas as minorias.

A também coordenadora Rosimare Petitjean destacou que a luta deve acontecer em todos os espaços, incluindo dentro dos tribunais.

Ela lembrou que o Comitê de Ética e Integridade do TRT-3 sequer discute os casos de assédio moral no âmbito da Justiça Trabalhista: “E o mesmo ocorre com a discriminação. É como se ela não existisse no tribunal”, disse Rosimare.

Ela reforçou que a direção do sindicato está atenta a esses problemas. “Nos mantemos abertos para o diálogo e o enfrentamento e informamos que os filiados podem nos procurar”, afirmou Rosimare, que esteve no evento acompanhada da mãe, dona Paulina, de 88 anos.

O coordenador David Landau destacou o papel importante da comunidade dos Arturos como um dos principais locais de expressão cultural da região.

“Hoje estou podendo conhecer um pouco mais da minha história”, disse a coordenadora Marisa Campos Tomaz. “A gente sofre na pele o racismo”, pontuou.

O filiado e membro do Conselho Fiscal do sindicato Célio Izidoro, responsável pela idealização da parceria da comunidade dos Arturos com o Sitraemg, lamentou que a história do negro tenha que ser recontada nessa interminável luta contra a discriminação.

“Dizer que não existe racismo é pura falácia. Tem racismo de pele, racismo estrutural, inclusive dentro do local de trabalho”, denunciou. “Temos que nos organizar pela base, pelo povo pobre. Temos que mostrar a nossa sensibilidade e lutar através do diálogo”, convidou.

O filiado Henrique Olegário Pacheco, acompanhado da esposa e da filha, contou que sua enteada estuda como bolsista em um colégio famoso de Belo Horizonte. Ele disse ter se espantando quando ela contou que a instituição criou uma sala só para os bolsistas. “Isso tem que acabar. Basta de racismo. Basta de conceitos equivocados”, defendeu.

José Guilherme, representando a rádio Favela, de Belo Horizonte, destacou que a comunidade dos Arturos vem carregando uma simbologia de reafirmação de mais de 5 milhões de negros trazidos da África para o Brasil. Alguns milhões ficaram para trás, no meio do caminho da exploração e da violência.

Também esteve presente a coordenadora do Sitraemg Luciana Taveras. A visita à comunidade contou com a colaboração do filiado Carlos Nazareno, o Cabeça, servidor da Justiça Trabalhista de Contagem.

História de construção e luta da comunidade

A visita do Sitraemg foi recepcionada pelo vice-presidente da comunidade, Jorge Antônio dos Santos, que contou a história da comunidade.

Segundo disse, ela descende de Camilo Silvério da Silva, um ex-escravo que chegou ao Brasil em meados do século XIX. Deportado para Minas Gerais, Camilo foi submetido ao trabalho forçado como tropeiro na lavoura, onde hoje é o município de Esmeraldas. Casou-se com a escrava alforriada Felismiba Rita Cândida. Tiveram seis filhos.

Um desses filhos, Artur Camilo da Silva, casou-se com Conceição Natalícia, e o casal gerou 10 filhos. Em 1888, Artur Camilo doou o terreno onde está assentada a comunidade para a Irmandade Nossa Senhora do Rosário, de Contagem. A partir da década de 1930, descendentes da família começaram a se mudar para a propriedade e fundaram a Comunidade Quilombola dos Arturos.

Hoje são cerca de 600 moradores fixos. Mas descendentes de Arthur Camilo que moram em outras localidades também frequentam o local e participam das várias festividades ao longo do ano.

Jorge destacou o aumento atividades culturais promovidas pela comunidade: candongo, que é um ritual ao som dos três tambores, para rememorar a ancestralidade. Igualmente, o Congado, que acontece em maio e junto com as festividades de Nossa Senhora do Rosário, em outubro. Também tem o Batuque, a Festa do João do Mato e a Folia de Reis.

O vice-presidente destacou que o grupo Arturos Filhos de Zambi é formado por moradores e que recebe formação artístico-cultural e histórica. Desse modo, além de poderem expressar a história do povo negro, os moradores têm a autoestima valorizada.

Jorge também relatou que a comunidade tem a certificação como remanescente de Quilombo desde 2003. Em 2014, ela foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial, nos âmbitos do município e do estado. Graças a esse reconhecimento, conseguiu verba para reforma e ampliação do Centro Cultural onde promove eventos da comunidade.

Graciele Naiara da Silva, Aparecida Nascimento Luz e Maria Gorete Heredia Luz, outras integrantes da diretoria da comunidade, falaram sobre o trabalho que realizam. Elas trabalham a conscientização e a preservação da história do povo negro. Além disso, dedicam-se à valorização e à reafirmação da origem do povo negro, além da luta por direitos e por igualdade.

Também esteve presente no evento o atual patriarca da comunidade, José Bonifácio da Luz. Conhecido como Bengala. Ele substitui o antigo patriarca que faleceu no ano passado, poucos dias antes da matriarca, ambos por complicações da covid-19.

 

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