Frei Betto, que é escritor de mais de 50 livros e assessor de movimentos sociais, deu início à sua explanação dizendo que faria uma abordagem macro das duas conjunturas: nacional e internacional, contextualizando-as para que os presentes pudessem fazer uma reflexão posteriormente.
“Vivemos hoje uma mudança de época, o que só aconteceu há 500 anos”, disse o Frei, se referindo à transição do período medieval para o moderno. Segundo ele, a população mundial convive atualmente em meio a uma gigantesca turbulência, advinda desta mudança de época. “No período medieval, o saber estava com a igreja”, disse, destacando que, após o período da idade média, a igreja perde esse poder com o advento da modernidade que trouxe, sobretudo, a tecnologia, um dos principais fatores desse declive. Neste momento, o palestrante fez uma comparação com os sindicatos que, na época da ditadura militar, perdeu suas forças, devido às grandes repressões.
Falência da modernidade
A queda do Muro de Berlim, que abriu caminho para a reunificação alemã, momento também apontado como o fim da Guerra Fria, foi um exemplo citado por Frei Betto dessa falência. Exemplificando esse colapso no período médio, o escritor falou sobre a discrepância social, uma vez que o homem já pisou à Lua, porém não há comida para colocar na boca de quase 4 bilhões de pessoas no mundo. Citou ainda o avanço da ciência e tecnologia, ponderou, contudo, que se a pessoa não tem um plano de saúde, não tem garantido o seu atendimento em hospitais. “Avanços beneficiam apenas uma parcela da população”, comentou, lembrando que 80% da riqueza mundial, concentram-se em apenas 20% da população mundial.
Lucro e crises sociais
Segundo Frei Betto, a visão do homem pelo lucro levou a três grandes crises sociais, em 150 anos. 1) Revolução Industrial, que criou tamanha turbulência, reajustando o trabalho camponês pelo industrial, onde a máquina supera o trabalho humano e o capitalismo torna-se o sistema econômico vigorante. 2) Advento da Industrialização: o Fordismo, onde se cria mais do que a real necessidade da população – produção capitalista que leva à produção em massa para um consumo em massa, e 3) A Segunda Guerra Mundial que após, a população passa a viver num mundo bipolar – o capitalismo privatiza os bens materiais e socializa os bens simbólicos.
Revolução Cubana
O palestrante não deixou de citar a luta heroica do povo cubano frente à imposição americana. “A América Latina sempre foi área de reserva dos EUA”, comentou o palestrante, que, em seguida disse que devemos (todos nós) parabenizar Cuba pela sua autossubsistência, sobretudo na educação, alimentação e saúde. Citou ainda, alguns governos como o do Brasil, da Argentina e Peru, que são a favor do governo Cubano.
Conjuntura Nacional
Aqui, Frei Betto traz uma retrospectiva, em três ciclos, dos movimentos populares e sociais vividos pelo Brasil. Segundo ele, em 1964 a repressão é total desses movimentos, frente à ditadura militar. A única forma de organização aceita neste período foi a da igreja. “A ditadura não dava importância para as comunidades eclesiásticas, ela não era reprimida”, explicou. A partir dos anos 70 tem início os movimentos sociais e oposição sindical. E em 75, os movimentos popular e sindical ganham força e este último leva às greves entre os anos de 75 a 80. Após esse período, o surgimento de novos partidos e centrais como o PT e CUT, vem trazendo grande força, acumulada em 40 anos. Isso levou o movimento popular a cuidar da máquina pública brasileira – Lula presidente do Brasil.
Ilusão e equívoco do governo Lula
Na visão do palestrante, Lula, na era do seu mandato, é iludido ao achar que, chegar ao governo é, de fato, estar no poder, mas, segundo Frei Betto, nem sempre é assim. Muitas vezes acontece o inverso, quem governa nem sempre está no poder. Disse o palestrante, destacando que Lula cometeu um grande equívoco ao chegar ao poder. “Lula deveria ter se apoiado em que o apoiou (movimentos sociais e populares), porém se uniu às forças políticas no Congresso, desamparando assim, os movimentos sociais”, frisou, lembrando, ainda, que este governo (PT) há dez anos ajuda famílias – através de programas sociais -, porém, não cria políticas de reformas agrária e política, além de maiores investimentos na saúde e educação.
Desafios para os movimentos sociais e populares
Ao finalizar sua apresentação, antes do debate, o palestrante citou três grandes desafios a serem enfrentados pelos movimentos sociais e populares: 1) reelaborar um projeto de um Brasil que queremos; 2) Formação política das novas gerações; e 3) Ajudar aqueles que de nós precisam. “A luta de um é a luta de todos, ou não teremos futuro”, com esta frase, Frei Betto terminou sua explanação e foi muito aplaudido pelo plenário.