Rio veste vermelho, repudia ‘ditadura’ e faz sua maior passeata desde o Fora Collor

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Dezenas de milhares de manifestantes comparecem à passeata em Copacabana de apoio aos bombeiros e de repúdio às medidas do governador Sérgio Cabral 

A Rio vestiu vermelho para defender os bombeiros e repudiar o que os manifestantes chamaram de ‘ditadura’ do governador Sérgio Cabral Filho, no maior protesto no estado desde os atos que derrubaram o presidente Fernando Collor, quase 20 anos atrás. A passeata que percorreu a orla de Copacabana, na Zona Sul carioca, defendeu também os serviços públicos e os servidores. Categorias organizadas, como trabalhadores da educação estadual, em greve, da saúde e policiais civis e militares participaram e ajudaram a organizar o protesto.

Dezenas de milhares de pessoas tingiram a avenida Atlântica de vermelho. A dimensão do ato, que em alguns momentos se estendeu por mais de dois quilômetros e durou cerca de seis horas, torna difícil avaliar quantas pessoas aderiram. Muita gente esteve na manifestação por algum período mas a deixou antes dela ser concluída, no final da praia de Copacabana. As avaliações oscilam entre 30 mil pessoas, número de certo modo tímido para o que se viu nas ruas, a até exagerados 100 mil. Pelo o que a reportagem pode apurar, é razoável falar entre 50 e 60 mil pessoas.

De todo modo, o evento assumiu magnitude não vista no Rio para atos políticos desde as históricas passeatas que levaram ao impeachment de Collor, em 1992. O clima ‘vermelho’, cor que simboliza essa luta, já vinha contagiando o Rio desde o início da campanha pela libertação de 439 bombeiros presos após ocuparem o quartel central da corporação, no dia 3 de junho – eles foram soltos na véspera do ato, após uma semana encarcerados em quartéis. Número incalculável de carros e ônibus circulavam pelas ruas com fitas vermelhas amarradas às antenas ou retrovisores. Durante o ato, um jovem distribuía no meio da rua fitas para os veículos que passavam do lado da pista da av. Atlântica que ficou liberado ao trânsito – a todo instante motoristas paravam e pediam que ele amarrasse as fitas nos respectivos carros.

‘Cabral deu um tiro no pe´’

No domingo vermelho, muitos estenderam panos desta cor nas janelas dos apartamentos. Ainda com a passeata transcorrendo, restaurantes estavam cheios de clientes com camisetas rubras, assim como garçons com as fitas nos braços. Ciclistas as exibiam nos guidões das bicicletas. Um grupo de motoqueiros chamado ‘Távola Redonda’ aderiu e participou motorizado da passeata. Moradores que passeavam com cachorros pela orla amarraram as fitas nos pescoços dos animais.

Era cena comum ver manifestantes ou transeuntes falando ao celular com alguém dando a notícia da dimensão do ato. “Vim passear no calçadão e tive essa surpresa”, disse a aposentada Dinah Gonçalves, moradora do bairro, pouco depois de desligar o celular. “Não estava fazendo fé, tipo passeatinha de três gatos pingados… Cabral deu um tiro no próprio pé”, avaliou.

Muitas famílias foram juntas e devidamente avermelhadas ao protesto. “É lamentável o que Cabral fez com os bombeiros, com quem só está reivindicando um salário digno”, criticou a estudante de Pedagogia Andréia Alves Rocha Sabino, ao lado do marido Washington e dos filhos Mateus, de 14 anos, e Maria Clara, de cinco. “Ele [Cabral] não soube lidar com a situação, se eu fosse ele viria aqui e pediria desculpas”, disse o marido.

Greve e defesa dos serviços públicos

No ato de encerramento, no Posto 6, o cabo Benevenuto Daciolo, um dos líderes do movimento, disse que a categoria vai voltar ao trabalho, está disposta a dialogar com o governador, mas manterá as mobilizações – um novo protesto está convocado para quinta-feira (16). “A luta dos bombeiros também é [a luta] da saúde, da educação, da MP, da polícia civil, da população fluminense”, disse.  “Lembramos que os professores não são preguiçosos, que os médicos não são vagabundos e que os bombeiros não são covardes e nem vândalos”, disse, numa referência a termos já usados pelo governador para se referir a estas categorias.

Logo em seguinda, a professora Vera Nepomuceno, do sindicatos dos trabalhadores da Educação (Sepe-RJ), defendeu os serviços públicos, disse que os bombeiros foram vanguarda na mobilização e que ajudaram os trabalhadores da educação a entrar em greve. “Desta vez, vocês foram os professores”, disse.

Por Hélcio Duarte Filho, para o SITRAEMG

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